Cidades

A ordem agora é se reinventar

A crise do coronavírus atingiu vários setores, entre eles o alimentício. Na primeira matéria da série Força, Brasília, empresários do ramo de bares e restaurantes contam como estão inovando para driblar o fechamento dos comércios

Correio Braziliense
postado em 24/03/2020 04:06
Sócio do Southside, Gustavo Guedes teve de repensar o negócio para fazer entregas


Desde a divulgação do decreto do Governo do Distrito Federal (GDF), na última quinta-feira, que proíbe o funcionamento de bares e restaurantes, como uma das medidas de combate à disseminação do coronavírus (leia Decreto), o setor sofreu uma queda de 80% nas vendas. Antes disso, com a chegada da doença na capital, o ramo apresentou baixa de 70% do faturamento, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do DF (Abrasel-DF). No entanto, mesmo em frente à crise, muitos empresários buscam se reinventar para diminuir o impacto, seja por meio de delivery ou na oferta de serviços diferenciados.

Gustavo Guedes, um dos sócios do Southside, reinventou o atendimento aos clientes. “Estamos trabalhando no sistema de take out, em que as pessoas buscam os pedidos no nosso estabelecimento”, diz. A entrega, tanto de comidas, quanto de drinques, foi readaptada. “Alguns itens tiveram que sair do cardápio, pois perdem a qualidade quando embalados. Por exemplo, tivemos que trocar a espuma de gengibre do drink moscow mule para o refrigerante de gengibre, que fazemos na casa, para manter a qualidade do sabor”, revela.

O empreendedor também teve que ajustar alguns detalhes na produção e no atendimento. “Na bebida, o gelo é entregue à parte, para não a deixar aguada. Além disso, levamos um frasco com álcool até o cliente para usarmos depois de passar o cartão na maquininha”, conta Gustavo. A mudança, porém, foi automática. “Não tivemos dificuldades, pois já pensávamos em oferecer esse tipo de serviço”.

Dono do restaurante Parrilla Beer, Philipe Freitas começou o serviço de delivery na semana passada. Segundo ele, os pedidos estão aumentando. “Nos primeiros dias, entregamos entre 12 e 19 pratos. Agora estamos entregando quase 30 por dia”. O estabelecimento também implementou o sistema de drive-thru, em que o cliente não precisa sair do carro para buscar.

On-line

A chef de cozinha Ana Cláudia Morale também teve o trabalho prejudicado. “A maior parte das minhas atividades é focada em eventos e estão todos cancelados. Tivemos que nos reinventarmos com a crise”, disse. Para driblar a situação, ela vai começar a dar aulas de culinária para solteiros e recém-casados. “A ideia é divulgar e difundir um jeito fácil de as pessoas se alimentarem em casa, e é uma coisa que elas levam para vida, fazer as marmitas para almoçar, garantir uma comida sem conservante, sem tempero pronto, que é mais saudável”, explicou.

A ideia do curso veio dos clientes que seguem Ana Cláudia no Instagram. “Há um tempo, aumentei minha comunicação com meus clientes pelos stories do Instagram, e eles passaram a me pedir um curso. Com essa história do coronavírus, quando ninguém pode sair de casa, a gente se adaptou de modo super-rápido para tentar agregar na vida dessas pessoas, que estão presas em casa, tem tempo e precisam comer”, diz.

Especialista em empreendedorismo, Juliana Guimarães dá algumas dicas para que comerciantes se adaptem ao novo cenário. “Este é o momento de inovar. Então, a pessoa tem que avaliar o motivo que decidiu investir naquele negócio, e como pode ser um diferencial nesse momento. Vale conversar com todos, desde colaboradores a clientes, pedir sugestões e dicas. Depois é o momento de agir, mostrar que você se importa com as pessoas e oferecer um atendimento personalizado”, explica Juliana.

A especialista também aconselha ao empreendedor olhar com atenção para fatores de administração, como funcionários e quantidade de produtos. “Deve colocar tudo no papel e não ficar dependendo de achômetros”, indica.

* Estagiário sob supervisão de Adson Boaventura


11 mil
Bares e restaurantes no DF


110 mil
Funcionários do ramo no DF


Decreto 

No decreto divulgado no Diário Oficial do Distrito Federal da última quinta-feira, ficou determinada a suspensão, até 5 de abril, de comércios como bares, restaurantes, lojas de conveniência e afins. Também ficam sem funcionar boates, casas noturnas, atividades coletivas de cinema e teatro, academias de esporte de todas as modalidades, atendimento ao público em shoppings centers, 
feiras populares, parques e clubes recreativos.


Três perguntas para

Beto Pinheiro, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Distrito Federal (Abrasel-DF)

Como os empresários do ramo de bares e restaurantes 
podem se reinventar nesse momento de crise?
O impacto dessa crise está sendo violento em nosso setor, porque desde a divulgação do decreto do GDF, as vendas despencaram. A orientação é trabalhar com delivery e reduzir custos. O ramo alimentício deve ser incluído como serviço de utilidade pública, assim como o ramo da saúde, porque trata de pessoas que estão trabalhando enquanto boa parte da população está em casa de quarentena.

Como a Abrasel-DF tem ajudado nesse momento?
O momento, agora, é de proteger os pequenos empresários. Eles são a maior quantidade de empresas no país e têm um volume grande de gente envolvida. Muitas delas são empresas familiares, em  que o marido, a mulher e o filho trabalham juntos para sustentar a família. A gente tem que ajudar a superar a crise. Se o governo não fizer nada, até o final deste mês, serão milhões de desempregados no Brasil.

Qual é o papel do governo nesse processo?
A gente tem conversado com o governo sobre a necessidade de um auxílio às milhões de pessoas que trabalham nesse ramo. Em reunião com o ministro da Economia, foi prometido ao nosso setor uma ajuda com um salário mínimo por mês, durante esse período, para que eles tenham condição de alimentar a família e não ficarem desamparados. O governo federal ficou de soltar uma medida provisória até o fim do dia (ontem). Está todo mundo esperando e acreditando.
 
 

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