Correio Braziliense
postado em 30/03/2020 04:25
“O que você tem feito durante o isolamento social?”. Certamente, essa é uma das perguntas mais ouvidas nos últimos dias. Em tempos de coronavírus, o que vale é se reinventar e não ficar parado. Tem gente aproveitando o período para organizar a casa ou aprender algo novo e tem aqueles que estão se dedicando ao que mais gostam de fazer: jogar videogame. A quarentena desse grupo tem sido em frente à tela da TV ou do computador, colocando os jogos em dia e mantendo o contato com os amigos por meio da interatividade que a brincadeira proporciona.
Apaixonada por jogos virtuais desde a infância, a fotógrafa Elisa Borges, 29 anos, está aproveitando a quarentena jogando com amigos próximos e fazendo amizades na internet. “Meu irmão mais velho sempre foi da área da informática e eu fui me apegando a isso. Me afastei um pouco dos jogos quando entrei na faculdade de publicidade e propaganda. Precisava focar, mas depois voltei a jogar e estou há mais de um ano jogando todos os dias”, conta. Para ter um bom desempenho, ela montou um computador com configurações voltadas para jogos. É nele que a gamer passa boa parte do dia, quando não está trabalhando.
Como mora com a mãe, que tem 70 anos e integra o grupo de risco do novo coronavírus, Elisa precisou redobrar os cuidados dentro de casa. A ordem agora é seguir as orientações do Ministério da Saúde. “Faço de tudo para que ela não precise sair de casa. Eu desmarquei uma viagem que faria esta semana, ao Rio de Janeiro, para ficar com ela”, diz. Assim, a fotógrafa fica mais dentro de casa e com mais tempo para jogar. “Tem dias que a gente consegue fazer viradinha, que é quando começa a jogar às 18h e vai até 3h, 4h. É uma forma de distração e interatividade virtual para aliviar a tensão dos últimos tempos”, afirma.
Para o assistente executivo Caio César Andrade, 27, os jogos virtuais são uma forma de manter o contato com os amigos. “Não tinha o hábito. Comecei a jogar todos os dias só agora, na quarentena”, conta. O costume era mais comum na infância, quando jogava videogame sozinho. Hoje, depois de ver a interação entre colegas, ele entrou em jogos em grupo. “Prefiro os jogos de estratégia. Mas não sou atualizado. Ainda jogo uma versão da minha adolescência de World of Warcraft. Tem sido legal para matar tempo com alguns amigos e dar risadas”, afirma.
A ideia de Caio é manter-se conectado com os amigos com quem tem o costume de sair. “Jogamos basicamente os joguinhos de palavras ou adivinhações, só para reunir as pessoas e distrair a mente do que anda acontecendo. Fazíamos isso no bar, agora tem sido por videochamada ou por jogo mesmo. Te faz pensar até na importância de ter essas pessoas no dia a dia normal”, declara o assistente executivo.
Morador de Águas Claras, o analista de comércio exterior José Fernando Dantas, 24, começou a jogar virtualmente após a empresa na qual trabalha adotar o home office. O sucesso entre os amigos são jogos de interação como stop, conhecido também como adedanha, e jogos de tabuleiro. “É nossa forma de interagir durante a quarentena. Temos um grupo no WhatsApp com 20 pessoas e vamos criando as salas de jogos”, explica. Para ele, essa é uma boa opção para quem está em casa, principalmente aqueles que não podem trabalhar de casa. “Eles não têm muito o que fazer durante o dia. E esse é um momento de se desligar do que está acontecendo”, afirma.
Dinamismo
O professor de desenvolvimento de jogos digitais do Centro Universitário IESB, Elias Nascimento, ressalta que os jogos virtuais têm várias dinamizações, o que possibilita a participação de pessoas de todas as idades. “Tem os jogos de tabuleiro, que podem ser jogados em família. Tem os de controles, os de exercícios físicos. É algo fácil. Só precisa do consoles — o videogame — e uma TV ou um computador”, destaca.
Para a criançada em casa, sem aula, ele indica jogos do Super Nintendo ou aqueles que juntam atividades físicas e virtuais. Os adolescentes têm mais opções, como Playstation, Xbox e jogos de computador. “Os adultos também estão mais interessados, principalmente agora, que estão em casa. O público de 40, 50 anos tem procurado bastante explorar o mundo virtual”, diz Elias.
O professor orienta a quem deseja entrar no mundo dos games optar pelos jogos de computador, que costumam ter níveis mais fáceis e versões mais baratas ou até gratuitas. “É um ótimo entretenimento, todos deveriam experimentar porque exercita a mente. É um quebra-cabeça, com desafios. E é uma opção para quem está passando o dia assistindo à televisão. É um forma de escape e pode juntar a família que mora junto”, destaca.
Sozinho, não
Dono da Game On Board, uma empresa de jogos virtuais, Emmanuel Rezende, 37, criou uma rede de apoio às pessoas que se sentem sozinhas durante a quarentena. Desde 2015, toda segunda-feira ele realiza reuniões de gamers para disputas de jogos de tabuleiro. Agora, com o decreto do Governo do Distrito Federal, que proíbe aglomerações, os encontros têm sido virtuais. A novidade começou há uma semana. Para reforçar a ação, ele criou a hashtag #HomeAloneNOT — sozinho em casa, só que não — para que os jogadores não se sintam solitários.
A iniciativa deve durar até o fim da quarentena e ocorrerá todos os dias. “É um suporte que a gente quer dar para essas as pessoas não sofrerem de solidão ou depressão. Começamos com o apoio de gente de todo o mundo usando a hashtag. E queremos dar uma fortalecida”, destaca Rezende. A empresa já realizou 240 encontros e é considerada, segundo o empresário, o maior evento de jogos de tabuleiro ativo no Brasil.
- Alerta aos excessos
Especialistas alertam: é preciso ter cuidado com o excesso. As pedagogas Ana Paula de Mello e Magna Santos ressaltam que exagero pode causar ansiedade, tendinite e ressecamento nos olhos, além de outros danos à saúde do jogador. “O jogo virtual é uma excelente ferramenta para o desenvolvimento das crianças, muitas habilidades são desenvolvidas nos aspectos emocional, cognitivo e social. Porém, é importante que os pais estejam atentos aos excessos”, destaca Magna. Para Ana Paula, o ideal é estipular um horário para jogar. "No caso das crianças, o ideal é dividir o tempo com atividades pedagógicas, brinquedos e leitura de livros", pontua.
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