Camila Magalhães
postado em 31/03/2020 06:00 / atualizado em 21/09/2020 10:48
Colaboração é a palavra de ordem neste mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo (o tal mundo vuca) em que estamos vivendo. E, para que ela aconteça de fato, é preciso um olhar especial para as pessoas. Já faz algum tempo que essa cultura colaborativa está presente no dia a dia da Fundação Assis Chateaubriand (FAC), organização sem fins lucrativos ligada aos Diários Associados. “A gente já vinha repensando nossa forma de trabalho, nossas relações, nosso estilo de gestão e buscado fortalecer nosso time, buscando desenvolver competências novas. Temos trabalhado muito com o senso de autorresponsabilidade, autogestão, colaboração, empatia, tudo para buscar o bem-estar de cada um de nós. A gente sabe que é dessa forma que seremos mais produtivos para conseguir o que a gente quer no trabalho e em nossas vidas”, destaca Mariana Borges, superintendente executiva da FAC.
Mariana está à frente de um time de mais de 200 profissionais, que seguem conectados e produzindo a todo vapor em tempos de coronavírus. Ela acredita que essa mudança de cultura ajudou a equipe nessa transição para o trabalho remoto, motivada pela necessidade de isolamento social. “Nós já vínhamos nos preparando para um trabalho híbrido, parte remoto, parte presencial. O episódio do coronavírus foi apenas um gatilho para acelerar nossa experimentação. Entramos em home office antes de muita gente, ainda no dia 16 de março. Tem sido muito rico e bacana”, observa. Mariana conta ainda que algumas ferramentas online de comunicação e gestão já vinham sendo utilizadas pela equipe de projetos e têm facilitado a vida em tempos de isolamento social, como Slack, Trello e Google Hangout.
Diante desse novo cenário, destaca Mariana, é necessário um novo olhar sobre liderança: “Acho que o maior ensinamento deste momento é que a humanidade está em plena evolução. E nós, gestores de equipes, sejam elas públicas, privadas ou do terceiro setor, temos que entender cada vez mais o nosso papel como líderes. Eu acredito que ele deva ser muito mais próximo de um facilitador, estimulador do desenvolvimento individual, para a gente extrair o potencial máximo de cada integrante da equipe do que o papel de um orientador, um detentor de conhecimento, um tomador de decisão. É um momento muito forte para a gente desenvolver nossa capacidade de colaboração e cocriação, além de repensar as relações humanas, com a natureza e as econômicas.”
Direto da Itália
Outra experiência que contribuiu para essa transição mais leve da Fundação Assis Chateaubriand para o home office foi a de Mayane Burti, consultora que vem prestando serviços remotamente para a entidade desde fevereiro, quando se mudou para a Itália com a esposa e os dois filhos. A forma como Mayane vem conduzindo o trabalho inspira os colegas. “A minha adaptação ao trabalho remoto, que já era um plano para 2020, teve esse ingrediente a mais que foi o isolamento e não pude contar muito com o tempo em que as crianças estariam na escola. Mas trabalhar remotamente tem sido uma experiência fantástica para me desenvolver nos vários sentidos, do planejamento, organização, praticidade, de ser mais objetiva. Organizei horários para tudo e cada um tem consciência do seu papel em casa. Tem hora certa para as tarefas de casa, para brincar e para trabalhar. É muito bom flexibilizar o tempo e estar junto de quem a gente ama. Apesar de o trabalho remoto distanciar fisicamente os colegas, ele aproxima as pessoas nesse movimento colaborativo. Ainda tem um impacto social e ambiental muito grande, só pelo fato de não termos o deslocamento, esse tempo no trânsito.”
Corrente do bem pela saúde
Além da equipe de projetos, a FAC conta com uma equipe de gestão didático-pedagógica que inclui profissionais de educação física, pedagogos, psicólogos e assistentes sociais, que atendem mais de 15 mil pessoas de todas as idades em 7 dos 12 Centros Olímpicos e Paralímpicos (COP) do Distrito Federal, nas regiões de Ceilândia, Estrutural, Riacho Fundo, Samambaia, São Sebastião e Sobradinho. Com a suspensão temporária dos serviços de aulas esportivas, cursos de qualificação social, eventos comemorativos e esportivos e treinamento de rendimento do Futuro Campeão, a equipe se viu numa situação difícil. E foi daí que surgiu a ideia de engajar os professores para proporem desafios por vídeo aos seus alunos e familiares.
“Nossa equipe tem um espírito de inquietação muito forte. Somos estimulados a criar novas soluções, pensar em caminhos diferentes para cumprir nossa função social de transformar a vida das pessoas, levar mais cidadania, fazer o bem”, comentou Márcio Falcão, um dos gerentes de Centro Olímpico e Paralímpico pela FAC. “Por um lado, temos profissionais competentes e acostumados a levar exercício físico para a saúde. Por outro lado, temos nossos alunos confinados em casa, exercendo sua responsabilidade social, muito importante neste momento. Um terceiro ingrediente é a tecnologia. Juntando tudo isso, lançamos o desafio #copcontraovirus, com vídeos feitos pelos professores para estimularem o movimento em casa, respeitando as restrições de não sair de casa e pouco equipamento. Esse desafio também se estendeu para a nossa equipe de projetos, que não poderia ficar parada. Lancei desafios diários no WhatsApp, inserindo a atividade física na rotina de casa, tudo isso com a minha filha de 2 anos participando junto. Para mim, também tem sido uma forma leve de encarar tudo isso”, ressaltou.
Criatividade solta
Eduardo José Torres, professor do COP de Ceilândia - Parque da Vaquejada, propôs a simulação de movimentos que poderiam ser feitos por crianças em uma piscina, só que utilizando uma bacia: fazendo bolhas com a boca, brincando com balões e até com uma garrafa de plástico. Ele também estimulou brincadeiras de amarelinha e boliche com garrafas pet. Já a professora Suellen Sousa, do COP São Sebastião, estimulou a criação de barraquinhas com cadeiras e um lençol, além de circuitos em casa, utilizando corda, barbante ou fita crepe.
A coordenadora de pessoas com deficiência do COP de Ceilândia - Setor O, Márcia Nascimento, saiu de sua zona de conforto, enfrentou a câmera e fez propostas diferentes para alunos andantes e para cadeirantes. Para os andantes, pediu que exercitassem o equilíbrio com um livro e uma garrafa plástica vazia sobre a cabeça, andando por obstáculos feitos com caixas de sapato. Para os cadeirantes, sugeriu erguer garrafas de óleo e pacotes de feijão, para fortalecimento da musculatura dos braços.
Reconhecimento regado a emoção
O que Márcia não esperava era um retorno tão positivo e emocionado dos alunos. Ela recebeu diversas mensagens de agradecimento, de alunos com limitações físicas que estavam parados e viram a real possibilidade de se movimentarem em casa. Um dos retornos que mais emocionou a professora foi o da aluna de hidroginástica Lidianne Lee de Azevedo Oliveira, 38 anos, moradora de Águas Lindas. Desde 2014, ela convive com uma doença que causa o atrofiamento de várias partes de seu corpo e a impede de andar durante as crises. Por conta dos medicamentos, ela engordou 40 kg, o que dificulta ainda mais as caminhadas. Entre as idas e vindas de internações, Lidianne ficou quatro meses no hospital e voltou para casa no final de fevereiro. Estava contente por voltar a andar, mas não conseguiu retornar ao Centro Olímpico e Paralímpico a tempo.
“Com o isolamento do coronavírus, acabei me acomodando e ficamos eu e o marido sedentários. Depois que a professora mandou o vídeo, percebi que eu realmente estava deprimida. Foi um tapa na minha cara. Uma pessoa de fora se preocupar com o outro, fazer um vídeo com tanto carinho. Ela se dedicou, colocou amor no que estava fazendo, desejando que aquilo fosse benefício para alguém. Os exercícios fizeram bem para o meu emocional. Teve resultado no meu humor, no relaxamento. E como consegui voltar a andar em casa, foi mais um motivo para eu fazer um vídeo e mostrar para ela. Foi uma superação total para mim. Fiz os exercícios entre a cama e o guarda-roupa, porque se eu caísse para qualquer um dos lados, não teria problema”, relatou Lidianne, que foi internada novamente na última sexta-feira com paralisia dos membros inferiores, mas já retornou para casa e recebeu os novos exercícios sugeridos pela professora Márcia, para movimentar os braços.
Cuidado com a saúde mental
Um outro aspecto identificado nessa quarentena foi a necessidade de se cuidar da saúde mental da própria equipe de funcionários da FAC e dos alunos dos COP. O planejamento desses desafios está sendo conduzido pelo psicopedagogo e gerente de Centro Olímpico e Paralímpico Ken Araújo, junto com psicólogas, pedagogas e assistentes sociais. “Nesse momento delicado que estamos vivenciando, é muito importante falar sobre nossas emoções, sentimentos, angústias e ansiedades, para que a gente consiga passar por essa crise da melhor forma possível. Criamos dicas para mostrar formas de como viver de uma maneira mais saudável, entendendo os sentimentos de agora e também para que a gente possa refletir sobre os aprendizados trazidos por essa nova realidade. Há desafios para as pessoas gerenciarem melhor seu tempo, direcionar melhor suas angústias, exercer a empatia e a compaixão com os outros, pensar no autocuidado. A dica agora é não entrar em pânico, mas usar esse momento como oportunidade de olhar para dentro de nós mesmos”, explicou Samara Amaral, psicóloga do COP Riacho Fundo I.
Ajudando empreendedores a enfrentar a crise
A Fundação Assis Chateaubriand também está dando uma forcinha para empreendedores que estão passando por dificuldades. Nos próximos dias, vários conteúdos e dicas serão postados nas redes sociais do programa Ei Comunidade de Empreendedorismo e Inovação: @ComunidadeEi.
Ficou curioso?
Para ver os desafios de exercícios físicos em casa e saúde mental, acesse o Centro Olímpico e Paralímpico DF ou o site .
Confira as dicas para empreendedores no Instagram @ComunidadeEi e no Canal Ei, no portal do Correio Braziliense. Para receber os conteúdos pelo WhatsApp, adicione o número (61) 3214-1059 em sua agenda e mande um Ei para entrar na lista de transmissão.
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