Correio Braziliense
postado em 01/04/2020 06:00
“Não há previsão”, “volte daqui a uma semana”, “estamos sem estoque”. Frases como essas foram ouvidas por diversas pessoas que procuraram a rede privada de saúde, nos últimos dias, em busca de vacina contra a gripe. Em tempos de restrições por causa da pandemia de coronavírus, a corrida para se imunizar contra doenças que podem agravar um quadro de Covid-19 tem sido cada vez maior, no Distrito Federal.
Mesmo com a 22ª Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza em andamento na rede pública, a procura por doses em laboratórios e clínicas particulares triplicou em alguns casos. E, com a alta demanda, veio a escassez. O Correio fez contato com diversos estabelecimentos privados, ontem. Todos estavam sem doses disponíveis desde a manhã até, pelo menos, as 17h. Comercializada, em média, a R$ 130, a vacina contra gripe virou artigo de luxo até para quem pode pagar.
O produtor de eventos Leandro Arruda Movilla, 34 anos, levou os pais, idosos, para serem vacinados na rede pública. No entanto, ele procurou a rede privada por não fazer parte de grupos prioritários da campanha do governo. Leandro, entretanto, voltou para casa sem ser imunizado. “Meus pais são mais velhos, têm mais de 60 anos. Então, levei-os ao posto de saúde. Eu fui a um laboratório hoje (ontem), só que tinha acabado. Eles falaram que chegaria uma remessa nova em 7 de abril.
Pediram para voltar depois. Já tem três anos que procuro a rede privada, porque é importante tomar a vacina. Eu sei que a da gripe não imuniza contra o coronavírus, mas estamos vivendo uma pandemia. Está todo mundo assustado, é preocupante. Há países em que a coisa está ainda mais séria. No Brasil, os casos vêm crescendo gradativamente. Para mim, tudo o que vem para somar está valendo”, diz o morador do Guará.
Laboratórios
Em todas as 16 unidades de uma das maiores redes de medicina diagnóstica do DF, as doses também estão em falta. Em nota, o grupo informou que a procura pela vacina da gripe foi três vezes maior do que no mesmo período do ano passado. “O primeiro lote da vacina da gripe já terminou. Um novo já foi solicitado aos laboratórios, mas ainda não há previsão de data de entrega”, diz o texto.
Para uma clínica no Setor Hospitalar Sul, a espera pelas remessas dura, pelo menos, uma semana. “A entrega atrasou. Fizemos um pedido e, até agora, não recebemos. Estava tudo certo para chegar na semana passada. Eles falam que vão conseguir atender a demanda, mas não dão uma data”, conta a administradora da clínica, Marama da Rocha Bomfim, 32.
De acordo com Marama, 9 mil doses foram solicitadas. No entanto, ela estima que o quantitativo que chegará ao estabelecimento será, ao menos, nove vezes menor. Segundo a administradora, a clínica teve um aumento de 70% nas procuras pela vacina contra a gripe, em relação ao ano passado.
Por meio de nota, a Associação Brasileira de Clínica de Vacinas (Abcvac) confirmou que a requisição surpreendeu o mercado e causou impacto no fornecimento. “A quantidade de doses que recebemos em um primeiro lote já esgotou rapidamente. Infelizmente, temos nove milhões de doses no mercado privado, o que é infinitamente inferior à quantidade necessária”, diz trecho do comunicado.
De acordo com a associação, a quantidade de doses produzidas aumentou em 1 milhão, comparado ao ano passado. No entanto, o escoamento tem sido mais rápido que a capacidade de reabastecimento. A previsão é que todas as doses sejam esgotadas e, ainda assim, parte da população não conseguirá se imunizar.
Procurado pela reportagem, a Sanofi Pasteur, uma das empresas responsáveis pela fabricação da vacina contra a gripe, limitou-se a dizer que a “companhia atua no combate à gripe no Brasil há mais de 20 anos e disponibiliza, anualmente, um número de doses para atender a demanda deste mercado, baseando-se, para isso, na experiência pregressa”.
A Abbott Laboratórios, que comercializa uma vacina trivalente e tetravalente contra o vírus influenza, também informou, por meio de nota, que os volumes de produção (assim como para a maioria da indústria farmacêutica) são baseados na demanda do ano anterior. “Neste momento, informamos que não atenderemos pedidos adicionais”, diz o texto.
Questionado, o Ministério da Saúde informou que não tem informações sobre vacinas na rede privada de saúde. Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) respondeu que faz a avaliação de segurança e eficácias das vacinas, mas não controla estoques.
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