Cidades

Projeto do HUB é exemplo de trabalho voluntário na confecção de máscaras

Projeto coordenado pelo Hospital Universitário de Brasília (HUB) conta com apoio de costureiras voluntárias na confecção de máscaras para profissionais de saúde e pacientes com suspeitas do novo coronavírus

Correio Braziliense
postado em 02/04/2020 06:00
Apesar do isolamento, Nathalia Braga (E) e Fabiola Fonseca encontraram uma forma de contribuirMinervino Júnior/CB. D. A. Press com o combate à Covid-19A falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) como máscaras cirúrgicas, luvas, toucas e álcool em gel é uma preocupação recorrente entre os profissionais que estão na linha de frente do combate à Covid-19. Um dos itens mais procurados é a máscara descartável, que precisa ser trocada constantemente. Diante da grande demanda e da necessidade de uma produção em larga escala, um grupo de costureiras se voluntariou para produzir esse material, que será doado a equipes médicas e pacientes. O projeto coordenado pelo Hospital Universitário de Brasília (HUB) conta com o apoio de mais de 100 pessoas, entre profissionais e cidadãos que estão dispostos a ajudar. 
 
De acordo com Fernanda da Rosa, coordenadora das atividades de voluntariado no HUB, a proposta cresceu e tomou uma proporção que ela não esperava. “Muitas pessoas nos procuraram querendo ajudar. A gente agradece demais. É muito bonito de se ver. Motiva a gente”, relata. Com a grande procura, foi organizado duas linhas de produção. Uma é voltada para a confecção de máscaras aos profissionais da saúde, seguindo as normas técnicas e recomendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Outro grupo é responsável pelo material doado aos acompanhantes e pacientes no quadro inicial de gripe, para evitar a contaminação no ambiente. Em uma semana, já foram produzidas cerca de 1,2 mil máscaras descartáveis. 

Para Fabiola Fonseca, 43 anos, a oportunidade de confeccionar as máscaras paras os profissionais de saúde é única. “É de uma importância significativa para mim. A gente sente a responsabilidade e o peso que isso agrega. Uma máscara pode salvar uma vida”, ressalta. Ela ficou sabendo do projeto em um grupo de costureiras, e logo se prontificou a ajudar. “Eu tenho um atelier onde fabrico uniformes e jalecos. Parei toda a minha produção para fazer as máscaras, pois sabia da necessidade desse material, que faz falta nos hospitais”, relata. Fabiola reuniu os filhos, e em três dias eles confeccionaram 300 unidades.

O processo contou com a orientação de profissionais do HUB, que enviaram um kit com o material necessário e o passo a passo para a produção das máscaras. Foram entregues às costureiras TNT (tecido não tecido), manta de SMS (que serve como filtro bactericida), elástico e linha. Também foram distribuídos álcool em gel 70%, máscaras e luvas para a higienização e cuidado no manuseio. “Esterilizei tudo e segui cada recomendação para garantir a eficácia das máscaras”, afirma Fabiola. 

 Para a costureira, essa foi a forma que ela encontrou de contribuir para o combate ao coronavírus. “Estou fazendo o que eu gostaria que fizesse comigo. Estamos vivendo uma situação muito complicada, mas para os profissionais que estão na linha de frente, a barra é mais pesada. Se a gente se juntar e cada um fizer um pouquinho, tudo dará certo no final”, pontua. “Há uma frase que minha filha falou para mim que me marcou muito: o falido se recupera, mas o falecido, não”, conta.

Motivação
 
Professora de terapia ocupacional e de corte e costura da Universidade de Brasília (UnB), Beatrice Xavier é uma das coordenadoras que estão em contato direto com as costureiras. Ela acredita que o trabalho é uma grande rede de solidariedade. E não apenas ajuda àqueles que estão precisando do material de proteção, como também serve de motivação para as pessoas em isolamento social, que estão com o tempo ocioso. “É uma forma de elas se ocuparem e preocuparem menos. Temos muitas senhoras que estão sem ter contato com a família, mas encontraram na confecção das máscaras uma forma de ajudar e ocupar a mente. E elas interagem entre si, no grupo de WhatsApp, com dicas sobre o que tem dado certo ou não”, explica Beatrice. 

 Nathalia Braga, 31, tem um ateliê onde dá aula de costura. Com o espaço fechado, ela encontrou uma forma de continuar produzindo no projeto de voluntariado do HUB. “Um jeito de fazer algo bom em um momento triste”, destaca. Inicialmente, ela produziu máscaras de tecidos com retalhos que tinha em casa e no espaço onde trabalha. “Olhei tutoriais na internet e comecei a confeccionar, mas não sabia para onde mandar. Entreguei algumas para parentes e agora estou nas minhas primeiras 20 máscaras dentro do projeto”, conta.

O projeto coordenado pelo HUB está com os grupos de costureiras completos. “De um dia para o outro, saltou de 27 voluntárias para 270. É um número muito grande de pessoas para a gente coordenar. Porém, quem quiser ajudar pode confeccionar o material em casa e entregar nos locais próximos de onde mora. Ou entrar em contato com as unidades de saúde”, explica Beatrice. Para auxiliar a produção no HUB, foi criada uma associação de voluntários, que tem recebido doações de matéria-prima e dinheiro. O contato é feito pelo telefone: 2028-5036.
 

Itens de proteção só em necessidade


É importante ressaltar, que as máscaras feitas de tecido como o tricoline, não protegem 100%. Segundo especialistas e infectologistas, o material não retém o novo coronavírus. Ele serve como uma barreira física para quem está resfriado ou gripado. No HUB, o material arrecadado está sendo utilizado para os acompanhantes e pacientes com síndrome gripal leve. Aos profissionais de saúde e nos casos suspeitos e confirmados da Covid-19, são ofertados as máscaras cirúrgicas descartáveis com filtro bactericida. 

A infectologista Valéria Paes orienta que a população não compre máscaras de forma desnecessária. “Se todo mundo comprar, mesmo sem ter necessidade, quem precisa não vai ter acesso. E isso atrapalha”, ressalta. De acordo com ela, a melhor forma de prevenção é ficar em casa e higienizar as mãos e objetos da forma correta. “A máscara por si só não protege. Porque se uma pessoa tosse ou espirra perto de quem está com a máscara, o vírus pode entrar em contato com os olhos, por exemplo. O ideal é que seja utilizado por pacientes e pelos profissionais que estão ali atuando de forma contínua que não podem adoecer”.

Valéria ainda alerta sobre os cuidados para a utilização das máscaras de tecido. “Elas podem dar uma falsa sensação de proteção. É preciso continuar com a assepsia das mãos. E não permanecer com a máscara durante muito tempo, pois ela fica úmida e vira um ambiente propício para o vírus”, recomenda. 
 
 
 
Doações em dinheiro
 
Secretaria de Saúde
Banco de Brasília (BRB)
Agência: 0100-7
Conta Corrente: 062.958-6
CNPJ: 00.394.684/0001-531
 
Contato: Comitê de Emergência Covid-19, 156. 

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