Cidades

Inauguração da Ponte JK: Trânsito desafogado

Depois de 911 dias de muita polêmica e suspeita de superfaturamento, a ponte JK será inaugurada amanhã com muita festa. Construção vai beneficiar 450 mil moradores do Lago Sul, do Paranoá e dos condomínios da região do Jardim Botânico

Correio Braziliense
postado em 04/04/2020 06:00

Esta matéria foi publicada originalmente na edição de 14 de dezembro de 2002 do Correio. Sua republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram.

 

Depois de 911 dias de muita polêmica e suspeita de superfaturamento, a ponte JK será inaugurada amanhã com muita festa. Construção vai beneficiar 450 mil moradores do Lago Sul, do Paranoá e dos condomínios da região do Jardim BotânicoMil e duzentos metros de ponte emolduram o quintal do empresário da construção civil Ronaldo Barros, morador da QL 26, do Lago Sul. A paisagem, que surgiu do nada e a contragosto do empresário, é hoje uma atração à parte em sua casa. De obra incômoda, foi elevada ao status de “monumento” pelo engenheiro. É assim que costuma se referir à ponte que será inaugurada amanhã sob as bênçãos do cardeal dom José Freire Falcão e o axé da cantora baiana Daniela Mercury. 

 

Exatos 911 dias separam a data em que governador Joaquim Roriz (PMDB) assinou a ordem de serviço do dia da inauguração. Nesse período, muita coisa mudou no quintal da família Barros. Logo no início da construção, a ponte que consumiu mais de 16 mil toneladas de aço não passava de um canteiro de obras a roubar da família o prazer de contemplar a paisagem natural. Mas o tempo e o trabalho de mais de de mil operários se encarregaram de mudar a imagem que os Barros faziam da ponte batizada de Juscelino Kubtschek.

 

“Não imaginava que ela ia ficar tão bonita. Só quando vi aqueles arcos tive noção de que se tratava de uma obra de arte”, felicita-se Ronaldo. São três arcos de 260 metros de curvatura que parecem costurar a ponte em zigue-zague, dando a ela uma suntuosidade artística. A pompa da construção acabou por transformar a ponte numa atração. 

 

Mas tanta beleza não saiu impune. O dinheiro gasto com a ponte rendeu muita polêmica durante sua construção. Inicialmente orçada em R$ 40 milhões, ela saltou para R$ 160 milhões em menos de quatro anos. 

 

A ponte JK, que interliga o final do Lago Sul ao Plano Piloto, foi idealizada para encurtar distâncias e acabar com congestionamentos. De quebra, supervalorizou os terrenos próximos dela. “Além da bela vista, vou ganhar comididade para ir ao trabalho”, comemora o empresário Ronaldo Bastos. Assim como ele, cerca de 450 mil moradores do Lago Sul, da cidade do Paranoá e dos condomínios da região do Jardim Botânico esperam ansiosamente a liberação da ponte. 

 

O novo acesso será uma economia de tempo e de dinheiro. A população que vai usar a ponte terá três pistas em cada um dos sentidos e mais dois passeios laterais, que encurtarão em pelo menos dez quilômetros o trajeto até o Plano Piloto. O Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) estima que diariamente 20 mil veículos atravessarão a ponte nos dois sentidos. “Mas é só uma previsão. Vamos analisar os primeiros dias de funcionamento para ter certeza de como ficará o tráfego”, diz Antônio Bonfim, diretor de Segurança do Detran. 

 

Trajetos mais curtos

Os motoristas serão poupados dos engarrafamentos comuns em horários de pico no acesso da ponte Costa e Silva. “Não vejo a hora dessa inauguração. Minha filha vai e volta várias vezes ao dia e perde muito tempo em congestionamentos”, afirma a espanhola Carmem Bou, que há 16 anos mora numa casa da QL 26, do Lago Sul. Acompanhada do neto Manoel Jimenez, 11, ela calcula quanto vai diminuir a distância entre sua casa e a dele. “Ele mora na 106 Norte, o que dá mais ou menos 23 quilômetros. Agora vai cair para 12 quilômetros”, diz Carmem. 

 

Como ela, Maria do Carmo Oliveira Menezes que mora perto da ponte também vai economizar tempo e dinheiro. “Vou quatro vezes ao Plano Piloto todos os dias. Às vezes, até mais. Sem congestionamento, gasto 20 minutos, mas dependendo do trânsito levo mais de 45 minutos”, conta Maria do Carmo. Na sua casa, seis carros, todos os dias, tomam o rumo do Plano Piloto. “É um gasto muito grande tempo e combustível”, lamenta. 

 

Parte do fluxo de carros que cruzar a ponte vai tomar como destino a Esplanada dos Ministérios. Outra parte terá como opção a Avenida das Nações, para a esquerda ou para a direita. Quando foi anunciada a construção da ponte, especialistas em patrimônio criticaram o projeto que fatalmente iria aumentar o tráfego na Esplanada - um dos cartões postais de Brasília, cidade considerada Patrimônio Mundial. Mas Antônio Bonfim, do Detran, acredita que haverá um equilíbrio no trânsito do local. “Pela manhã, o congestionamento na Esplanada se dá em sentido inverso ao do fluxo da ponte. À noite, isso se inverte”. 

 

Dificuldades

O engenheiro Hélcio Magela Ferreira, responsável pela obra, diz que a construção foi um desafio. “A cada etapa, a gente achava que seria a mais complicada. Mas o mais difícil foi a cravação das estacas, que exigiu muita improvisação para escavar o solo.” Durante as escavações, foram encontrados 13 tipos diferentes de solo, o que dificultou o trabalho. Antes mesmo de começar as obras, houve toda uma preparação. “Gastamos quatro meses e dez dias fazendo investigações, sondagens, levantamentos topográficos, implantação de canteiros e mobilização de equipamentos”. 

 

Depois de dois anos e meio de espera pela conclusão da obra, falta pouco para que motoristas possam usar o novo acesso. O tráfego de carros estará liberado na segunda-feira. Amanhã, o percurso só poderá ser feito a pé, pois o domingo será de festa sobre a ponte (leia programação abaixo). Embaixo dela, o movimento também será intenso por conta do grande número de embarcações que vão participar do evento. A Delegacia Fluvial de Brasília orienta que os navegantes respeitem a capacidade das embarcações e chequem equipamentos de segurança. 

 

Quanto ao empresário Ronaldo Barros, ele não precisará fazer esforço para participar da festa. Ele estará praticamente dentro da sua casa. “Alguns amigos já avisaram que vão vir para cá.”

 

Contabilidade sob suspeita 

Em outubro de 1998, a Terracap realizou um concurso para escolher o projeto da ponte. O preço foi limitado em R$ 40 milhões. A empresa carioca Projconsult venceu a concorrência. Cinco meses depois, já no governo de Joaquim Roriz (PMDB), a empresa atualizou os preços, a pedido do GDF. No edital de contratação da empresa, houve o primeiro salto: a ponte ficou orçada em R$ 76,5 milhões. Em abril de 2000, um consórcio formado pela brasiliense Via Engenharia - hoje, Via Dragados, e mineira Usiminas ganhou a obra com um orçamento de R$ 78,8 milhões. 

 

Em agosto de 2001 a ponte passou a ter seis faixas de rolamento, em vez de quatro, e o custo da obra subiu mais 25%, apesar das medidas de largura e comprimento não terem sido alterada. A Via Dragados justificou o aumento à necessidade de reforçar a estrutura da ponte para suportar o fluxo de carros nas seis pistas.

 

O Tribunal de Contas do DF estranhou a trajetória hiperbólica do preço abriu investigação.  relatório número 38/2001 concluiu que a multiplicação do valor foi por conta de um superfaturamento de até 600% nos preços de materiais e serviços cobrados pelo consórcio Via/Usiminas. 

 

O Ministério Público Federal pediu À Polícia Federal instauração de inquérito para investigar as irregularidades apontadas pelo TCDF. Mas a falta de comprovação do uso de verbas da União barrou a investigação. 

 

De acordo com o porta-voz do governador, Paulo Fona, o aumento do custo da ponte deveu-se a quatro fatores: mudanças no projeto original; profundidade do Lago Paranoá maior do que a esperada; construção de seis pistas em vez de quatro; variação cambial. “O custo final da ponte ficará em torno de R$ 160 milhões. Está mais do que provado de que não houve superfaturamento”, afirma o porta-voz. 

 

Progrmação

8h30: Bênção do cardeal

9h: Discursos, entrega de medalhas e descerramento de placa pelo governador

9h50: Queima de fogos

10h: Largada da corrida

10h15: Caminhado do governador, operários e autoridades

10h40: Bênção dos pastores

11h: Liberação para visitação de pedestres

15h: Início de desfile de carros antigos e passeio ciclístico

15h: Início do show com artistas da cidade

19h30: Orquestra Sinfônica

20h:  Acionamento das luzes da ponte

 

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