Cidades

Shoppings fazem acordo com funcionários e adiam cobrança de aluguéis

Setor importante para economia da cidade, shoppings centers fazem acordos com sindicatos dos funcionários e adiam cobrança de aluguéis. Enquanto os trabalhos não voltam à normalidade, redes sociais são aliadas no contato com os clientes

Correio Braziliense
postado em 04/04/2020 07:00
O Pátio Brasil está fechado há aproximadamente 15 dias. Apenas os serviços essenciais foram mantidosEles estavam sempre cheios, com pessoas subindo e descendo as escadas rolantes, olhando as vitrines das lojas ou comprando. Porém, há cerca de 15 dias, o cenário nos shoppings tem sido diferente. Em vez do vai e vem de clientes, portas fechadas e corredores vazios. São 20 empreendimentos do setor no Distrito Federal, segundo a Associação Brasileira de Shoppings Center (Abrasce). Os estabelecimentos também são responsáveis por mais de 31 mil empregos na capital. Com o comércio fechado, empresários do ramo recorrem às negociações e aos acordos trabalhistas para manterem as contas em dia. 

A paralisação dos trabalhos ocorreu aos poucos. A primeira ação do setor foi diminuir o horário de funcionamento até a publicação do decreto do governador Ibaneis Rocha (MDB) que cessou totalmente as atividades. O diretor de shopping do grupo Paulo Octávio, Edmar Barros, que responde pelo Taguatinga Shopping, Brasília Shopping, JK Shopping e Terraço Shopping, afirma que diante da situação, o fechamento das portas era algo esperado. “A gente já vinha negociando com fornecedores e sindicatos, para caso o fechamento acontecesse, tivéssemos a situação sob controle”, diz. 

As alternativas adotadas para não demitir funcionários foram discutidas e definidas por meio de acordos com os sindicatos. “Como não sabemos até quando vamos ficar sem funcionar, fizemos um acordo de suspender os contratos, mas continuamos pagando um percentual do salário, o vale-alimentação e o plano de saúde, com a garantia de não despedir ninguém”, explica Edmar. Com a redução dos gastos com pessoal e com os contratos dos fornecedores, foi possível diminuir também a taxa de condomínio dos shoppings — pagamento mensal cobrado dos lojistas para manutenção do espaço. A redução da taxa na empresa foi de 50%. 

No Pátio Brasil, apenas os serviços essenciais foram mantidos, como seguranças e trabalhos de manutenção do espaço. “Fizemos um acordo coletivo entre os sindicatos da categoria. Os funcionários que estão suspensos estão recebendo os salários parcialmente. Os que estão trabalhando estão em horário reduzido e também recebendo de forma parcial”, afirma o superintendente Renato Horne. Além das medidas para a redução dos impactos da crise, a empresa também tem arrecadado alimentos e itens de higiene para doações (ver Doações).

Alívio aos lojistas

No momento, os empreendimentos trabalham não só para diminuir os impactos no caixa, mas também para facilitar a vida dos lojistas. No Boulevard Shopping, por exemplo, a empresa adiou a cobrança dos aluguéis das lojas e do fundo de promoção até a reabertura do comércio, além de diminuir os encargos condominiais de março em 20%. O Conjunto Nacional segue no mesmo caminho: postergou a cobrança de aluguel do mês de março e está adotando medidas que diminuam os custos de condomínio e do fundo de promoção. O shopping ainda esclareceu, por meio de nota, que vai oferecer desconto especial àqueles que mantiverem as contas pagas. Além disso, férias e bancos de hora foram outros instrumentos usados nesse período em relação aos funcionários. O home office também foi adotado. 

As medidas seguem a orientação da Abrasce. “Junto ao nosso parceiro lojista, a gente tomou três atitudes: a primeira é sobre o fundo de promoção, a ideia é de que ele não seja cobrado nesse período; a segunda é sobre o condomínio, reduzi-lo o máximo possível, a média está sendo de 30% a 40% de desconto; a terceira diz respeito ao aluguel, o objetivo é não cobrá-lo agora em abril, e sim em outro momento no futuro”, cita o presidente da Abrasce, Glauco Humai. Juntas, as medidas correspondem a um investimento do setor de cerca de R$1 bilhão, em nível nacional, segundo Glauco. “A gente tem procurado um diálogo com o poder público para solicitar a postergação de impostos, a isenção de alguns tributos e redução de custo com energia”, completa. 

Mobilização nas redes

Enquanto os shoppings não podem abrir as portas, as empresas se mantêm ativas nas redes sociais e por meio campanhas de combate ao coronavírus. A equipe de marketing do Taguatinga Shopping produz conteúdos nas redes sociais para entreter as pessoas e as motivarem a ficar em casa. “A gente precisou se reinventar, principalmente a nossa forma de conteúdo nas redes sociais. Entendemos que o momento é de desacelerar, de olhar mais para sua casa”, ressalta a gerente de marketing Maíra Garcia. A iniciativa também serviu para manter contato com os clientes. “Como o shopping continua fechado, a gente precisa manter a rotina, as nossas conversas. Pretendemos deixar a quarentena mais leve, proporcionando bons momentos”, acrescenta. 

A mesma medida foi adotada pelo Park Shopping, o Brasília Shopping, e o Terraço. Receitas, filmes, exercícios e atividades lúdicas são alguns dos conteúdos disponibilizados aos seguidores. O Conjunto Nacional apostou em uma campanha pedindo para os seguidores postarem fotos de abraços virtuais, mantendo o otimismo em meio à pandemia.

Doações


O shopping Pátio Brasil está arrecadando doações de itens de higiene — luvas, álcool em gel e máscaras — e alimentos. A ação é uma parceria entre a empresa, a Secretária de Saúde, o Serviço Social do Comércio do Distrito Federal (Sesc) e a Federação de Comércio de Bens, Serviço e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio). Os produtos devem ser entregues entre 12h e 20h, em uma caixa, identificada e disponível na entrada do shopping. Os itens serão destinados à Secretaria de Saúde e ao Sesc, que farão a distribuição ao público-alvo. 

Três perguntas para Ciro de Almeida, economista e sócio da G2W Investimentos

Qual a importância dos shoppings para a economia da cidade?
O shopping tem uma relevância muito grande no comércio e na atividade econômica. As lojas de rua diminuíram com o tempo, e os shoppings vêm concentrando desde atividades mais básicas até lojas mais sofisticadas e restaurantes. Temos também a capacidade de empregabilidade do setor. Eles concentram uma grande quantidade de empregos, de geração de renda, um fluxo de pessoas muito grande, além da variedade de produtos oferecidos em um único lugar. Hoje, temos até supermercados dentro dos shoppings. 

Como o senhor analisa as medidas adotadas pelo setor?
Essas são as medidas principais, mas também é preciso buscar o apoio do governo. É importante manter o diálogo com o governo e com o Banco de Brasília (BRB). Ele deve participar desse caminho de reestruturação. É preciso facilitar o crédito e fazer com que ele chegue na ponta. Não adianta anunciar o incentivo, e quando o lojista, o empresário, for atrás ser barrado na burocracia.

É preciso olhar para frente, para o pós quarentena? 
Qual conselho o senhor daria para os empresários?
Eles precisam, nesse momento, entender todas as possibilidades de oferta de reestruturação do fluxo de caixa, da forma de se relacionar com os empregados, de buscar manter a empregabilidade dos funcionários. Buscar também pautar todas essa medidas que o governo está disponibilizando e não deixar tudo para quando acabar a quarentena. Trabalhar a capacidade de adaptar o seu negócio. É preciso trabalhar a proximidade do cliente, ficar atento aos hábitos de consumo. Aproveite a quarentena para fazer um estudo de comportamento dos clientes.

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