Cidades

Joaquim Cruz desabafa: "Quebro recordes e não tenho alimentação ideal"

Três anos antes de ganhar um ouro olímpico, o brasiliense Joaquim Cruz lamentava, em entrevista ao Correio, as dificuldades que enfrentava para ser um atleta de elite no Brasil

Correio Braziliense
postado em 05/04/2020 05:59
Esta matéria foi publicada originalmente na edição de 1º de julho de 1981 do Correio. Sua republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram.


O recordista sul-americano de atletismo, Joaquim Cruz, atualmente na Gama Filho, no Rio de Janeiro, disse ontem, em entrevista ao Correio Braziliense, que o maior problema para o desenvolvimento do atletismo brasileiro é “a falta de apoio das autoridades competentes”. E acrescentou: “Eu treino muito, consigo bater dois recordes sul-americanos e continuo tendo problemas de alimentação”. Joaquim Cruz, nascido há 18 anos em Brasília, e, hoje, uma das esperanças do atletismo nacional. Em apenas uma semana, bateu dois recordes, o de juvenis e da categoria de adultos, com a marca de 1.44.02 superando a marca anterior de Jim Hone, conseguida em 1968.

Desde 2ª feira na capital da República, Joaquim Cruz analisou a importância da conquista dos dois recordes, falou sobre os problemas do esporte brasileiro e da sua possível volta a Brasília para competir por um clube local.

Eis na íntegra a entrevista com Joaquim Cruz:

Joaquim Cruz, o que representa para você a quebra destes dois recordes sul americanos? 

Representa um esforço de vários anos, em que venho tentando me projetar no atletismo brasileiro. Graças ao meu empenho e ao apoio do meu treinador Luiz Alberto, consegui tudo isto.


Quem o está, realmente, apoiando atualmente dentro do Atletismo?

A universidade Gama Filha e a Coca-cola são as empresas que estão empenhadas em dar o que eu preciso.

O que você está recebendo da Gama Filho?

Da Gama Filho, só recebo bolsa de alimentação.


Quais os títulos que você ganhou, este ano, no atletismo?

Ganhei o Campeonato Intercontinental no México, nos 800 metros, batendo o recorde sul americano juvenil e adulto, além da marca mundial de juniors com o tempo de um minuto, 44 segundos e três décimos.

Você acredita que possa representar o Brasil nos Jogos Olímpicos de Los Angeles?

Com esta marca de 1'44''3 décimos, eu já atingi o índice para os Jogos Olímpicos de Los Angeles. Se a convocação fosse amanhã eu estaria incluído na lista.

Como está o atletismo brasileiro para você, atualmente?

Está melhorando, mas falta muita coisa ainda.

Falta o quê?

Falta um maior apoio das autoridades. Por exemplo, eu treino muito, consigo bater dois recordes sul-americanos e continuo tendo problemas de alimentação.

Que problema de alimentação? Falta de comida?

Não é que falte comida, mas sim alimentação ideal para que eu me recupere após os treinamentos.


Você faz seus treinamentos aqui em Brasília?

Sim, treino aqui em Brasília com meu técnico, Luís Alberto, e só viajo quando há competições, tudo por conta da Gama Filho.

Isto não é bom?

Não isto não é tudo, poderíamos dizer. O meu treinador é importante durante as minhas atuações. Estou tentando resolver esse problema junto aos diretores da Gama Filho. Luis Alberto, me dá mais confiança e sabe dos meus “macetes”. Com ele perto, sei que poderei render ainda mais.

Você quer voltar a competir por Brasília?

Gostaria muito, mas teria que haver uma firma que me patrocinasse e me desse todas as condições para conseguir ainda mais dentro do atletismo. Este ano, não dá mais para voltar, porque assinei um contrato com a Gama Filho, mas no ano que vem, se aparecer alguém, volto correndo para manter perto de mim a força que é o meu treinador Luís Alberto.


Você tem alguma mágoa de Brasília?

Não é bem mágoa, mas fiquei chateado por ninguém acreditar em mim. Recebi apoio da SEED - MEC, de muitos amigos, mas tive que ir para o Rio de Janeiro, para me projetar dentro do atletismo.


Você só volta para a Gama Filho, no Rio de Janeiro, se seus pais forem junto com você?

Não, isto não é verdade. Primeiro porque eu assinei um contrato até o final do ano com a universidade e não consta dele a ida de meus pais para o RJ. Agora, se é para eu ficar no Rio de Janeiro, vou exigir que meu treinador vá comigo aonde eu competir, além de outras coisas.


Qual a próxima competição da qual você tomará parte?

Será em Caracas, no próximo mês, onde serão selecionados os atletas sul-americanos que disputarão a Copa Mundial de Atletismo, marcada para a Itália no mês de setembro.

Página do Correio Braziliense de 1981 com entrevista com Joaquim Cruz

 

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