Cidades

Confirmação de diagnósticos

Correio Braziliense
postado em 05/04/2020 04:21


O coordenador de pesquisas do Sabin, Gustavo Barra, trabalha diariamente no processamento de exames para diagnosticar infecções pelo coronavírus. “A pandemia mudou totalmente nossas vidas”, relata o médico. A escassez dos exames é uma das maiores dificuldades. “Antes da pandemia, conseguimos adquirir uma quantidade boa de reagente para a realização dos testes. Mas esses exames vão acabar”, alerta.

A solução, portanto, seria obter um teste com resultado mais rápido, como o que foi criado nos Estados Unidos, que demora no máximo 15 minutos para dar a resposta. “Porém, estamos em uma disputa mundial. Outros países não vão querer vender para o Brasil, porque também precisam realizar os exames no máximo de pessoas”, explica.

A rotina intensa traz consequências na relação familiar. “Esses dias, minha filha perguntou se eu não faria quarentena”, ri o médico. “Mas este é o meu dever e tenho que dar o meu melhor ”, completa. “Acredito que ainda não chegamos ao pico da pandemia, mas sei que vamos passar por isso e tirar muitos aprendizados.”

Encarar o desconhecido
“O desconhecido dá muito medo. Vi colegas que não sabiam o que fazer, que se desesperaram. É da natureza humana. Como você reagiria na frente do leão em uma selva?” O questionamento do clínico geral Arthur*, que atua no Hran, ilustra a pressão a que todos os profissionais de saúde têm sido submetidos. “Hoje em dia, está mais tranquilo, conseguimos orientar melhor o corpo clínico”, relata.

Ali, conta o médico, vive-se um dia por vez. Nos últimos meses, ele deixou de calcular quantas horas tem trabalhado. O pensamento é de fazer tantos plantões quanto forem necessários. Pai de três filhos, não vê os dois mais novos há um mês. “Ainda bem que trabalho bastante para não pensar nisso”, diz, emocionado.

“Estamos fazendo tudo o que podemos, com o coração aberto, sem ter horário, sem ter restrição. Fico muito triste quando inventam mentiras, notícias falsas. Isso desanima, dá vontade de desistir. Errar, nós vamos, mas vamos pensar nisso depois que passar. Agora, nesse momento, estamos fazendo o melhor, sem tirar nem pôr.”

Apesar da fase difícil, as correntes de solidariedade e as homenagens têm estimulado as equipes. “Eu me emociono quando falo dessas coisas, porque vejo uma oportunidade de a gente fazer uma grande diferença. Fico feliz com as doações inesperadas, com as pessoas querendo ajudar. Quando estávamos nos formando, sabíamos que os recursos eram escassos, que teríamos que fazer muito com muito pouco, mas isso extrapola. Só consigo comparar com um cenário de guerra, e nunca imaginei isso”, finaliza.

* Nome fictício



Três perguntas para
Antonio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)

Por que precisamos falar sobre o impacto do novo coronavírus na saúde mental dos profissionais da saúde?
Falar da saúde mental de médicos e profissionais de saúde, neste momento, é imprescindível, já que eles estão no front, ajudando a salvar vidas. Estes profissionais, com certeza,  estão se sentindo cansados e estressados com o surgimento desta pandemia e, por isso, é importante que eles mantenham algumas estratégias já usadas anteriormente em períodos de estresse.

O que eles podem fazer para equilibrar as emoções e as preocupações?
Nessa hora, é importante cuidar para não sobrecarregar o capital mental, olhando para as questões que nos são importantes hoje, definindo o que será o alvo da nossa atenção. Durante o horário de trabalho, nos concentramos na atividade laboral. Entretanto, ao chegar em casa, buscamos nos desligar das preocupações de trabalho e preservar a nossa saúde mental. O primeiro passo é observar a higiene. Após este cuidado, é imprescindível se dedicar a atividades que não estejam relacionadas aos aspectos mais comuns do atendimento diário. Por exemplo, ficar com a família, brincar com os filhos, assistir a um filme ou ler um livro. Uma alimentação saudável e a constância na prática de exercícios físicos, mesmo em casa, também são fundamentais para proteger a saúde mental. Meditação e alongamento, exercícios de respiração, podem ajudar a diminuir o estresse e a carga negativa das atividades desenvolvidas ao longo do dia, preparando o profissional para uma boa noite de sono.

O isolamento social e a preocupação com parentes também atingem os profissionais da saúde. Como lidar com elas?
Temos que tratar deste período como sendo abrigo, não como isolamento ou confinamento. É importante pensar nessa terminologia de forma diferente, já que, em casa, nós estamos abrigados, cuidados, protegidos. Desta forma, compreender que a família está abrigada e protegida é fundamental para que consiga se dedicar à sua função, que, nesse momento, é primordial para a população. A pressão de estar no front existe, mas a satisfação de estar fazendo a diferença, de ajudar a população deve ser maior.




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