Cidades

GDF compra 150 mil testes para ampliar diagnóstico do coronavírus na cidade

Especialistas destacam a importância dos exames laboratoriais no combate à disseminação do novo coronavírus. Executivo local pretende fazer avaliação em massa na população do DF nesta semana e adquiriu 150 mil testes para intensificar as ações

Correio Braziliense
postado em 07/04/2020 06:00
Cerca de 1,2 mil testes são feitos por dia no DF atualmente. Objetivo é aumentar a verificação das pessoas para se ter mais segurança no momento em que a quarentena for afrouxadaRecomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das medidas fundamentais no combate ao novo coronavírus, os testes para a detecção da doença serão ampliados pelo Governo do Distrito Federal (GDF). A intenção é afinar a análise do quadro de propagação da Covid-19 na capital do país, e embasar as próximas decisões do Executivo local para controlar a epidemia. Especialistas destacam que a identificação dos pacientes infectados é essencial para um diagnóstico preciso da situação e para o isolamento dos casos de risco.

De acordo com o governador Ibaneis Rocha (MDB), atualmente, o DF faz de 1 mil a 1,2 mil exames por dia para detecção do novo coronavírus, no âmbito das redes pública e privada. A partir desta semana, no entanto, a determinação é aumentar a quantidade de avaliações. O GDF adquiriu 150 mil testes e prepara a compra de outros 150 mil para suprir a carência local.

“Queremos ampliar a quantidade de testes até para que tenhamos cada vez mais precisão em nossos números”, justificou Ibaneis, em entrevista ao programa CB.Poder, parceria do Correio com a TV Brasília. “Hoje, fazemos aqui, entre a rede pública e a rede privada, em torno de 1 mil a 1,2 mil testes diários, o que não é ruim. Estamos atendendo a todos que procuram, mas, como temos uma previsão de sair do pico dessa crise ali na segunda quinzena de maio, a ideia é ampliar a testagem para ter mais segurança no momento da liberação das atividades de comércio”, acrescentou.

Hoje, a prioridade para os testes no Distrito Federal são os profissionais de saúde que foram afastados com suspeita de Covid-19. “Isso para que a gente avalie se estão realmente infectados. Precisamos protegê-los, porque eles são o exército que está lidando com a população, e que vai tratar todos esses pacientes”, destacou o secretário-adjunto de atenção à Saúde do DF, Ricardo Tavares Mendes.

Além dos 150 mil comprados, o GDF recebeu 7 mil testes enviados pela União. “O Ministério da Saúde está tendo dificuldade com operador logístico, porque precisa distribuir esses testes para todas as unidades da Federação. Recebemos uma quantidade pequena considerando a população do DF, em torno de 7 mil testes. E existem critérios e protocolos definidos para o uso deles”, explica Tavares. Parte do material recebido, no entanto, não é capaz de identificar o estágio da doença, o que prejudica a avaliação.

Na rede pública, todos os resultados são processados dentro de um dia, assegura o subsecretário de Vigilância à Saúde no DF, Eduardo Hage. “Estamos contando com apoio da UnB (Universidade de Brasília), e não há nenhum estoque ficando para ser examinado. Ou seja, todo o material que chega ao Laboratório Central é processado em menos de 24 horas. Diferentemente do que temos observado em outros estados, não há retenção de amostras”, explica.

A rede particular também oferece, desde fevereiro, a possibilidade de testagem para o novo coronavírus no DF. O diretor técnico do laboratório Sabin, Rafael Jácomo, explica que, diante da demanda atual, os resultados podem levar cerca de dois dias para serem divulgados. “Não estamos fazendo testes nas nossas unidades, apenas dentro dos hospitais onde estamos e por atendimento domiciliar, com prazo de até um dia”, detalha. “A doença não é mais restrita a quem viajou ou teve contato com quem esteve fora (do país). Há transmissão comunitária. Por isso, todos os que têm sintomas devem fazer o teste, especialmente os com sinais de gravidade”, alerta.

Controle

O infectologista Werciley Júnior, chefe da Comissão de Controle de Infecção do Hospital Santa Lúcia, afirma que os testes contribuem para uma noção mais precisa da dimensão da epidemia, e ajudam a criar barreiras de proteção das equipes de saúde e da população. “Com esses dados, é possível saber quantas pessoas estão ou ficaram doentes e, a partir disso, avaliar detalhes, como a localização dos casos, que podem levar a outras medidas de bloqueio”, explica.

Ainda assim, Werciley frisa que os exames não mudam os procedimentos de terapia, e que pacientes continuam em tratamento se apresentarem sintomas graves, mesmo sem a confirmação da Covid-19. “Os testes têm falhas. Pode haver resultado falso. Então, o cuidado continua. Até por isso, o diagnóstico de coronavírus também precisa ser clínico e não só baseado nos exames”. O infectologista também acredita que não há testes suficientes para a população do DF. “Sabemos realmente o estado dos que estão internados em situação grave. Para esses, não falta teste, mas para a massa, sim. Isso é o que ocorre no mundo todo pelo consumo muito alto dos materiais necessários e pela escassez momentânea dos recursos”.

Para Claudio Maierovitch, médico sanitarista e coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Brasília, a iniciativa de compra de testes por parte do GDF é positiva devido à escassez na oferta de insumos. “Vemos o exemplo da compra que o Brasil fez da China, mas os Estados Unidos compraram à frente. Aconteceu com a França também. Então, tudo o que se refere a uma resposta contra o coronavírus tem apresentado instabilidade de fornecimento", comenta.

O pesquisador também destaca a necessidade de haver organização na área da economia, pois o cenário transcende o setor da saúde. “Não é ele que diz qual segmento vai funcionar ou não, que chama os fabricantes de máscaras, álcool em gel ou de equipamentos e insumos para ver de que forma eles podem apoiar a produção de mais. O DF tem uma fábrica social, por exemplo. Precisamos ver de que forma essas alternativas podem ajudar a suprir a necessidade dos serviços”, sugere Maierovitch.

Colaborou Caroline Cintra

Tipos de testes

PCR
É o teste mais usado atualmente para a Covid-19. O processo é feito por meio da análise de material genético. O RNA do vírus é isolado e transformado em DNA, que posteriormente é ampliado. Assim, é possível observar se há sinais do coronavírus nas amostras analisadas. É eficaz na fase precoce da doença.

Imunológico
Os testes rápidos são feitos a partir da análise dos anticorpos do paciente. Com isso, é possível avaliar se o sistema imunológico tem reagido no padrão esperado quando há a presença do vírus. O método é mais simples do que o PCR. No entanto, não é eficaz para detectar a doença precocemente e, por isso, pode apresentar resultados imprecisos se feito durante o estágio inicial.

Para saber mais

OMS recomenda testagem ampla

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou testagem em massa da população para o novo coronavírus. O diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que fazer exames no maior número possível de pessoas é fundamental para embasar as medidas de isolamento e identificar outros indivíduos com potencial para estarem contaminados. Um dos exemplos da eficácia da testagem é a Coreia do Sul. O país, com potencial tecnológico na saúde, investiu no método e conseguiu, com exames em milhões de pessoas, reduzir consideravelmente o número de mortes e de infectados.

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