Cidades

'Renegociar é a palavra-chave', afirma superintendente do Sebrae-DF

Em entrevista ao CB Poder, Valdir Oliveira avaliou o cenário econômico e dos microempresários diante da pandemia do novo coronavírus. Para ele, é preciso ter força, paciência e solidariedade neste momento de crise

A realidade dos microempresários diante das medidas de contenção à Covid-19 não é muito positiva. Com comércios fechados e negócios afetados, muitos empresários e trabalhadores temem as consequências da pandemia. Ontem, em entrevista ao programa CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília —, o superintendente do Sebrae/DF, Valdir Oliveira avaliou o cenário atual. De acordo com ele, essa fase vai passar e é preciso ter paciência e força. Valdir também fez um apelo para a população. “Quantas vezes pequenos empreendedores não entenderam a sua situação e venderam fiado, ajustaram condições para que você pudesse cuidar da sua família? Chegou a hora da solidariedade. A solidariedade é o melhor remédio para esse vírus”, expôs.

Na avaliação do Sebrae, como fica o desemprego?
Infelizmente o momento é muito ruim. É uma paralisia na economia que vai gerar um número de desempregados enorme. Podemos chegar a um índice que vai trazer sequelas sociais terríveis. Mas, também, temos um grande número de empreendedores que foram para o confinamento, e estão usando a criatividade para tentar fugir disso.

E em relação aos empresários do setor?
Muitas empresas baixaram as suas portas e o ciclo de vida delas acabou. Os proprietários, empresários e funcionários estão buscando uma forma de sobrevivência, mas a empresa já não existe mais. Então, o número de fechamento de estabelecimentos é muito elevado. É uma crise que não tem precedentes, a gente não consegue medir as consequências dela.

Quais são as queixas desses microempresários para vocês?
Todas as empresas estão desesperadas. A gente está vivendo um momento de medo. Medo de morrer, por conta da incerteza de um vírus maluco. Medo de perder o patrimônio que construiu ao longo da vida. Medo do desemprego, de perder o sustento da família. Imaginar um pai de família que não tem o sustento em casa é desesperador. Medo da impotência de cuidar dos entes queridos que estão ali em risco maior. Então, nós estamos vivendo no momento de medo, quando a gente vive um momento de medo, o que a gente precisa é de equilíbrio para não causar caos. Lamentavelmente, as autoridades federais acabam se contradizendo, dando sinais ruins que levam as pessoas ao caos, mas a gente tem que imaginar que isso tudo vai passar.

Como o Sebrae vai ajudar os empreendedores?
Nós temos dois momentos distintos. O momento do agora, do desespero. E o momento de nos preparamos para o futuro. As pessoas não podem perder a esperança, o mundo não acabou. Então, no primeiro instante, estamos em um grande movimento de aumentar o fundo de aval para que a gente possa fortalecer o processo de crédito para nossas empresas, porque, agora, o que elas precisam é de giro. Vamos dividir em dois grupos de empresas: as pequenas e as médias. As maiores têm patrimônio e condições de estrutura para fazer uma reengenharia do negócio.

Qual é o caminho para o microempresário?
Fizemos uma pesquisa recentemente que mostra que 89% das micro e pequenas empresas no Brasil e em Brasília reduziram o seu faturamento em 89%. Sendo que 81% desses negócios dizem que reduziu, acima de 40%, seu faturamento, ou seja, quebrou. Duas contas se mostram como sendo as mais problemáticas: os custos do aluguel e de pessoal. É importante olhar os seus custos fixos, renegociar é a palavra-chave. No caso do aluguel, procure negociar. Não pense em não pagar, porque isso vai voltar para você. E na questão de pessoal, o que recomendamos é evitar demissão. Porque a demissão traz um impacto imediato no seu caixa devido à verba indenizatória, e você pode precisar desse dinheiro. Daqui a dois ou três meses, quando isso tudo passar, você vai precisar desse funcionário que está qualificado, preparado e treinando.

Como será a participação do Sebrae?
A gente precisa ter recurso nas mãos das pessoas. Nós do Sebrae vamos ajudar com garantia de crédito. Vamos entrar com um fundo garantidor, robusto para dar ou facilitar o acesso ao crédito, principalmente dos micro e pequenos. Mas o que mais me preocupa não são eles, o que mais me preocupa são microempresários que faturam até R$ 200 mil no ano. São empresas familiares que tem ali marido, mulher, filho e que estão espalhadas por todas as regiões administrativas. Essas não têm alternativas para o crédito. São pessoas que têm um ciclo diário. Elas já quebraram e não estão sendo enxergadas pelo Estado. Esse núcleo está abandonado e precisa de subvenção. Precisa, de forma urgente, de uma política que possa dar uma renda mínima empresarial para eles.

Como avalia a resposta do governo federal?
O governo federal demorou para agir e está demorando. Houve uma demora na reação, talvez não tenham compreendido a gravidade dessa crise. Ou, a formação de quem está conduzindo o país seja de uma lógica de mercado na qual há dificuldade quanto à intervenção social que o Estado deve fazer. O que a gente precisa é que esse dinheiro chegue nas mãos das pessoas porque, se chegar, a economia das nossas regiões administrativas tem vida própria. Se você pegar recursos e colocar nas mãos das pessoas, pode ter certeza que esta atividade vai dar frutos, porque se renova. Eles vão conseguir comprar uma marmita que o vizinho tá fazendo, e isso vai movimentar a economia nessas comunidades. O meu desespero é que estou vendo uma demora no socorro. As pessoas estão demorando e aí não existe quem segure uma comunidade na hora de um caos. Todo esse esforço que está sendo feito vai ser em vão, por isso que o governo federal precisa agir de forma rápida.

Sobre a discussão a economia ou a vida, existe um meio termo?
Essa briga não existe. Não tem sentido essa disputa que fizeram entre a vida e a economia, é inimaginável. Isso não existe. Quem em sã consciência pode imaginar que qualquer necessidade econômica pode se sobrepor à vida? Se a gente fizer isso, se a gente partir para isso, vamos perder a nossa essência. Nada pode ser mais importante do que a vida. Se abrir para a economia, a saúde vai piorar e nós vamos ter que retroceder em tudo que fizemos. Teremos uma quarentena mais rigorosa.

Liberar o FGTS pode ser uma boa alternativa?
Todo escoamento de dinheiro para a mão das pessoas é positivo. E quem tem o poder de fazer isso é governo federal. Os governos locais não têm instrumento para isso. Então, quem tem capacidade de endividamento, de geração de moeda ou de potencializar é o governo federal, é dele que a gente espera uma atitude nesse sentido.

Como o Sebrae vai ajudar os novos negócios que estão surgindo?
O mercado mudou, e as pessoas têm que se preparar para essa nova realidade porque, senão, esses pequenos empresários vão conseguir sobreviver à crise e vão morrer no novo mercado. O novo mercado está sendo pautado pelo novo hábito de consumo consolidado agora, neste instante. A gente já vinha com o movimento muito grande, principalmente das novas gerações, com o modelo de relacionamento diferenciado com cliente, por meio dos canais digitais. A gente tem que preparar os nossos pequenos empresários para esse novo mercado que estará esperando por eles quando tudo isso acabar.