Cidades

"Renegociar é a palavra-chave", afirma superintendente do Sebrae-DF

Em entrevista ao CB Poder, Valdir Oliveira avaliou o cenário econômico e dos microempresários diante da pandemia do novo coronavírus. Para ele, é preciso ter força, paciência e solidariedade neste momento de crise

Correio Braziliense
postado em 08/04/2020 06:00
A realidade dos microempresários diante das medidas de contenção à Covid-19 não é muito positiva. Com comércios fechados e negócios afetados, muitos empresários e trabalhadores temem as consequências da pandemia. Ontem, em entrevista ao programa CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília —, o superintendente do Sebrae/DF, Valdir Oliveira avaliou o cenário atual. De acordo com ele, essa fase vai passar e é preciso ter paciência e força. Valdir também fez um apelo para a população. “Quantas vezes pequenos empreendedores não entenderam a sua situação e venderam fiado, ajustaram condições para que você pudesse cuidar da sua família? Chegou a hora da solidariedade. A solidariedade é o melhor remédio para esse vírus”, expôs.

Na avaliação do Sebrae, como fica o desemprego?
Infelizmente o momento é muito ruim. É uma paralisia na economia que vai gerar um número de desempregados enorme. Podemos chegar a um índice que vai trazer sequelas sociais terríveis. Mas, também, temos um grande número de empreendedores que foram para o confinamento, e estão usando a criatividade para tentar fugir disso.

E em relação aos empresários do setor?
Muitas empresas baixaram as suas portas e o ciclo de vida delas acabou. Os proprietários, empresários e funcionários estão buscando uma forma de sobrevivência, mas a empresa já não existe mais. Então, o número de fechamento de estabelecimentos é muito elevado. É uma crise que não tem precedentes, a gente não consegue medir as consequências dela.

Quais são as queixas desses microempresários para vocês?
Todas as empresas estão desesperadas. A gente está vivendo um momento de medo. Medo de morrer, por conta da incerteza de um vírus maluco. Medo de perder o patrimônio que construiu ao longo da vida. Medo do desemprego, de perder o sustento da família. Imaginar um pai de família que não tem o sustento em casa é desesperador. Medo da impotência de cuidar dos entes queridos que estão ali em risco maior. Então, nós estamos vivendo no momento de medo, quando a gente vive um momento de medo, o que a gente precisa é de equilíbrio para não causar caos. Lamentavelmente, as autoridades federais acabam se contradizendo, dando sinais ruins que levam as pessoas ao caos, mas a gente tem que imaginar que isso tudo vai passar.

Como o Sebrae vai ajudar os empreendedores?
Nós temos dois momentos distintos. O momento do agora, do desespero. E o momento de nos preparamos para o futuro. As pessoas não podem perder a esperança, o mundo não acabou. Então, no primeiro instante, estamos em um grande movimento de aumentar o fundo de aval para que a gente possa fortalecer o processo de crédito para nossas empresas, porque, agora, o que elas precisam é de giro. Vamos dividir em dois grupos de empresas: as pequenas e as médias. As maiores têm patrimônio e condições de estrutura para fazer uma reengenharia do negócio.

Qual é o caminho para o microempresário?
Fizemos uma pesquisa recentemente que mostra que 89% das micro e pequenas empresas no Brasil e em Brasília reduziram o seu faturamento em 89%. Sendo que 81% desses negócios dizem que reduziu, acima de 40%, seu faturamento, ou seja, quebrou. Duas contas se mostram como sendo as mais problemáticas: os custos do aluguel e de pessoal. É importante olhar os seus custos fixos, renegociar é a palavra-chave. No caso do aluguel, procure negociar. Não pense em não pagar, porque isso vai voltar para você. E na questão de pessoal, o que recomendamos é evitar demissão. Porque a demissão traz um impacto imediato no seu caixa devido à verba indenizatória, e você pode precisar desse dinheiro. Daqui a dois ou três meses, quando isso tudo passar, você vai precisar desse funcionário que está qualificado, preparado e treinando.

Como será a participação do Sebrae?
A gente precisa ter recurso nas mãos das pessoas. Nós do Sebrae vamos ajudar com garantia de crédito. Vamos entrar com um fundo garantidor, robusto para dar ou facilitar o acesso ao crédito, principalmente dos micro e pequenos. Mas o que mais me preocupa não são eles, o que mais me preocupa são microempresários que faturam até R$ 200 mil no ano. São empresas familiares que tem ali marido, mulher, filho e que estão espalhadas por todas as regiões administrativas. Essas não têm alternativas para o crédito. São pessoas que têm um ciclo diário. Elas já quebraram e não estão sendo enxergadas pelo Estado. Esse núcleo está abandonado e precisa de subvenção. Precisa, de forma urgente, de uma política que possa dar uma renda mínima empresarial para eles.

Como avalia a resposta do governo federal?
O governo federal demorou para agir e está demorando. Houve uma demora na reação, talvez não tenham compreendido a gravidade dessa crise. Ou, a formação de quem está conduzindo o país seja de uma lógica de mercado na qual há dificuldade quanto à intervenção social que o Estado deve fazer. O que a gente precisa é que esse dinheiro chegue nas mãos das pessoas porque, se chegar, a economia das nossas regiões administrativas tem vida própria. Se você pegar recursos e colocar nas mãos das pessoas, pode ter certeza que esta atividade vai dar frutos, porque se renova. Eles vão conseguir comprar uma marmita que o vizinho tá fazendo, e isso vai movimentar a economia nessas comunidades. O meu desespero é que estou vendo uma demora no socorro. As pessoas estão demorando e aí não existe quem segure uma comunidade na hora de um caos. Todo esse esforço que está sendo feito vai ser em vão, por isso que o governo federal precisa agir de forma rápida.

Sobre a discussão a economia ou a vida, existe um meio termo?
Essa briga não existe. Não tem sentido essa disputa que fizeram entre a vida e a economia, é inimaginável. Isso não existe. Quem em sã consciência pode imaginar que qualquer necessidade econômica pode se sobrepor à vida? Se a gente fizer isso, se a gente partir para isso, vamos perder a nossa essência. Nada pode ser mais importante do que a vida. Se abrir para a economia, a saúde vai piorar e nós vamos ter que retroceder em tudo que fizemos. Teremos uma quarentena mais rigorosa.

Liberar o FGTS pode ser uma boa alternativa?
Todo escoamento de dinheiro para a mão das pessoas é positivo. E quem tem o poder de fazer isso é governo federal. Os governos locais não têm instrumento para isso. Então, quem tem capacidade de endividamento, de geração de moeda ou de potencializar é o governo federal, é dele que a gente espera uma atitude nesse sentido.

Como o Sebrae vai ajudar os novos negócios que estão surgindo?
O mercado mudou, e as pessoas têm que se preparar para essa nova realidade porque, senão, esses pequenos empresários vão conseguir sobreviver à crise e vão morrer no novo mercado. O novo mercado está sendo pautado pelo novo hábito de consumo consolidado agora, neste instante. A gente já vinha com o movimento muito grande, principalmente das novas gerações, com o modelo de relacionamento diferenciado com cliente, por meio dos canais digitais. A gente tem que preparar os nossos pequenos empresários para esse novo mercado que estará esperando por eles quando tudo isso acabar.
 
 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags