Correio Braziliense
postado em 08/04/2020 04:14
Novo decreto assinado, ontem, pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) flexibilizou medidas de contenção e permitiu a abertura de agências bancárias. Com isso, para instituições públicas e privadas, está autorizado o atendimento à população desde que respeite as recomendações, como horário de funcionamento e distância entre pessoas (leia No detalhe).
Entre as determinações para permitir o funcionamento das agências está a proibição de que pessoas dos grupos de riscos trabalhem. Além disso, os bancos terão que disponibilizar materiais de proteção — como máscaras e álcool em gel 70% — para funcionários e oferecer uma escala de revezamento para os profissionais. Ontem, o Distrito Federal chegou a 503 casos confirmados de coronavírus, com 12 mortes.
“Aos poucos, vamos autorizando a retomada das atividades. Mas com o alerta para que as agências tomem todas as precauções como a disponibilização de álcool em gel e o uso de máscaras”, disse o governador à imprensa.
Apesar da flexibilização das medidas de restrição, o infectologista Hemerson Luz, do Hospital das Forças Armadas (HFA) e do Hospital de Base, ressalta a importância de as pessoas manterem o isolamento social e só saírem de casa quando não houver outra alternativa. “Vamos entrar no pico da doença agora em abril e maio. O que se espera dessa fase é a aceleração descontrolada dos casos. Teremos o crescimento exponencial, em que a tendência é de que os casos dobrem a cada três dias”, destacou.
De acordo com o especialista, as medidas de isolamento no DF estão se mostrando eficazes, porque a capital está abaixo da linha de crescimento. “Essa doença se propaga muito rápido. Por enquanto, o aumento está sendo uniforme”, ponderou. O médico ainda explica que, se as pessoas seguirem as orientações dos órgãos de saúde, como sair de casa só quando necessário, manter o afastamento das pessoas e higienizar as mãos, pode ser que a capital mantenha a curva atual.
Hemerson ainda comentou que, caso o isolamento seja descumprido pela população, o DF pode ter uma situação semelhante à da Itália ou de Nova York, onde a rede de saúde não suportou os atendimentos, ou, no pior dos cenários, à do Equador, país em que o sistema legista não conseguiu dar conta da demanda e corpos começaram a ser deixados nas ruas. “Não temos como prever uma data para que essa situação acabe. A gente espera que a curva tenha uma inversão e que os números comecem a diminuir. Mas não podemos dizer quanto tempo vai demorar para que isso aconteça”, reforçou.
Na segunda-feira, a Secretaria de Saúde informou que o crescimento dos casos de Covid-19 na capital do país estava abaixo do esperado. A pasta reforçou que o distanciamento social e as medidas de contenção foram fundamentais para o cenário mais positivo do que o estimado. Portanto, a recomendação é de que a população continue a seguir as recomendações dadas pelo GDF e pelo Ministério da Saúde.
Legislativo
Em sessão extraordinária, realizada de forma remota ontem, os deputados distritais avaliaram projetos voltados ao combate da pandemia do novo coronavírus e ao apoio contra os danos causados pelo novo cenário na capital federal. A sessão, que começou às 15h, estendeu-se e avançou durante horas. Os parlamentares adiaram a proposta de redução das mensalidades escolares, que pode ser avaliada na tarde de hoje.
Um dos projetos aprovados em segundo turno, na sessão de ontem, é o que define a obrigatoriedade de que as unidades de saúde do Distrito Federal façam testes de verificação do coronavírus em todos os pacientes com suspeita da doença. A medida, se sancionada, vale para a rede pública e privada.
A intenção, segundo o distrital Leandro Grass (Rede), é evitar subnotificação de pacientes contaminados no DF. “Tenho recebido diversas notícias de que, em todo o Brasil, alguns pacientes com os sintomas faleceram e não foram testados, o que impede que o Estado obtenha um diagnóstico claro e completo do número de casos”, justifica o parlamentar.
“Esse projeto vem complementar a lógica que o próprio governo está adotando, que é muito semelhante ao protocolo de Singapura. O GDF está se espelhando nesse país, que, além de promover o isolamento social e as medidas de restrição, investiu em testagem em massa. É importante justamente para mantermos os casos reais isolados”, defendeu o parlamentar ao Correio.
Os distritais também deram sinal verde à proposta de Reginaldo Veras (PDT) que assegura gratuidade no sistema de transporte público aos profissionais da área de saúde do DF enquanto durar o estado de calamidade pública — aprovado na semana passada.
“Os profissionais da área da saúde são aqueles que estão na linha de frente no combate e tratamento das pessoas que buscam os serviços médicos. São heróis que não podem ficar em isolamento, se protegendo em casa, pois têm a nobre e árdua missão de cuidar da saúde da população”, afirmou o parlamentar na exposição de motivos.
Recuo
A Câmara recuou no projeto de lei que propunha a redução das mensalidades escolares durante o período da pandemia. O projeto inicial previa que o desconto fosse de no mínimo 30%, enquanto durasse a crise provocada pela doença e o consequente fechamento das escolas para as atividades letivas. O texto chegou a receber aval dos parlamentares em primeiro turno, na semana passada, e a intenção era de que fosse aprovado em caráter definitivo ontem.
“Considerando que as instituições de ensino estão com as despesas reduzidas com itens como a manutenção do espaço, água, energia e alimentação de seus funcionários e alunos (que estudavam em período integral), por estarem suspensas as atividades presenciais, é justo que os estudantes e/ou seus responsáveis financeiros, que também tiveram seus rendimentos afetados, tenham a sua mensalidade reduzida”, diz trecho da justificativa do texto original, do presidente da Casa, Rafael Prudente (MDB). O deputado Daniel Donizet (PSDB) era coautor da proposta.
A ideia, no entanto, gerou resistência de empresários e dos sindicatos do setor. Afirmaram que o desconto para todos causaria danos graves à saúde financeira dos colégios e instituições afetadas. Por isso, os parlamentares decidiram adiar a avaliação da iniciativa. Ontem, uma série de reuniões foi feita para tratar do assunto. Há a expectativa de que um novo texto, com base nas ponderações apresentadas e com auxílio da Defensoria Pública e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no DF, seja avaliado na sessão extraordinária de hoje.
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