Cidades

Farsa terrorista assusta a capital

Agricultor faz refém em hotel, ameaça explodir falsa bomba e mobiliza policiais. Tudo em nome de reivindicações genéricas

Correio Braziliense
postado em 09/04/2020 06:00
Esta matéria foi publicada originalmente na edição de 30 de setembro de 2014 do Correio. Sua republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram.

Homem mantém refém em varanda de hotel em BrasíliaDurante sete horas, as forças de segurança da capital tiveram de lidar com uma ameaça terrorista. Acostumados com sequestros clássicos, em que o autor normalmente é um assaltante, os policiais negociaram com um homem que trazia uma lista de reivindicações genéricas e prometia explodir um funcionário do St. Peter Hotel, no Setor Hoteleiro Sul, e tudo a sua volta.

Antes das 9h, os primeiros agentes cercaram o local. Poucos minutos depois, um exército de quase 200 policiais militares, civis e federais, além de servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), se posicionou em frente ao estabelecimento situado no coração da capital, a menos de 2km do Congresso Nacional. A tensão atravessou a manhã e só terminou sete horas depois, sem nenhum ferido.

Ao conseguir a rendição do acusado, a equipe de negociadores descobriu que o sequestrador Jac Sousa dos Santos, 30 anos, portava armas falsas: a pistola era de brinquedo. E o colete com bananas de dinamite amarrado à vítima, o mensageiro do hotel José Aírton de Sousa, 50 anos, não passava de uma engenhoca produzida com placa de computador, canos de PVC e fios.

Embora a ameaça tenha sido um blefe, o pânico e o medo se mostraram reais. O país acompanhou o drama do funcionário mantido refém. A repercussão alcançou a mídia internacional. Portais dos mais importantes veículos de comunicação do mundo trataram com destaque a notícia do sequestro e da ameaça de bomba na capital do Brasil.

As horas se passavam e, à medida que as informações chegavam, mais tensa ficava a situação. No início, a polícia isolou uma área de 30m, mas diante das sucessivas ameaças de Jac de acionar as supostas dinamites, o perímetro de segurança foi ampliado para 100m. Ex-secretário de Agricultura e Juventude do pequeno município de Combinado, no Tocantins, Jac se mostrou disposto a amedrontar os moradores do Distrito Federal.

Além de manter sob a mira de uma pistola falsa o mensageiro do St. Peter, o suspeito contou ter deixado outros dois supostos artefatos na Rodoviária do Plano Piloto e no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, alterando a rotina de pontos movimentados de Brasília. No terminal aeroportuário, militares do esquadrão antibomba detonaram uma caixa abandonada, que, na verdade, continha um jogo de peças de xadrez.

Jac começou a colocar em prática o plano de aterrorizar Brasília na última sexta-feira, quando escreveu três cartas: uma para a mãe; outra para o tio; e uma terceira que ficou na casa dele. Numa delas, pediu desculpas pelo “ato trágico” que cometeria, mas “após a tempestade passar, tudo melhoraria”. De carro, saiu de Combinado, onde mora, e viajou sete horas até chegar a Brasília. “As cartas tinham um tom de despedida. Ele citava o meu nome, o da minha mãe e o dos meus tios”, comentou a irmã do sequestrador, Jeile dos Santos, 31 anos, moradora de Goiânia.


Calma da vítima

No domingo, Jac fez uma reserva no hotel, na Quadra 2 do Setor Hoteleiro Sul, mas, horas depois, cancelou. Ligou de novo e pediu outro quarto, no 13º andar e solicitou um notebook. Por volta das 5h de ontem, chegou ao local e fez check-in com a Carteira de Identidade original. Duas horas depois, chamou o serviço de lavanderia. A camareira chegou a ser rendida , mas passou mal diante da ameaça. O sequestrador, então, algemou José Aírton, que se encontrava no mesmo andar.

As equipes da Divisão de Operações Especiais (DOE) e do Bope consideraram a frieza da vítima fundamental para o desfecho do caso. Em liberdade, o mensageiro recebeu abraços da mulher e do filho, que acompanharam tudo de perto. Mais tarde, José Aírton passou mal e precisou ser atendido por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). “A tranquilidade do José Aírton, além deixar o sequestrador calmo, contribuiu para o sucesso da operação”, afirmou o chefe da Comunicação Social da Polícia Civil do DF, delegado Paulo Henrique. Jac está preso e responderá por sequestro com o agravante de colocar a vítima em situação de pressão e abalo moral.

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