Cidades

Fechadas, academias do DF buscam estratégias para se manter

Um dos primeiros setores a serem fechados pelo decreto contra a pandemia, academias têm apostado em aulas on-line e aluguel de equipamentos para se manterem ativas. Especialista orienta estabelecimentos a evitar demissões e investir em inovações tecnológicas

Juliana Andrade
postado em 10/04/2020 06:00 / atualizado em 25/08/2020 17:30
A servidora pública Ana Paula Mantovani alugou uma bicicleta ergométrica para a malhação em casaAs academias de ginástica foram um dos primeiros setores a serem atingidos pelos decretos que determinaram restrições no comércio, como forma de combater a disseminação do coronavírus no Distrito Federal. O segmento esteve entre as atividades proibidas na decisão do governador Ibaneis Rocha, anunciada em 15 de março. Desde então, de portas fechadas, as empresas têm encontrado alternativas para se manterem nesse período — a tecnologia e a criatividade se tornaram grandes aliadas. Se para os alunos as lives e pacotes de treinos on-line são uma forma de se manterem em movimento, para os donos do negócio, são uma forma de prestar serviço e manter a clientela por perto.

Foi no meio digital que a empresária Larissa Pacheco, proprietária da Spincycle, encontrou uma forma de manter o empreendimento que havia acabado de inaugurar. A professora de educação física precisou se reinventar com apenas quatro meses de portas abertas. “Quando saiu o decreto, levei um susto muito grande. Estou entrando no empreendedorismo agora. Até chorei quando recebi a notícia, mas o problema estava posto e eu precisava resolver”, comenta. A primeira ação foi iniciar as lives para manter o contato com os clientes. Depois, para ter dinheiro em caixa, decidiu alugar bicicletas para as aulas. “Eles fazem o mesmo processo: entram no site, agendam a aula e participam da live no sistema privado. Só tem acesso quem reservou a aula”, detalha.

A servidora pública Ana Paula Mantovani, 49 anos, alugou uma das bicicletas. A cliente está com o equipamento há 15 dias e, para ela, o aparelho tem feito toda a diferença na rotina durante a quarentena. “Ela disponibilizou a bicicleta e alguns pesinhos. Então, todo dia eu faço as aulas. É muito bom. Isso tem me ajudado a manter a sanidade mental nesse período, pois é um momento no qual esqueço toda essa confusão”, diz.  Para a proprietária da academia, a iniciativa não só ajudou a manter o caixa da empresa como contribuiu para a divulgação do estabelecimento.

Lives

A aula ao vivo, por meio de lives, tem sido uma alternativa adotada por grande parte dos estabelecimentos. A Academia Evolve Gymbox aderiu ao formato nos primeiros dias da quarentena. “Tomamos a iniciativa no domingo, logo após o decreto. Conversamos com a equipe técnica e começamos a fazer algumas lives nas redes sociais.  Entendemos a importância do exercício físico para a saúde física e mental”, ressalta o diretor técnico da empresa, Henrique Pereira. O cronograma das aulas fica disponível no perfil do Instagram da academia e os professores fazem as transmissões de casa. Para os alunos que haviam pago a mensalidade, a empresa vai acrescentar o período em que esteve fechada ao fim do contrato.

A analista de marketing Débora Fraga, 24, tem acompanhado diariamente as lives da academia. Encorajada pelos pais e por uma amiga, que malhavam no estabelecimento, a jovem faria a matrícula na semana da suspensão das atividades. Porém, nada de jogar fora o projeto fitness. A quarentena foi uma motivação a mais para começar a rotina de exercícios. “A primeira aula que eu fiz foi o fitdance e me apaixonei. Depois, zumba e adorei novamente. Com certeza, quando acabar a quarentena, eu vou me matricular”, garante. Por enquanto, ela segue as aulas on-line na companhia da mãe. “Eu a puxo para fazer comigo”, diz a filha.

O conteúdo on-line também foi a alternativa encontrada pela academia Unique. Os profissionais passaram três dias gravando videoaulas para os alunos. “Os colaboradores vieram voluntariamente, cada um em um horário diferente e tomando os devidos cuidados. Gravamos mais de 30 aulas e estamos disponibilizando na internet”, comenta o responsável pelo marketing da empresa, Matheus Leal. O conteúdo é disponibilizado de forma gratuita. “É uma oportunidade para mostrar que a academia pensa no bem coletivo e se preocupa com os alunos. Muitas academias não têm estrutura para fazer isso. Mostramos também que temos ótimos profissionais”, completa. A iniciativa tem atraído mais seguidores para as redes sociais da empresa, segundo o publicitário.
 

Adaptação a um novo padrão de consumo

Para o superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no DF (Sebrae/DF), Valdir Oliveira, a tecnologia ajuda bastante e tem feito os empreendedores abrirem os olhos para outras formas de consumo. “O pequeno e médio empresário estava acostumado apenas com atendimento físico. Se continuar assim, não vai sobreviver. O hábito de consumo mudou e precisamos pensar também no período pós-quarentena. Aproveite o momento para fazer a transformação digital, não é abandonar o físico, mas entrar nos canais digitais”, orienta.

Para Valdir, demitir deve ser uma das últimas opções dos empresários, pois este é o momento de se organizar e inovar. “Os empreendedores precisam olhar para os custos fixos e enxergar o que deve cortar e o que pode renegociar. Suspender pagamento não é a forma adequada de resolver. E evite demissões. Isso tudo vai acabar,  precisarão contratar novamente e todo custo indenizatório impacta o caixa”, destaca.

Com cerca de 1,2 mil estabelecimentos, o segmento é responsável por cerca de 30 mil empregos no DF, segundo o Sindicato da Academias do Distrito Federal (Sindac). Thais Yeleni, presidente da entidade, destaca que as academias têm um alto custo operacional e, sem receita, fica difícil manter os negócios. Entre as ações da categoria, houve a antecipação de férias dos funcionários e disponibilização de linhas de crédito para os empreendedores. “Precisamos que os clientes não cancelem os planos. Eles têm a oportunidade de diminuir o impacto, pois darão oportunidade de as empresas continuarem com os serviços, mantendo os trabalhadores empregados”, afirma a dirigente. 



 

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