Cidades

Água Mineral só em fevereiro; consolo é usar a Piscina de Ondas

Em janeiro de 1980, uma das principais opções de lazer do brasiliense, a Água Mineral estava interditada. Mas havia outra opção para se refrescar: a Piscina de Ondas

Correio Braziliense
postado em 11/04/2020 06:00
Esta matéria foi publicada originalmente na edição de 24 de janeiro de 1980 do Correio. Sua republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram.

Banhistas na Água MineralAs duas piscinas do Parque Nacional de Brasília — Água Mineral — continuarão interditadas, até meados de fevereiro. Enquanto isso, a piscina de ondas do Parque Pithon, passa a ser o local popular de lazer mais concorrido pela população brasiliense e o administrador da Água Mineral, Luiz Van Beethoven Benício de Abreu, declara que "não é finalidade principal do parque oferecer lazer à população, mas sim preservar os seus aspectos naturais".

Recentemente o Correio Braziliense publicou uma matéria sobre a interdição das piscinas, sem que houvesse nenhum comunicado prévio ao público frequentador que deixou sua casa, no domingo de sol, e encontrou as piscinas vazias. Diante disso, foram vários os telefonemas à redação do jornal, todos em sinal de protesto contra a falta de consideração, e alguns deles esclarecendo que há mais de 20 dias, a “piscina velha” estava fechada, apesar de há pouco tempo ter sofrido reformas.

Na tentativa de prestar maiores esclarecimentos à população de Brasília, uma equipe de reportagem do Correio voltou à Água Mineral. Como o administrador estava ausente, a equipe foi recebida por alguns funcionários da casa, que a agrediram com palavras, tachando-a de parcial e irresponsável, em virtude da publicação anterior. Apesar de todas as explicações no sentido de que as críticas não partiram deste jornal, mas da própria população e de elementos do Movimento em Defesa da Amazônia, que também são assíduos frequentadores daquele local, uma funcionária insistia em responsabilizar o jornalista, quando a reportagem teve sua origem na própria falha da administração em não noticiar e explicar as razões do fechamento das piscinas, especialmente às populações das cidades satélites e do Cruzeiro, que, nos fins de semana, descem de ônibus, para a Água Mineral. Com a chegada do administrador, a discussão inútil teve fim e partiu-se para “os finalmentes”, ou seja, os esclarecimentos que motivaram a ida da equipe ao Parque Nacional de Brasília. 



Esclarecimentos

Segundo esclarecimentos prestados pelo administrador da Água Mineral, Beethoven de Abreu, a "piscina velha" já tem uma longa história para ser contada:

No período da administração anterior, a piscina velha passou por reformas em seu piso sob a alegação de que era muito profunda e que seu piso original de pedras naturais irregulares poderia provocar afogamentos acidentais entre os banhistas. Como a piscina tem uma série de nascentes em seu centro, um engenheiro do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal - IBDF, que é o órgão responsável pela administração do Parque, projetou um sistema de drenagem, com saídas de água circulares ao longo da piscina.

Teoricamente, o sistema de drenos teria que funcionar, mas na prática isto não aconteceu, pois o volume de águas proveniente das nascentes do centro da piscina não saía pela abertura. Devido à pressão da água, o piso não resistiu e o fundo da piscina começou a descalçar. O nosso trabalho de agora é fazer com que a piscina retorne ao sistema anterior, deixando que a água corra livremente.

Luiz Beethoven de Abreu explica ainda que a firma responsável pela reforma, Prolar Construções Limitada, compareceu ao local assim que foi comunicada do problema. “Foi feita uma vistoria para saber de quem foi o erro e a firma alega que simplesmente executou um projeto, não tendo, portanto, nenhuma responsabilidade sobre o incidente. Possivelmente, o projeto passará pela procuradoria geral do IBDF, pois é ela quem decide sobre o aspecto jurídico da coisa. A única informação que eu posso dar, neste sentido, é que a firma construtora transferiu-se para Uberaba. Em Brasília há apenas uma secretaria que recebe os telefonemas dirigidos à Prolar.” Enquanto o impasse não é resolvido, os funcionários do Parque Nacional, que haviam construído a piscina de forma empírica, observando apenas um detalhe - trabalhar sempre a favor da água, e nunca contra ela - vão fazendo os devidos reparos.

A partir deste próximo final de semana será vetado o acesso do público às imediações da “piscina velha” como medida de segurança para os próprios frequentadores, como explica o administrador.

Desde que a piscina foi interditada, nós abrimos o Parque para a entrada gratuíta das pessoas. Ainda assim esperávamos que a frequência da Água Mineral diminuísse, o que absolutamente não aconteceu. Com isso, decidimos fechar o acesso do público à piscina para evitar possíveis acidentes e não tumultuar o nosso trabalho. Dentro de 15 a 20 dias a piscina velha já deverá estar em condições normais de uso.

O conserto da “piscina nova” será iniciado apenas depois de processada a reforma da “velha”, segundo o próprio administrador. “Como é o nosso pessoal que está fazendo os reparos, só temos condições de iniciar o trabalho na “piscina nova”, depois de concluída a reforma da “velha”.

A piscina nova, que também é de água natural, começou a apresentar alguns problemas, apenas recentemente em virtude das chuvas.É que uma série de edificações que foram construídas nas imediações da área do parque acabaram provocando erosão, nesta época de chuvas intensas em Brasília, poluindo a água da nossa captação, que vai para a piscina. Como podem ver, o problema tem origens que escapam ao nosso controle. Resta-nos, agora, realizar um serviço que é basicamente de terraplenagem, colocando uma tela sobre a captação e tubulando as nascentes. Entretanto, este é um trabalho bastante delicado, pois não podemos modificar o nível de renovação da água da “piscina nova”, que está fixado em cinco horas. Esperamos, contudo, que até meados de fevereiro o problema seja sanado.

O administrador aproveita a oportunidade para lembrar que obras grandes, como esta, exigem recursos de que o Parque não dispõe. “Foi ingenuidade do movimento em Defesa da Amazônia colocar que a receita obtida através da cobrança de ingressos é mais que suficiente para manter o Parque. Isto não é verdade, mesmo porque não é nosso objetivo obter receita. Toda a nossa renda é encaminhada para a delegacia do IBDF, que a redistribui. Além disso, o volume de pessoas que têm acesso gratuito ao Parque é muito grande. Todas as instituições e entidades que lidam com menores abandonados, velhos, doentes, etc, têm acesso livre à Água Mineral.

Em 1979, a nossa renda girou em torno dos quatro milhões de cruzeiros, mas só a construção da sede administrativa ficou neste preço. De maneira geral, os recursos não são suficientes sequer para pagar o pessoal.”

Preservação

Contrário ao que se pode imaginar, o Parque Nacional de Brasília não é, fundamentalmente, um local saudável, destinado ao lazer da comunidade candanga. A finalidade principal do Parque pe, segundo seu administrador, “preservar a natureza e os aspectos naturais das áreas de proteção, que estão em perfeito estado, sem que se tenha registrado qualquer ocorrência que possa ao menos colocar em risco o patrimônio natural reservado.”

A área de proteção a que o administrador referiu-se, corresponde a cerca de 83% da área total do Parque, enquanto a área das piscinas, cerca de cinco mil hectares, não ultrapassa a faixa dos 17%.

A função do Parque não é a recreação pública. Nós temos muito interesse em que se desenvolva aqui uma atividade de lazer. Mas um lazer dirigido para que o público tenha consciência da necessidade de preservação da natureza. O lazer ao ar livre torna-se importante na medida em que é uma oportunidade de fazermos uma interpretação mais real dos aspectos preservacionais de um Parque Nacional.

Resta-nos esperar que o público volte a ter livre acesso ao Parque Nacional, mais conhecido como Água Mineral, muito em breve, pois sendo ou não um “lazer dirigido”, esta é uma das raras opções saudáveis de lazer popular de que o candango dispõe.



PISCINA DE ONDAS

Piscina de OndasO administrador da piscina de ondas Geraldo do Nascimento diz que a frequência da piscina aumentou muito, nos finais de semana, especialmente depois que a Água Mineral foi interditada.

O número de pessoas que procuram a piscina de ondas tem aumentado bastante, especialmente agora, que o Parque Nacional de Brasília está fechado. A frequência aos finais de semana com sol já atinge quatro mil visitantes. É muito grande o número de pessoas que nos procuram para fazer piqueniques, embora não se permita entrar com garrafas ou copos. Aliás, nunca houve um acidente na piscina ou imediações.

Geraldo do Nascimento faz questão de ressaltar que a piscina de ondas é hoje um monumento de Brasília. “Isto pode ser comprovado por qualquer pessoa que queira ter acesso ao nosso livro de visitantes. Além de artistas, intelectuais e jornalistas, o livro tem o registro de vários visitantes que nos elogiam, em todos idiomas, inclusive o japonês. Temos aqui o que há de mais moderno no mundo em piscina.

As piscinas da Água Mineral têm o mesmo tratamento que temos aqui. Em cada meia hora as ondas funcionam por 10 minutos. Depois que elas cessam, os nossos filtros entram em funcionamento. Diariamente, das sete às nove horas, realizamos uma limpeza na piscina e o tratamento da água a base de ozônio, bromo e cloro. Além disso, toda segunda-feira nós fechamos para uma limpeza geral”.

Segundo o administrador, tudo é feito no maior esquema de segurança. Não se permite bebida alcoólica e o piso da piscina é feito de um material próprio, que não escorrega. Para os banhistas, é exigido um exame médico, que pode ser feito a qualquer momento, pois existe uma equipe médica de plantão. “Além disso, temos 21 empregados, entre recepcionistas e seguranças, incluindo três salva-vidas, que estão sempre prontos para atender aos banhistas em qualquer dificuldade. Entre os salva-vidas, dois homens e uma mulher, temos dois soldados do Corpo de Bombeiros, especialmente treinados para qualquer eventualidade”.

Página do Correio Braziliense com o título Água Mineral só em feveiro

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  • Página do Correio Braziliense com o título Água Mineral só em feveiro
    Página do Correio Braziliense com o título Água Mineral só em feveiro Foto:
  • Piscina de Ondas que existia em Brasília
    Piscina de Ondas que existia em Brasília Foto: Carlos Moura/CB/D.A Press

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