Correio Braziliense
postado em 11/04/2020 06:00
A pandemia causada pelo coronavírus trouxe uma série de dúvidas e de informações imprecisas. Virou senso comum, por exemplo, a Covid-19 ser letal apenas para idosos. De fato, pessoas acima dos 60 anos estão mais propensas a terem complicações quando infectadas pela doença, mas especialistas alertam que há outros grupos de risco que devem ser levados em consideração.
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que o Distrito Federal tem um percentual da população com asma e câncer maior do que média nacional. Pessoas com essas e outras doenças podem ter quadros graves caso contaminadas pelo coronavírus. Das 10 primeiras mortes no DF por conta da Covid-19, apenas em um caso a vítima não tinha nenhum diagnóstico preexistente.
Com a morte de mais uma paciente confirmada ontem, os óbitos chegam a 14. Uma mulher de 76 anos, moradora do Jardim Botânico, foi o caso mais recente. Ela estava internada, desde 19 de março, no Hospital Brasília, e faleceu na quinta-feira. Assim como a maioria dos outros registros, ela também tinha comorbidades: era cardiopata. Até o fechamento desta edição, a Secretaria de Saúde contabilizava 563 casos, dos quais 148 se recuperaram. Do total, 44 apresentam infecções moderadas e 16 estão em quadro clínico grave.
Segundo a pesquisa do IBGE — os dados mais recentes disponíveis são de 2013 —, 4,4% dos brasileiros têm diagnóstico de asma. A média no DF, no entanto, é maior: 6%. São 123 mil moradores da capital, com 18 anos ou mais, asmáticos. De acordo com a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), pacientes com essa patologia não estão mais propensos a serem contaminados pela Covid-19, mas, sim, a desenvolverem complicações caso infectados. Por isso, a preocupação com a pandemia é dobrada.
Safyra Hadde, 18 anos, faz parte dessa estatística. Ela chegou a ser hospitalizada duas vezes por crises respiratórias e relata a apreensão que sente. “A preocupação é bem maior, porque asma já é um problema sério e, com esse vírus, seria muito mais perigoso e prejudicial. Tenho evitado sair de casa o máximo que posso, usando sempre álcool em gel, lavando as mãos e evitando contato mais próximo até com familiares”, diz a estudante. Para Safyra, é necessário compreender a nova doença e encarar o perigo dela.
“A gente sabe o que pode acontecer se não tomarmos os cuidados à risca. Tem gente que acha que não vai ser afetado, mas, mesmo que elas não tenham quadros graves, podem acabar levando para alguém do grupo de risco na própria família. Esse descuido faz com que o vírus se espalhe muito mais rápido, tornando o problema ainda mais difícil de ser controlado”, avalia.
Grupos sensíveis
Especialistas ressaltam a necessidade desse cuidado. A médica geral Patrycia Tavares afirma que quem está dentro do perfil de risco deve seguir o isolamento social à risca. “O primeiro fator de risco é a idade, sim. Mas depois vêm os pacientes diabéticos, com doenças cardiovasculares ou comorbidades respiratórias, entre outras”, detalha.
Uma das patologias que vêm atingindo cedo muitos adultos é a hipertensão. “Temos várias pessoas de 30 a 40 anos hipertensas. Há estudos publicados em revistas internacionais que alertam que entre 20% a 40% dos casos de óbito por coronavírus estimados envolvem hipertensos. Então, não são só os idosos que devem se preocupar”, pondera.
Junto à preocupação, devem vir as ações de cuidado. Além do isolamento social, da higienização correta e constante e de outros cuidados básicos de saúde, pacientes com doenças preexistentes devem se preocupar com o corpo como um todo. “É essencial para quem tem comorbidades manter as doenças compensadas, bem tratadas. O paciente asmático deve usar a medicação corretamente para evitar crise, o paciente com câncer deve ficar em acompanhamento com o oncologista. E, além disso, todos devem tentar manter uma imunidade adequada, se alimentando bem, dormindo bem e estabelecendo uma rotina”, esclarece a médica.
Imunidade
A imunidade preocupou a irmã Rosita Milesi, 75, diretora do Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH). Nome forte do apoio a refugiados no DF, ela se sentiu fraca quando passou por uma sessão de quimioterapia no início da pandemia do coronavírus.
“Por causa do tratamento, eu estava com imunidade muito baixa, com anemia acentuada e outros indicativos de alta fragilidade na saúde. Acredito que minhas chances de superar a infecção, caso fosse contaminada, seriam quase nulas. Por isso, busquei, por todos os modos, me fortalecer, melhorando a imunidade e, acima de tudo, me isolando socialmente de forma absoluta”, conta.
Rosita faz parte do grupo de 2,7% da população da capital com diagnóstico de câncer. A média também é superior à nacional, de 1,8%, segundo dados da última Pesquisa Nacional de Saúde. Por isso, ela redobrou os cuidados com alimentação, continuou apoiada na fé e afirma que, hoje, está emocionalmente mais tranquila.
Para ela, este é um momento crucial para que as pessoas aprendam a pensar ainda no próximo. “Se tem um apelo que posso fazer, peço que a população respeite integralmente as orientações dos especialistas em saúde. Temos que nos manter longe dos perigos de contágio e, mais do que isso, contribuir para evitar a disseminação desse vírus, que representa perigo para cada pessoa e para a humanidade como um todo”, observa.
Raio-x da saúde no DF
- 6% da população tem diagnóstico de asma, segundo maior percentual do país (contra 4,4% da média nacional);
- 2,7% da população tem diagnóstico de câncer, terceiro maior percentual do país (contra 1,8% da média nacional);
- 5,8% da população tem diagnóstico de diabetes (contra 6,2% da média nacional);
- 3,5% da população tem alguma doença do coração (contra 4,2% da média nacional);
- 19,7% da população tem diagnóstico de hipertensão arterial (contra 21,4% da média nacional);
- 0,9% da população tem diagnóstico de insuficiência renal crônica (contra 1,4% da média nacional);
- 10,6% da população é fumante, o menor percentual do país (contra 1,4% da média nacional);
- 12,1% da população é composta por idosos (contra 14,5% da média nacional);
Fonte: Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada em 2013 com pessoas acima de 18 anos, e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), realizada em 2018
Colaborou Mariana Machado
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