Correio Braziliense
postado em 12/04/2020 04:25
“Existe uma luz no fim do túnel para todo mundo”, afirma a advogada Daniela Teixeira. A frase reflete a confiança de quem enfrentou e venceu a Covid-19, doença que já fez, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 83,4 mil mortos e infectou mais de 1,4 milhão de pessoas no mundo. No Distrito Federal, entre os mais de 520 casos, cerca de 150 se recuperaram. Daniela foi a primeira brasiliense a se ver livre da doença e, na Páscoa, quando os cristãos comemoram o renascimento, ela pede esperança a todos, ao ter, ela própria, a vida renascida.
Daniela contraiu o coronavírus no início de março, quando participou de uma conferência em Fortaleza. Ao voltar para casa, soube que outras pessoas que estiveram no evento estavam manifestando sintomas e fazendo testes com resultado positivo para o vírus. Diante disso, ela se submeteu ao exame, mesmo sem sentir nada, e, em 17 de março, recebeu o diagnóstico. “Não imaginava de jeito nenhum, foi um choque imenso. É quase uma sentença de morte que te entregam, porque todas as notícias, naquele momento, eram de ser algo letal”, recorda.
A partir daí, ela ficou em isolamento domiciliar, acompanhada do marido e dos filhos, com quem já tinha tido contato. A família, incluindo parentes que não moram na mesma casa, foram testados, mas nenhum havia sido infectado. Em casa, todo o cuidado para evitar a transmissão. “Eu imagino que foi muito duro para a minha família. Minha filha pequena não entendia, e como entender, com apenas 6 anos? Ela queria abraçar, beijar, dormir comigo, mas não podia”, recorda.
Compras eram feitas pelos pais dela, que deixavam os pacotes na entrada da casa e iam embora. No dia a dia, ficava a angústia de não saber se os sintomas poderiam se agravar. “O tempo todo eu pensava que dali a um minuto ia passar mal. A gente acha que o pior vai acontecer”, declara Daniela. “Eu tinha dor de cabeça ou no peito e esperava que aquilo fosse evoluir para um quadro pior, mas foi tudo muito leve.”
Daniela foi acompanhada pela Secretaria de Saúde e por uma médica particular com quem falava diariamente. “É muito importante esse contato para comunicar caso haja uma mudança no quadro. É preciso acreditar no vírus, não pode achar que é uma gripezinha.” Após 16 dias de infecção, um novo exame e o resultado negativo. “Foi o dia mais feliz da minha vida, saber que passou. Sou grata a Deus e agora estou inscrita em três programas de acompanhamento de hospitais, à disposição para todo exame que precisem nas pesquisas.”
A boa notícia foi motivo, claro, de festa. “Todo mundo dançou na cozinha. Hoje, estou bem, ótima. Só apreensiva, e triste. Abala muito o emocional da gente ver o mundo passando por isso. Tenho três amigos na UTI.” A vitória faz com que Daniela reforce a importância de ter esperança. “Muitos infectados vão passar por isso bem”, garante. “Tem que reforçar o isolamento. A gente vê o que está acontecendo nos Estados Unidos, e o Brasil é muito parecido em tamanho de população. Mas a gente não tem os meios que eles têm na medicina. É muito importante ficar em casa.”
Recuperação
Depois do susto de ter a Covid-19, aos poucos, a vida volta ao normal. Que dirá Jhennifer Karoline Ferreira, 24 anos, recém-recuperada da doença. Em 16 de março, ela começou a ter diarreia e tosse e, por trabalhar como recepcionista em um hospital particular, imediatamente comunicou aos superiores, que a encaminharam para fazer o teste. Após o resultado positivo, foi colocada em isolamento domiciliar.
Em casa, ficou com o pai e o irmão, tendo o cuidado de usar um banheiro apenas para ela, e manter-se no quarto e sem compartilhar objetos, como pratos e talheres. O mais difícil foi se afastar da filha, de apenas 2 anos. “Fiquei muito abalada, pois só via coisas ruins sobre a doença. Inclusive estou tendo, até hoje, acompanhamento com psicólogo.” Por cinco dias, ela manteve sintomas. Após duas semanas, prazo exigido para o isolamento, finalmente teve alta. “Foi a maior felicidade do mundo! Só quem passou por isso sabe o tanto que é triste você ter que ficar distante das pessoas de que gosta. Foi um período de muito sofrimento.”
De volta ao trabalho, ela lembra que, quem está curado, não transmite mais a doença. “As pessoas precisam ser mais empáticas com quem tem o vírus e com quem se recuperou, e serem menos preconceituosas. Estamos todos sujeitos a isso. Ninguém escolhe estar doente”, declara. “Para quem contraiu o vírus, digo que é só uma fase ruim, mas logo vai passar. Não se desespere, e se cuide no período do isolamento, seguindo as recomendações médicas.”
Isolamento
Especialistas destacam que o contágio se dá, principalmente, pelo contato com gotículas de saliva de pessoas infectadas. Ter boa imunidade não impede a contaminação, no entanto, pode ajudar a diminuir a gravidade dos sintomas, ou até mesmo evitar que eles apareçam (veja quadro). O bom histórico de saúde e a trajetória de atleta não impediu que o personal trainer Caio Quemel, 24 anos, manifestasse um quadro grave da Covid-19.
Embora não tenha doenças crônicas, se viu surpreso ao manifestar os primeiros sintomas em 12 de março. Em uma primeira visita ao hospital, foi mandado para casa. Sem melhorar, retornou, e, em 18 de março, precisou ser internado na UTI, em estágio avançado de pneumonia. Foi um dia na unidade e mais seis em quarto hospitalar. Depois disso, isolamento domiciliar por duas semanas.
Por morar com a mãe e a avó, ambas idosas, ficou recluso no quarto, recebendo comida na porta e sem contato algum com as duas. No último domingo, finalmente o resultado negativo do teste de coronavírus. Estava curado. “A sensação é de alívio e tranquilidade. Tudo o que passei foi difícil, mas consegui vencer”, comemora. Durante a internação, teve uma crise de tosse que o preocupou. “Mas eu não podia dar o braço a torcer, porque precisava proteger a minha família.”
Depois da experiência, ele enfatiza a necessidade do isolamento social. “O ideal é ficar em casa, com certeza. Essa é a recomendação da OMS. Não é só uma gripezinha, não é brincadeira. Tem gente se sacrificando nos serviços essenciais, e cabe a todo mundo fazer a sua parte”, defende. “Agradeço por estar vivo, e sei o quanto essa é uma doença que pode impactar o Brasil se não tivermos cuidado. O sistema de saúde precisa ter tempo para se preparar melhor.”
Previna-se
Estar com a saúde forte pode até não evitar o contágio por coronavírus, mas contribui para que a pessoa infectada desenvolva menos sintomas da doença. Veja as dicas para aumentar a imunidade:
Alimentação variada
» Consuma proteínas, carboidratos e sais minerais, porque isso ajuda a produzir anticorpos. Não se trata de comer coisas específicas, mas, sim, de variar o cardápio. Também beba bastante água e mantenha o corpo hidratado.
Atividade física
» Artigos provam que fazer exercícios estimula a produção de leucócitos, que são os glóbulos brancos. Uma atividade leve já ajuda.
Abra as janelas
» Mantenha a casa arejada. A boa ventilação evita que o pulmão fique exposto a mofo e a poeira.
Mantenha a calma
» Estresse e ansiedade em excesso fazem o corpo produzir cortisol, hormônio que interfere na resposta da imunidade. Por mais ansiosos que estejamos em casa, é preciso tentar se acalmar.
Vitamina C
» É bastante eficaz em relação à imunidade, mas, se você consome frutas cítricas, como limão, laranja e acerola, não é necessário comprar separadamente, porque já supre a demanda.
Tome sol
» Ficar sob o Sol por 10 a 15 minutos, de manhã cedo, no quintal, ajuda a sintetizar a vitamina D, importante para a imunidade.
Fonte: Alexandre Soares, professor de patologia e imunologia do Centro Universitário Iesb
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