Correio Braziliense
postado em 12/04/2020 04:26
» JULIANA ANDRADE
Aulas suspensas, comércio fechado, entradas para os parques bloqueadas. As medidas adotadas pelo governo nas últimas semanas têm objetivo claro: evitar aglomerações. Porém, enquanto muitos pedem para a população ficar em casa, outros insistem em deixar o isolamento, seja para se encontrar com amigos, brincar em um parquinho ou praticar atividade física. Especialistas destacam que sair de casa pode ser arriscado, mesmo em espaços abertos, principalmente quando não são respeitadas as regras de distanciamento social.
É comum encontrar nas ruas moradores fazendo caminhadas ou correndo. Para a infectologista Ana Helena Germoglio, muitas pessoas sentem a necessidade de sair um pouco para espairecer, mas a atividade se torna um problema quando não se respeita o distanciamento e as regras de higienização.
A especialista orienta a evitar caminhadas em horários em que parte da população costuma sair. Ana Helena alerta sobre os riscos no percurso até o local da atividade, devido ao contato com superfícies fora de casa. “É preciso tomar cuidado com elevadores, evitem. Se for necessário pegar em alguma maçaneta, higienize as mãos em seguida com álcool em gel”, aconselha.
Ela ainda enfatiza a necessidade de proteger com o braço ou um lenço a face em caso de espirros ou de tosse, além de manter o distanciamento mínimo de dois metros das outras pessoas. O uso de máscaras também é recomendado, porém, Ana Helena destaca a necessidade de deixar as máscaras profissionais para uso de equipes de saúde e para os infectados, dando preferência às proteções feitas de pano.
Exposição mínima
A Sociedade de Infectologia do Distrito Federal (SIDF) pede para a população evitar sair de casa, mesmo em casos de atividade ao ar livre. “O vírus está o tempo inteiro em gotículas que são expelidas pelas vias aéreas e podem ser projetadas por um a dois metros de distância. Em uma saída despretensiosa pode ocorrer o contágio”, alerta o diretor científico da SIDF, José David Urbaez. O infectologista destaca: quando respeitados os cuidados de distanciamento e higiene, os riscos de contágio diminuem, porém ainda existem.
A insistência de algumas pessoas em ficarem juntas na rua incomoda os brasilienses que seguem à risca as recomendações. Uma moradora do Cruzeiro que preferiu não se identificar conta que várias vezes viu um grupo de mulheres se reunir em um Ponto de Encontro Comunitário (PEC) para praticar atividade física. “Tem um senhor que dá aula de ginástica para senhoras frequentemente. Ele continua fazendo essas reuniões. Eu tenho uma mãe idosa. Ela está isolada, sem sair de casa. Enquanto uns tomam cuidado, outros parecem não estar nem aí”, reclama.
A presença de superfícies por perto ou o compartilhamento de aparelhos, como em PECs e parquinhos, geram um risco ainda maior de contágio, além da aglomeração. Nos objetos, o vírus pode permanecer por até quatro dias. “O vírus é extremamente contagioso, porque a sobrevivência dele nas superfícies é em tempo prolongado. Então, imagina uma quantidade de gente próxima, compartilhando superfícies, objetos, locais onde vai haver paredes contaminadas, chaves de carro, copos, bolsas, carteiras. É um universo de objetos e isso se converte em uma ameaça”, frisa Urbaez.
Outro problema apontado pelo infectologista é em relação aos cidadãos assintomáticos, que muitas vezes estão na rua contaminando os espaços, ao respirar ou falar, sem sequer saber que estão com o vírus. “Ficar em casa, por mais primitiva que pareça, é a única forma de combatermos a circulação do vírus e protegermos as pessoas mais vulneráveis.”
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