Correio Braziliense
postado em 12/04/2020 18:20
O advogado de defesa de Paulo Roberto de Caldas Osório, 46 anos, pede investigação minusciosa por parte da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) para identificar como o cliente teve acesso a uma corda para cometer suicídio. O homem estava preso desde dezembro de 2019 no Complexo Penitenciário da Papuda por ter assassinado o próprio filho, Bernardo da Silva Marques Osório, de 1 ano e 11 meses, envenenado. Ele tirou a própria vida na tarde de sábado (11/4).
Segundo a informações da Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe), Paulo teria usado a própria calça para produzir uma corda improvisada, conhecida como teresa, para se enforcar. No entanto, o policial penitenciário responsável por encontrar o corpo do detento disse, em depoimento à 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião), que encontrou uma corda dentro da cela dele — que era individual, localizada na Ala G do Bloco F da Penitenciária do Distrito Federal I (PDF I).
O agente relatou que estava realizando o "confere" dos internos e, ao chamar pelo nome de Paulo Osório em frente à cela dele, de número três, não obteve retorno. Ele notou que um lençol cobria a visão do espaço e, ao retirá-lo, viu o acusado já desfalecido "com uma corda amarrada no pescoço, no espaço correspondente ao banho de sol da cela."
Luciano Macedo, advogado de defesa de Paulo, indicou que é necessário apurar se a corda usada pelo homem foi de fato improvisada ou não. "O que me chama a atenção é que, em depoimento, usou-se o termo corda, não teresa. Portanto, quero saber o que ocorreu na tarde de sábado. Mas, de qualquer modo, responsabilizarei o Governo e a Justiça do Distrito Federal por essa morte", afirma.
"Essa responsabilização ocorrerá pois houve incopetência e incoerência quando Paulo Osório foi tratado como um preso comum. Ele matou a própria mãe e, depois de anos, tirou a vida do filho. No fim, tira a própria vida. Como alguém que comete esses atos pode ser normal? O primeiro laudo constatou que ele não tinha problemas, mas não concordamos com isso. Mesmo assim, ele foi colocado em uma cela comum, em vez de receber tratamento psiquiátrico adequado", analisa.
O advogado ainda relembra o fato de o acusado estar afastado das atividades no Metrô-DF por depressão, segundo laudo médico, quando praticou o assassinato do filho Bernardo. Luciano informou ainda que realizou um novo pedido para o teste de insanidade mental de Paulo Osório. Ele havia sido concedido desde março passado.
"O objetivo nunca foi colocar o Paulo em liberdade ou que tivesse a sensação de impunidade. Pelo contrário. Ele tinha que pagar por esse crime, mas dentro do que se diz a lei. O próprio afastamento do Metrô já indicava que ele não estava com a saúde mental bem. Por isso, para mim, não há dúvidas que o Estado e a Justiça são responsáveis pela morte do Paulo", conclui Luciano Macedo.
Investigação
Após a morte de Paulo Osório, instaurou-se inquérito por suicídio na 30ª DP. Em nota, a Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe) esclareceu que abriu procedimento administrativo interno para verificar as circunstâncias do ocorrido.
A pasta também informou que a cela onde o detento estava passou por perícia. O resultado deve sair em até 30 dias. "Cabe destacar que toda morte dentro do sistema gera ocorrência policial, o corpo é encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para necropsia e é instaurado procedimento administrativo", finalizou o texto.
Caso Bernardo
Paulo Osório assassinou Bernardo em 29 de novembro do ano passado. O metroviário buscou o menino na creche onde ele estudava, na 906 Sul, e seguiu para a residência dele, na 702 Sul. No caminho, entregou um copo com suco de uva ao filho, que estava envenenado com comprimidos para insônia — que eram consumidos pelo próprio acusado. A criança chegou a passar mal na casa, mas, mesmo assim, o suspeito continuou a fuga.
Dois dias depois, em 2 de dezembro, o assassino confesso mandou diversos áudios para a família materna do filho, afirmando que Bernardo não seria mais visto. "Eu falei, desde o início, que se você aprontasse comigo e com a minha vida, a saia da sua mãe não ia te proteger. Pois, agora, você está vendo. Tomei foi ódio, principalmente da sua mãe e das m* que ela fez na minha vida. Vocês nunca mais vão ver o Bernardo (...) Por que não deixou a coisa correr numa boa? Primeiro arruma confusão e agora quer arrumar? Não. Agora, se vira", afirmou, em um dos áudios (ouça abaixo), enviado à mãe do menino.
Paulo Osório acabou preso na Bahia, em 4 de dezembro. Ele foi transferido para o Distrito Federal e prestou depoimento para investigadores da Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS) afirmando que a intenção dele era dar um "susto" na mãe de Bernardo. O servidor público alegou que notou que o filho tinha morrido ao abastecer o carro, em um posto perto na divisa entre Goiás e a Bahia. Por isso, teria jogado o corpo da criança com a cadeirinha em uma área de mata da região. Contudo, a apuração da delegacia indicou que a versão era falsa e que o objetivo dele era que os agentes não chegassem até o corpo do menino.
O corpo de Bernardo foi encontrado em 6 de dezembro, em Campos de São João (BA), em estado de decomposição, com a cadeirinha. Para se certificar de que o corpo era mesmo do menino, o material genético foi encaminhado para Brasília para ser comparado com o DNA dos pais. Especialistas do Instituto de Pesquisa de DNA Forense (IPDNA) confirmaram que realmente se tratava de Bernardo. Com isso, a investigação da DRS foi concluída.
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