“Me libertei da culpa dos meus erros e agradeço ao destino por ter mudado a minha vida sem perguntar se eu queria”. A frase, publicada no perfil de uma rede social, foi escolhida por Silmara de Sousa da Silva, 22 anos, para descrever o momento que vivia. Mas o destino de Silmara, mãe e estudante de farmácia, entretanto, foi interrompido pelo ex-companheiro Francisco Hebert Aragão Moura, 25, que a matou com diversas facadas, na noite da última terça-feira. Ao tentar impedir que a enteada fosse morta pelo ex-genro, Francisco Márcio Gonçalves de Sousa, 41, também foi morto pelo ex-namorado de Silmara, que fugiu depois de cometer os crimes. Até o fechamento desta edição, o acusado não havia sido preso.
Agentes da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá) investigam o caso. O crime ocorreu no condomínio Del Lago 2, na QR 314 do Itapoã. De acordo com a delegada responsável pelas investigações, Jane Klébia do Nascimento, todos os esforços estão voltados para a captura de Francisco. “Nosso empenho é localizar o autor. As oitivas vão ficar para um outro momento. Desde terça, estamos tentando localizá-lo, usando todos os recursos, como o serviço de inteligência da Polícia Civil e nossos agentes. A gente sabe que ele tem familiares em duas cidades do DF e estamos tentando cercá-lo. Nesse momento, investigamos a vida, os hábitos, amigos e parentes dele para encontrá-lo”, afirmou Jane Klébia.
Segundo a delegada, Francisco Hebert não possui antecedentes criminais. No entanto, a investigação aponta que o rapaz costumava agredir Silmara. Mesmo assim, ela nunca o denunciou. Amiga de infância da vítima, Amanda de Souza Farias, 19, estava com Silmara no momento em que ela foi assassinada. Por volta de 17h, Silmara enviou uma mensagem de celular falando que gostaria de se separar de Francisco, motivada por uma agressão sofrida, no último sábado. Na ocasião, o rapaz teria dado um murro na então companheira. Silmara saiu de casa no mesmo dia e, desde então, estava morando na casa de familiares, no Itapoã.
Na terça-feira, a jovem pediu à Amanda e ao padrasto, Francisco Márcio, que a acompanhassem até a casa em que morava com Francisco Hebert, para que ela pudesse retirar suas coisas do imóvel. Segundo Amanda, por volta de 19h, os três chegaram à residência do casal, na QR 314. Francisco Hebert estava sentado no sofá da sala, tomando cerveja. Na chegada, o rapaz não apresentou nenhum tipo de agressividade. No entanto, quando Silmara começou a retirar suas coisas do imóvel, ele começou a discutir por causa da divisão dos pertences.
O ex-companheiro tentou impedir que Silmara retirasse alguns copos da casa. Em meio às agressões verbais, Francisco deu um murro na televisão que era de Silmara. Ela, então, questionou a atitude. Percebendo a agressividade do ex, Amanda saiu da casa e ligou para a polícia.
Francisco Márcio, padrasto da vítima, tentou acalmar a situação. Entretanto, ao perceber que os policiais estavam sendo acionados, Francisco Hebert puxou uma faca desferiu golpes contra Silmara. Ela foi atingida inicialmente na mão, no abdômen e no pescoço, segundo a testemunha. Mesmo com Silmara caída, Francisco Hebert teria continuado a golpeá-la. Ao tentar impedir, Francisco Márcio também foi atingido e morreu no local. Com medo de também ser alvo de Francisco Hebert, Amanda fugiu para a casa de uma vizinha. Próximo ao portão da casa, Márcio jogou no chão a faca usada no crime e, em seguida, fugiu em seu carro, um Volkswagen Voyage branco, placa PAV-9994/DF.
A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros foram acionados e se dirigiram ao local. Silmara foi encaminhada ao Hospital Regional do Paranoá e, momentos depois, devido à gravidade das lesões, foi removida para o Hospital de Base. Entretanto, ela não resistiu aos ferimentos e morreu, na madrugada de ontem.
Prioridade contra feminicídios
De acordo com levantamento do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), 11 mulheres foram assassinadas no DF entre janeiro e março de 2020. O MPDFT destacou, ainda, que nem todos esses crimes foram denunciados, a princípio, como feminicídio.
O órgão ainda não tem dados referentes a abril. No entanto, é possível constatar o aumento desse tipo de crime. Em 2019, foram sete feminicídios entre janeiro e março. Em abril do ano passado, foram registrados dois casos.
Mas os dados do MPDFT e da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP) divergem. Segundo a SSP, foram registrados cinco feminicídios nos três primeiros meses de 2020. Ainda de acordo com a pasta, os registros de violência contra a mulher, com base na Lei Maria da Penha (nº 11.340/2006), apresentaram redução de 5,6%, no comparativo do primeiro trimestre deste ano com os de 2019. Sendo 3.856 ocorrências entre janeiro e março de 2020, frente a 4.084 casos, em igual período do ano passado.
Em nota, a SSP afirmou que “o combate ao feminicídio e à violência contra a mulher é uma das principais pautas da Secretaria”, e que um estudo realizado pela Câmara Técnica de Monitoramento de Homicídio e Feminicídio (CTMHF) da pasta aponta que, desde março de 2015, quando entrou em vigor a “Lei do Feminicídio (nº 13.104), até o mês de fevereiro deste ano, 71,3% dos casos ocorreram dentro de residências. Ainda de acordo com levantamento do órgão, 79,2% das vítimas não possuíam medida protetiva.
Onde buscar ajuda
» 190 — Polícia Militar
» 197 — Polícia Civil
» Disque 100 — Ministério dos Direitos Humanos
» Delegacias regionais
Atendimento presencial, 24 horas por dia
» Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam)
Endereço: Entrequadra 204/205 Sul
Telefone: 3207-6172
Atendimento ininterrupto
» Centro de Atendimento à Mulher (Ceam)
De segunda a sexta-feira, das 10h às 16h30
Asa Sul: Estação do Metrô 102 Sul
Telefone: 3323-7264
Ceilândia: QNM 2, Conjunto F,
Lote 1/3 – Ceilândia Centro
Telefone: 3373-6668
Planaltina: Jardim Roriz,
Área Especial, Entrequadras 1 e 2 — Centro
Telefone: 3389-8189 / 99202-6376
» Programa de Prevenção à Violência Doméstica (Provid) da Polícia Militar
Telefones: 3910-1349 / 3910-1350
» Núcleo de Assistência Jurídica de Defesa da Mulher (Nudem)
Telefone e WhatsApp: 99359-0032
E-mail: najmulher@defensoria.df.gov.br
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