Cidades

Brasilienses dão exemplo em ações coletivas e solidárias na quarentena

Com ações de coletividade e solidariedade, brasilienses mostram que o distanciamento social não precisa ser sinônimo de solidão, mas, sim, de comunhão

Correio Braziliense
postado em 17/04/2020 06:00

uma mulher ao lao de alimentosOs tempos são difíceis: menos abraços, menos beijos e menos encontros. Porém, atitudes no dia a dia mostram que é possível espantar a solidão neste período de isolamento social. Ações têm mostrado, na prática, o sentido da palavra empatia. Pessoas se colocando no lugar do outro, se reunindo para ajudar o próximo, compartilhando momentos de alegria e deixando a quarentena mais leve. Assim como em diversas partes do mundo, em Brasília, vizinhos, que por vezes nem se falavam, agora, vão até a janela curtir um show ou cantar parabéns, enquanto parte da população se mobiliza para apoiar os mais necessitados.

Síndica de um condomínio em Águas Claras, Elisabeth Velásquez, 45 anos, decidiu mudar o clima durante o isolamento no prédio. Ela apostou na música e na solidariedade e, no lugar de reclamações, encheu o espaço de união. “Nessa época, com todo mundo em casa, a gente percebe um aumento nas reclamações de barulho, de intolerância. As crianças também ficam em casa, sem poder sair para brincar, isso tudo acumulado gera uma certa carga emocional”, comenta. Para tornar a quarentena menos difícil, Elisabeth teve a ideia de contratar uma banda para entreter os vizinhos. “Foi muito melhor do que eu imaginava. Sempre tem um ponto de discordância e eu não tive nenhuma reclamação. Foi uma energia muito boa, houve interação entre os moradores nas janelas”, afirma. A atividade rendeu e a síndica pretende manter a iniciativa pelo menos uma vez por mês, mesmo após a quarentena.

E não é apenas a música que une os vizinhos, a solidariedade também marca presença. Os moradores fizeram do WhatsApp uma ferramenta para poderem se ajudar. “Abrimos um grupo para quem quisesse participar. Um sai para comprar coisas para o outro”, conta. Além disso, Elisabeth montou cestas básicas, com o apoio dos condôminos, e conta com a ajuda dos colegas para indicações de pessoas que precisem dos produtos.

 

Elisabeth Velásquez  é síndica de um condomínio em Águas Claras. Ela organizou uma campanha de doação de alimentos e convidou uma banda para tocar na piscina do prédio (d)

 



Coletividade


O professor de comunicação Rodrigo Pael, 36, também sentiu a importância da união na celebração do aniversário de 4 anos da filha dele, Helena. Rodrigo se surpreendeu ao ver os vizinhos irem até a janela cantar parabéns para a menina. O professor fez o convite por meio de bilhetes e viu a iniciativa se espalhar rapidamente, inclusive com respostas positivas até de desconhecidos. “Foi muito emocionante. Até os segundos anteriores eu tinha dúvidas se daria certo”, diz. Rodrigo ainda ficou surpreso pela quantidade de compartilhamentos do convite nas redes sociais de pessoas que se solidarizaram com a festa. “Para mim, essa crise vai tornar os seres humanos mais humanos efetivamente, mais solidários, mais preocupados com os outros”, opina.

As atitudes de solidariedade são importantes para o bem-estar emocional, segundo a psicóloga Muria Carla Ribeiro. Para ela, ações como ajudar um vizinho e ir até a janela cantar parabéns são um apoio psicológico diante do cenário de pandemia. “Isso dá conforto para a alma e para a mente. A gente sente segurança de que vai superar esta crise, de que vai vencer. Esses atos de amor e solidariedade fazem bem para a saúde mental”, ressalta.

Empatia


Muria acredita que a quarentena também está sendo um momento das pessoas buscarem mais empatia. “Vai além de ajudar o próximo, é se colocar no lugar do outro, de tentar entender o que o outro está passando. É muito importante restabelecer esse contato de convivência social, mesmo a distância”, afirma. As ações em prol do outro se repete por todo o DF. O músico Meolly, vocalista da banda Eduardo e Mônica, lançou o projeto Música em Casa. O objetivo é ir a condomínios, fazer shows e entreter os moradores nas janelas. “Para mim, esse é o momento da gente se ajudar. Eu tenho o privilégio de fazer música e posso levá-la para as pessoas que estão trancadas em casa. Fazer o bem é muito importante. Se cada um, com a sua profissão, conseguir fazer algo pelo próximo, a gente vai passar por isso com mais tranquilidade”, destaca.

Além de entreter os moradores, a ideia é receber doações para instituições de caridade. “Vamos circular pelos condomínios tentando angariar fundos para cestas básicas, compras de máscaras e material de limpeza”, conta Meolly. O projeto também pretende apoiar os artistas locais. Com o fechamento de comércios e suspensão de eventos, os profissionais ficaram parados. “A agenda das apresentações vai circular e, assim, devemos arrecadar também algum valor. A quantia será revertida para os músicos que estão sem trabalhar. É um jeito da gente ajudar as instituições e o pessoal da música”, explica.

Para o especialista em inteligência espiritual Fabrício Nogueira, a quarentena despertou na sociedade o senso de coletividade, que com o trabalho e a correria do dia a dia acaba ficando de lado, além de ter feito as pessoas valorizarem coisas simples, como atividades rotineiras e estar com a família. “A nossa natureza é de estarmos sempre juntos. A gente se sente mais seguro unido, porém, com a modernidade, o trabalho assumiu esse lugar e se tornou o motivo da nossa satisfação”, analisa. Fabrício ressalta a importância das pessoas colocarem seus dons à disposição dos outros, uma ação que devemos levar para além da quarentena. “Quando eu saio de mim e vou em encontro ao outro, eu percebo que o outro também me preenche e me faz feliz. Isso é muito bom. Mesmo virtualmente, as pessoas estão batendo mais papo, estão sentindo a necessidade de se aproximar”, destaca.

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