Cidades

Coronavírus: Idosos precisam de cuidados especiais durante a pandemia

Grupo de risco do novo coronavírus, pessoas acima de 60 anos representam 12,1% da população da capital. Destes, menos da metade tem acesso a planos de saúde, enquanto a renda média mensal deles varia entre R$ 7 mil, no Lago Norte, e R$ 630, no Itapoã

Correio Braziliense
postado em 17/04/2020 06:00

Segundo a Secretaria de Saúde, nove dos 10 primeiros óbitos por coronavírus no Distrito Federal foram de idosos: necessidade de atenção especialEspecialistas em saúde pública ressaltam diariamente a necessidade dos cuidados com os idosos, que fazem parte do grupo de risco do novo coronavírus. Pessoas acima dos 60 anos estão mais propensas a desenvolver casos graves, caso infectadas. Segundo levantamento da Secretaria de Saúde, nove dos 10 primeiros pacientes que morreram por conta da doença na capital tinham mais de 60 anos. Por isso, para estabelecer métodos de combate à Covid-19 é preciso conhecer quem são as pessoas que fazem parte desse grupo e qual a realidade delas.

Pesquisas realizadas com moradores do Distrito Federal mostram que esse grupo corresponde a 12,1% da população total da capital. Dados do Relatório de Desenvolvimento Humano 2019 mostram ainda que, em 2050, os idosos vão representar 25% do total de moradores do DF. Hoje, entre eles, predominam as desigualdades em relação à renda, sociedade e gênero.

Primeiro, é necessário entender os motivos dos riscos da Covid-19 em pessoas com mais de 60 anos. Para Priscilla Mussi, coordenadora de geriatria do Grupo Santa, isso está relacionado às doenças preexistentes. “Eles apresentam o maior número de comorbidades, como hipertensão, diabetes, obesidade, doenças pulmonares e cardíacas. Além disso, o envelhecimento provoca a imunossenescência, um processo natural que diminui a capacidade do sistema imunológico. Como resultado, aumenta de modo geral a incidência de doenças infectocontagiosas”, detalha.

Thelma Soares, 62 anos, por exemplo, tem diagnóstico de doença cardíaca e diabetes, então se preocupa mais com o coronavírus. “Sempre fui uma pessoa muito atenta às doenças para não ter complicações. Quando os primeiros casos da Covid apareceram em Brasília, eu, sabendo das minhas condições, reforcei os cuidados com a limpeza e parei de sair”, conta. A aposentada diz que cumpre à risca as medidas de isolamento social. “O único modo de prevenir é assim. Não adianta ficar em casa uma semana e sair uma noite”, afirma. Paralelo a esses cuidados, ela continua mantendo uma alimentação regular, controlando as taxas de glicemia e utilizando as medicações das comorbidades.

Milena Gerez, médica da Sociedade Brasileira de Cardiologia, diz que essas atitudes são essenciais. “Há muitos idosos e pacientes em geral esquecendo das outras doenças, se preocupando somente com o coronavírus. O volume de atendimento cardiológico, por exemplo, caiu 80% nas emergências de modo geral. Mas as pessoas têm que ficar atentas aos sintomas da própria doença, utilizando a medicação de forma correta e, caso sinta desconforto, recorrer a uma unidade de saúde ou até à telemedicina”, detalha a diretora de Promoção de Saúde Cardiovascular.

 

 

ilustração de dados 



Renda baixa


Outro ponto importante da análise de pacientes com mais de 60 anos é a realidade desse público, como fez a pesquisa Perfil dos Idosos no Distrito Federal, segundo as regiões administrativas, da Companhia de Planejamento (Codeplan), de 2013. A mostra de dados revela informações que podem auxiliar no entendimento desse público para combater o coronavírus. Os números mais preocupantes dizem respeito à renda. Apesar de 42,2% dos idosos terem acesso a planos de saúde, a maior parte desse percentual se concentra no Plano Piloto, com 84,9%; e no Lago Sul, com 90,7%. Enquanto isso, em regiões como a Estrutural e o Varjão, apenas 1,5% e 2,6% dos idosos, respectivamente, têm plano hospitalar privado.

Isso preocupou, principalmente, após o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmar, em março, que o sistema de saúde do Brasil entrará em colapso no fim deste mês, por conta da velocidade da propagação do novo coronavírus, sem conseguir garantir atendimento a todos. Apesar disso, a Secretaria de Saúde do DF considera que o crescimento de casos na capital está abaixo do previsto pelo governo, o que está garantindo o acesso ao sistema de saúde público. Essa rede será fundamental para a população de idosos da capital, pois, apesar do alto poder aquisitivo da unidade da Federação, ainda há cenários de grandes contrastes.

A renda média mensal desse grupo é de R$ 2.369,80, valor elevado se comparado com a população como um todo, mas esse número oscila entre R$ 7.245,12, no Lago Norte; e R$ 630,94, no Itapoã, uma diferença de 11,5 vezes entre as duas regiões. A média não ultrapassa os R$ 700 em cidades como Recanto das Emas, Varjão e Estrutural. Outro recorte significativo é o de gênero. Enquanto a renda dos idosos homens é de R$ 3.273, a das idosas é de R$ 1.668.

Moradia e região

Além da saúde física, geriatras alertam para a preocupação com a saúde mental dos idosos. Ainda segundo a pesquisa da Codeplan, 37,7% dos moradores do DF acima dos 60 anos são viúvos, separados ou solteiros. A solidão em tempos de isolamento social também pode ser prejudicial, mas não deve estar acima dos cuidados básicos. “A recomendação é não receber visitas ou restringi-las ao máximo possível. A saúde da mente deve ser estimulada por meio de leituras de livros prazerosos, não ficar o tempo todo na frente da tevê, falar com familiares pelos meios de comunicação frequentemente, assistir a celebrações religiosas on-line ou até tentar aprender algo novo, como culinária saudável, finanças, inglês ou meditação”, exemplifica Priscilla Mussi.

Exercícios físicos em casa, como recomendado à população mais jovem, devem ser prescritos apenas por profissionais de saúde, com o acompanhamento necessário para evitar acidades. A residência também tem peso importante nestes dias de isolamento. O que as pesquisas mostram é que grande parte da população de idade mais avançada no DF tem uma boa moradia, em regiões de alto poder aquisitivo. As maiores participações de idosos na população total estão no Lago Sul, 30,1%; Plano Piloto, 21,9%; e Lago Norte, 19,8%. Essas três regiões estão entre as cinco com mais casos de coronavírus, proporcionalmente.

Na mesma casa


Quem vive no mesmo lar que pessoas desse grupo também precisa redobrar os cuidados, como explica Priscilla Mussi. “Há casos em que é inevitável ter um fluxo de pessoas na casa. Como idosos que possuem cuidadores, por exemplo. Temos que olhar com cuidado, porque eles podem ir ao trabalho de ônibus ou ter contato com o vírus depois de sair de casa”, diz. Por isso, a recomendação da médica é que as pessoas que estão com os idosos e precisam se locomover para dentro e fora do lar deles, troquem de roupa e, se possível, tomem banho assim que entrarem na casa (do idoso), sem antes encostar em nada. Também é ideal o uso de máscara dentro do local por cuidadores e outros profissionais da saúde como fisioterapeutas e fonoaudiólogos, para proteção de todos e combate à disseminação da Covid-19.

Palavra de especialista

Ideal é ficar isolado

“Os idosos, via de regra, são pessoas com estado de vulnerabilidade orgânica maior. Eles são acometidos mais frequentemente pelas doenças crônicodegenerativas, como pressão alta, diabetes, doenças do coração e do pulmão. A maioria dessas doenças aumenta a prevalência com a idade. A própria debilidade dos idosos, também, como o enfraquecimento do sistema do organismo, diminuição relativa da imunidade, podem agravar mais o caso de coronavírus. Por isso, eles precisam ter os cuidados necessários. Sempre manter as mãos higienizadas, usando água e sabão, ou álcool em gel na falta desse recurso, evitar levar as mãos à boca, olhos e nariz, manter a etiqueta respiratória, ou seja, espirrar ou tossir somente no cotovelo dobrado. E, o ideal, é ficar isolado. Mas, se eles precisarem sair de casa para ir ao supermercado ou outro ambiente coletivo, devem usar máscara. Para o idoso que é independente, visitas desnecessárias devem ser evitadas. Mesmo que aquelas dos netos, porque eles podem ser transmissores.” Otavio Castello, médico geriatra e presidente da Associação Brasileira de Alzheimer do DF.

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