Cidades

Covid-19: vítima do Entorno morre em Goiânia por falta de leitos

O corpo do comerciante Joaquim Alves de Medeiros, 88 anos, foi enterrado, no último domingo (12/4), em Valparaíso de Goiás, Entorno do Distrito Federal

Correio Braziliense
postado em 17/04/2020 17:53
Joaquim Alves de Medeiros, 88, morreu em 8 de abrilJoaquim Alves de Medeiros, de 88 anos, morreu no último sábado (10/4), em decorrêcia de complicações por ter contraído o novo coronavírus. No atestado de óbito, a Covid-19 constava como uma das causas, além de falência múltiplas dos órgãos e uma parada cardiorespiratória. O idoso morava em Valparaíso de Goiás, mas estava internado no hospital de campanha de Goiânia, por falta de leitos de tratamento na região do Entordo no Distrito Federal. Joaquim foi enterrado no cemitério de Valparaíso, no domingo (11). 

Joaquim sentiu-se mal em 28 de março e foi levado às pressas por familiares a um Centro de Atendimento Integrado à Saúde (Cais). “Ele foi intubado e ficou no box de emergência. Fizeram exames de sangue e imagem. Ele foi diagnosticado com pneumonia e, em seguida, chamaram a vigilância epidemiológica para fazer o exame de Covid-19. A médica nos disse que ele precisava de uma unidade de terapia intensiva (UTI)”, disse o bancário Hugo Medeiros, 23 anos, neto de Joaquim.

O resultado do teste para o novo coronavírus saiu três dias após, com resultado positivo para a doença. Antes disso, no dia 29 de março, Joaquim teve que ser transferido para o hospital de campanha montado em Goiânia por falta de leitos na região do Entorno, segundo a família do comerciante. Eles também tentaram a transferência do idoso para Brasília, mas não conseguiram uma vaga. 
 
“A médica falou que o sistema se comunica somente entre as unidades do estado. A gente até tentou alguns contatos no DF, mas as pessoas falaram que é burocrático, quando o paciente dá entrada em outro estado para vir para o DF. Disseram que a forma mais fácil seria dando entrada em um pronto socorro de Brasília. Mas não tínhamos como sair com ele já intubado”, explicou o rapaz.

De acordo com o neto, Joaquim tinha uma única doença preexistente: o Mal de Parkinson. “Ele não tinha problema renal, diabetes, nada. E o Parkinson era controlado porque ele fazia uso contínuo de um medicamento”, disse. No entanto, a patologia do avô foi justamente o que levou familiares a irem até a capital goiana. “O pessoal do hospital de campanha solicitou que a gente levasse os medicamentos de uso contínuo dele”. Os remédios foram levados pela neta, Bruna Medeiros, irmã de Hugo.

No entanto, após 14 dias internado, prazo estabelecido para a quarentena, Joaquim não conseguiu vencer a Covid-19. “Uma assistente social ligou para a gente e pediu que algum familiar fosse até Goiânia e levasse documentos de identificação e comprovante de residência do meu avô. A gente saiu de madrugada porque a médica queria conversar com a gente pessoalmente. Já imaginávamos o que era. Mas ela não falou por telefone”, lembra Hugo.

Família

Na casa onde Joaquim Alves de Medeiros vivia, no Valparaíso, moravam também seus netos, Hugo, 23 anos, Bruna, 33 anos, e os filhos do comerciante, Elza, 61 anos, e Edvaldo, 62 anos. 

Logo após Joaquim ser internado, três deles apresentaram sintomas de gripe. Hugo, Bruna e Edvaldo tiveram febre. Dois deles também tiveram dengue, o que contribuiu para confundir o diagnóstico para coronavírus. No entanto, os três cumpriram quarentena de 14 dias mesmo sem serem testados para Covid-19.
 
“Não fizemos exames. A Secretaria de Saúde de Goiás disse que já éramos considerados como casos prováveis e que, por isso, não precisávamos fazer os exames”, disse Hugo. Os três estão recuperados dos sintomas.

 
Hospital de campanha

As obras para a construção do hospital de campanha de Águas Lindas de Goiás começaram em 8 de abril. De acordo o Ministério da Infraestrutura, o espaço deve ser inaugurado na semana que vem. Não há data estabelecida pela pasta.
 
O espaço determinado para o funcionamento do hospital é de 10 mil m² e foi terraplanado pela prefeitura de Águas Lindas. O local conta com instalações de gás, água, energia e esgoto. O local terá 200 leitos adaptáveis para unidades de tratamento semi-intensivas, com tubulação e suporte para respiradores. 
 
O Correio questionou a falta de leitos para internação de pacientes com Covid-19 do entorno do DF com a Secretaria de Saúde de Goiás, além das secretarias municipais de Valparaíso e Águas Lindas. No entanto, não obteve resposta até a mais recente atualização desta matéria. 

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