Correio Braziliense
postado em 19/04/2020 04:09
Em termos de capital, a quarentena preocupa, sobretudo, o setor produtivo. Francisco Maia, presidente da Federação de Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF) defende a reabertura, ainda que gradativa, do comércio antes do prazo dado, a partir de 3 de maio. “Ao menos 15% dos restaurantes do DF não irão funcionar mais”, lamenta. “E a gente tem que se organizar para orientar. Reabrir o comércio não significa que as pessoas vão correr para as lojas, porque ainda fica o temor de ir à rua.”
Segundo levantamento da instituição, a área de turismo deve ser a mais afetada, com potencial de reduzir 295 mil empregos em apenas três meses. “É uma devastação total, porque existe uma cadeia. Ela começa nos eventos que trazem milhares de pessoas para as cidades. Ali, há muito freelancer trabalhando, e então o desemprego cresce”, ressalta. Com o Congresso Nacional operando em home office, ocupações em hotéis também reduzem, além do cancelamento de voos, que deixam de trazer turistas para a capital.
Dono de uma empresa que produz eventos, o empresário Frederico Barros, 37 anos, sentiu o baque. Com 10 trabalhos já marcados, e que precisaram ser cancelados, ele calcula prejuízo de R$ 300 mil. Contratações temporárias, como de recepcionistas, organizadores e produtores, também foram suspensas. “Conosco, ao menos 60 pessoas deixaram de trabalhar por dia. Ao todo, foram pelo menos 200 pessoas”, calcula.
Ele está conseguindo manter os contratados formais, assim como estagiários, por meio do corte de despesas. “Existe uma linha de crédito do BNDES, junto ao governo federal, para pagar o salário dos funcionários”, destaca. Além disso, aposta, na criação de um aplicativo para eventos on-line, com shows de artistas a preços populares, o que irá gerar renda para produtores, músicos e causas sociais.
Três perguntas para
Três perguntas para
César Bergo, presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-DF)
Já é possível saber se houve aumento do desemprego no DF,
em decorrência da crise do coronavírus?
em decorrência da crise do coronavírus?
Do ponto de vista de emprego físico não tem como ver, até pela dinâmica de apuração desses dados. Alguns setores estão prejudicados e outros demandam mão de obra em função da crise: saúde, limpeza e manutenção predial. Que a crise vai atingir sobretudo o emprego informal e autônomo, não há dúvidas. Alguns setores foram atingidos de frente: área de hotelaria e restaurante. Mas, supermercado aumentou (a demanda), porque as pessoas cozinham mais em casa. A crise é alegria de alguns e tristeza para outros, na questão de economia. Brasília é uma cidade muito dependente do serviço público, e esse não vai demitir. Se a gente tratar do mercado local, há grande manutenção no emprego federal e no do GDF. Isso já é um alento, em comparação a outras capitais.
Sabemos que o isolamento social é importante, mas que
ele gera impactos na economia. Como podemos diminuir os prejuízos?
ele gera impactos na economia. Como podemos diminuir os prejuízos?
Já existia uma mudança no trabalho, o vírus só antecipou a coisa. As pessoas estão arrumando formas novas de trabalho. Brasília é cidade de alto risco, então o isolamento é fundamental, e as pessoas vão acabar revendo a forma de trabalho. Do ponto de vista de mobilidade urbana, é algo positivo. Mas por outro lado, nem todo mundo tem essa oportunidade. Algumas funções estão sendo criadas em termo de atividades e prestação de serviço. Brasília tem espaço para a criatividade e para as pessoas se reinventarem. Vai ter para todo mundo? Não. Temos problemas, mas acho que, em termos de emprego, a gente vai ter uma queda absurda; estimamos algo em torno de 20% a 30% de desemprego acima da taxa que estava anteriormente.
O que é possível fazer para contornar a
situação e evitar aumento nos índices de desemprego?
situação e evitar aumento nos índices de desemprego?
O Estado tem que ser indutor do desenvolvimento, então, nesse primeiro momento, ele terá um papel fundamental no estímulo ao emprego. É necessário apoio aos empresários. O BRB tem disponibilizado crédito às micro e pequenas empresa, que são as maiores empregadoras do país, mas existe muita burocracia. Os paradigmas têm que ser quebrados.
Olhando o lado dos trabalhadores, tem que haver proteção para eles. O que a gente tem visto é empresário com discurso de demissão, e isso gera intranquilidade. Muitas pessoas não têm a cobertura da seguridade social. Não tem como buscar hospital.
Por último, tem de haver diálogo entre os poderes Executivo e Legislativo. Que esqueçam essa guerra ideológica para cuidar do povo, pensando unicamente em salvar o máximo possível das pessoas, ao invés de disputar no palitinho quem vai ganhar alguma coisa.
A dor vai ser grande. O pior não passou ainda, está por vir. Você tem que adotar medidas que protejam o empregado. A gente não tem essa segurança porque tudo é novo. Nesse momento, a economia tem que mostrar os instrumentos, porque os valores são humanos. O investimento tem que, sobretudo, recuperar o turismo, o transporte e as empresas de evento.
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