Cidades

Mais pneumonias em 2020

No Distrito Federal, que soma 861 casos confirmados de infecção pela Covid-19, registros civis de cartórios apontam que neste ano, em menos de quatro meses, houve mais mortes por complicações pulmonares do que em 2019

Correio Braziliense
postado em 20/04/2020 04:36
A cidade registrou 47 novos casos ontem e chega a 861 infectados. Especialista orienta que é preciso ter vigilância


O Distrito Federal é a 13º unidade da federação no ranking do Ministério da Saúde de contaminações pelo novo coronavírus. A capital do país registrava ontem 861 casos e 24 mortes. Mas informações referentes ao registro civil dos cartórios relacionadas à causa de mortes levantam uma dúvida sobre o real cenário da pandemia que já contaminou mais de 2,3 milhões de pessoas no planeta. 

Como se sabe, doenças pulmonares são a principal causa de óbito por Covid-19. E os números de mortes com esse tipo de complicação cresceram consideravelmente neste ano em relação a 2019, segundo o Portal da Transparência do Registro Civil. Ao longo de todo o ano passado, 864 pessoas morreram de pneumonia no Distrito Federal. Do primeiro dia de janeiro até ontem, ou seja, em menos de quatro meses, o número de óbitos com essa causa chega a 931. 

Mortes por insuficiência respiratória também subiram bastante. Em 2019, 478 pessoas perderam a vida nessa situação. Neste ano, já houve 544 casos. Se considerarmos o país, também houve aumento. Em 2019, houve 57.995 mortes por pneumonia e 44.282 por insuficiência respiratória. Nos primeiros quatro meses de 2020, esse patamar está quase equiparado. Há registros de 54.813 e 41.602, respectivamente. 

O presidente da Associação dos Notários e Registradores do DF (Anoreg-DF), Allan Nunes Guerra, explica que os dados são absolutamente confiáveis. Os cartórios transcrevem para o registro de óbito o que veio na Declaração de Óbito — DO, como causa da morte. “Não posso opinar acerca do que o médico declara como causa da morte. Mas rigorosamente o que ele declara vai para o registro de óbito“, explica Allan.

As subnotificações provocam discrepâncias em relação ao cenário da pandemia do novo coronavírus. Por isso, o Governo do Distrito Federal pretende realizar dois mil testes por dia a partir desta semana. Os exames serão feitos prioritariamente em pessoas que tenham algum dos sintomas da Covid-19 (febre, tosse, dor no corpo e na garganta, principalmente), ou que tenham mantido contato com pacientes infectados. Servidores das áreas de saúde e segurança que estão mais expostos ao coronavírus também serão tratados com prioridade nos testes.

Desde o início da pandemia, o Distrito Federal realizou 10.208 exames na rede pública e nos laboratórios particulares. A média é de 3.645 testes por milhão de habitantes. Os Estados Unidos fazem o dobro: 7.101 por milhão. 

Com 47 casos a mais confirmados ontem, o Distrito Federal registrou 861 pacientes infectados com a Covid-19. Os números são de dados compilados pela Secretaria de Saúde, até às 18h. Desses, 543 apresentam infecções leves; 46, moderadas, e 17 de infecção grave. Além das confirmações, outros 120 casos estão sendo analisados. No fim de semana, o DF não registrou mortes. O número de óbitos permanece 24: 11 mulheres e 13 homens. Todos apresentavam alguma comorbidades ou tinham mais de 60 anos.

O boletim divulgado pela Secretaria de Saúde também mostrou um aumento nas recuperações. Segundo a pasta, 67% (582) dos pacientes estão curados. 

Para a infectologista Ana Helena Germoglio, é possível mais pessoas estarem curadas da doença. “A gente não testa mais pacientes que não ficam internados, então é possível que tenham mais. A recuperação dos casos leves é da mesma forma de quadros gripais”, explica. 

Alerta

No fim de semana, o Ministério da Saúde afirmou que o DF deixou o estado de emergência e segue em estado de atenção, uma vez que os casos estão crescendo abaixo da média nacional. Porém, o aumento dos números da doença são a prova de que ainda é preciso ficar em vigilância. 

Para a infectologista, a recomendação ainda é permanecer em casa. “Isso pode dar para a população a falsa sensação de que está tudo certo. A gente pode ter vencido a primeira batalha, mas a guerra não acabou. Percebi hoje (ontem) muita gente na rua, mas ainda precisamos ficar vigilantes. Não é porque estamos fora do estado de emergência que está tudo bem”, alerta Ana Helena. 

Outro ponto levantado pela infectologista é em relação à importância de a doença não chegar às regiões administrativas mais pobres. Segundo os dados divulgados ontem, o Plano Piloto ainda é a área com a maior concentração de casos da doença no DF. São 194, correspondente a 22,5% do total, seguido de São Sebastião (11,%), devido aos infectados no Complexo da Papuda, e Águas Claras (9,2%). “Grande parte da população da periferia não tem plano de saúde e se muitas pessoas ficarem doentes ao mesmo tempo o Sistema Único de Saúde (SUS) não aguenta”, diz.


Hospital na Papuda fica pronto em 30 dias
Os secretários de Saúde, Francisco Araújo, e de Segurança Pública, Anderson Torres, visitaram, ontem, o espaço onde está sendo construído um hospital de campanha no Complexo Penitenciário da Papuda, para tratar os internos infectados pelo coronavírus. Na vistoria, os gestores confirmaram que o processo topográfico de nivelamento do terreno já foi iniciado no, até então, campo de futebol da unidade. Ao todo, serão 900m² de área construída, com 10 leitos de suporte avançado e 30 de enfermaria. O espaço receberá contêineres que serão usados como estrutura para o hospital de campanha. A previsão é de que a obra fique pronta em 30 dias.
 
 

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