Correio Braziliense
postado em 20/04/2020 04:36
Durante a quarentena é comum as crianças ficarem mais agitadas que o normal. Ansiedade, tédio e saudades da antiga rotina são alguns dos sentimentos vividos nesse período. A dúvida sobre o que é esse vírus, que os proibiu de sair de casa, também é corriqueira. Para ajudá-los na questão e na nova rotina, pais e mães têm buscado atividades alternativas que possam ser feitas em casa e distrair a meninada. As novidades ajudam na saúde mental dos filhos e aproximam as relações familiares.
Diego Albuquerque, 3 anos, todos os dias brinca com o pai, Rodrigo Albuquerque, 30, nos horários livres, intercalados entre as atividades escolares. As brincadeiras vão de batalha naval de papel a armadilha de raio laser imaginário. O analista de sistemas busca ideias na internet ou de alguma brincadeira que gostava de fazer na infância. “As atividades são para criar uma rotina. Mesmo que elas sejam diferente todos os dias, ele sabe que aquele horário está reservado para fazermos algo juntos. Isso ajuda a ele entender quando tenho que me concentrar para trabalhar”, explica o pai.
A diversão vem depois da obrigação. Todos os dias Diego assiste a videoaulas. “Pela idade é apenas uma aula por dia. “Às vezes a professora também passa alguma atividade para fazermos em casa”, conta Rodrigo. No começo, a adaptação aos novos hábitos foi difícil. “Ele ficava triste por não ir ao parquinho ou andar de bicicleta”, relembra o pai. O diálogo foi importante para que o filho entendesse a situação. O pai ainda demonstrou por experimento com água, detergente e orégano a importância de lavar as mãos. Com o sabão nos dedos, a erva se afastava. “Hoje ele entendeu e está acostumado com a nova rotina”, conclui Rodrigo.
Para Renata Pena, 36, as primeiras semanas de março, pós-decreto, foram as mais difíceis. Diretora em uma escola pública, ela teve que levar todo o trabalho para casa e conciliar com o do marido, que também dirige uma escola. “No começo o cenário era de incertezas. A gente teve que se adaptar primeiro à situação, para depois conseguir se organizar”, explica ela. Além do serviço em casa, os pais tiveram que se dividir para dar atenção à filha Isabella Pena, 3. “Foi pesado no início, foi cansativo, quase que desesperador. Mas conseguimos encaminhar os afazeres no trabalho, nos readaptar e ajudar a Bella a administrar as emoções”, relata a mãe.
Com paciência e amor, Renata passou a trabalhar os sentimentos da garota durante a quarentena. “Ela sentia muita saudade da avó, dos amigos e do convívio social. Então um dia peguei os números dos celulares das mães das coleguinhas mais próximas e pedi para fazermos uma ligação de vídeo para elas conversarem. Ela ficou superfeliz”, conta.
A circunstância também estimulou a criatividade da mãe. “Já fizemos piquenique na sala, armamos uma cabana, atividades de pintura, uma festa para as bonecas, brincadeira de separar os grãos que tinham em casa, aulas de balé pelo YouTube e algumas receitas juntas”, diz a mãe. A situação aproximou a família. “Fomos mais para dentro da rotina da Bella, porque antes a gente trabalhava o dia inteiro. Hoje fazemos as refeições juntos. Ela também me ajuda nos afazeres da casa, como arrumar mesa, separar as louças e temperar salada”, conta Renata.
A psicóloga Raquel Manzini explica que neste momento é importante os pais saberem diferenciar o que pode ou não contribuir na rotina dos pequenos. “Seguir uma programação rígida ou baseada em cartilhas imutáveis pode ser prejudicial para os responsáveis e para os filhos. Rotinas muito duras colocam os pais em uma postura de ter que ser especialista em tudo e também acaba tornando o dia a dia das crianças extremamente cansativo”, informa a especialista. Para Raquel, durante a quarentena, sentimentos como tédio, desestímulo no estudo, raiva e tristeza são normais, e estabelecer alguns horários pode ajudar a controlar as emoções. “Uma rotina mínima dentro da pandemia ajuda na saúde mental, como estipular horários para o banho, para comer, para assistir à aula e para estudar, por exemplo”, explica a psicóloga.
Aulas
Verônica Teodoro, 36, determinou um horário de atividades escolares para as filhas. Durante a manhã, Alice Teodoro, 8, tem aulas, acompanhada da avó. No horário, a caçula Elisa, 3, se entretém com a televisão. Quando chega do trabalho, por volta das 14h, Verônica dá continuidade com as atividades da mais velha e auxilia a mais nova com os deveres de casa. “Às sextas-feiras, elas também participam de um projeto literário. Podem escolher o livro que quiser ler e depois fazer um resumo da história”, explica a mãe.
A hora do estudo também é respeitada na casa de Rafaella Lacerda, 36. A professora de design de moda e empresária segue uma rotina fixa com Olívia Lacerda, 6. Além das aulas remotas ao vivo, uma vez por semana ela assiste às aulas de inglês. “Eu e o pai dela estabelecemos uma rotina com os horários de brincar. Tentamos gerir o tempo, às vezes funciona, outras vezes não funciona tão bem. Mas estamos sempre tentando adaptá-la”, conta a matriarca. A hora da diversão também é programada. “Estamos nos virando com o que temos e deixando com que ela desperte a criatividade”, relata. “Está sendo interessante essa convivência. Temos conversado bastante, falamos de valores, do que acreditamos e sobre nossa percepção de mundo”, completa Rafaella.
Para fazer em casa
A pedagoga Mylena Melo dá algumas dicas de convivência
A pedagoga Mylena Melo dá algumas dicas de convivência
» Explore a imaginação das crianças. Lençóis viram cabanas, recortes de revistas viram colagens e quebra-cabeças;
» Façam lanches juntos. Além de ser um passatempo divertido, podemos incentivar os pequenos a se alimentarem melhor;
» Vejam filmes juntos e comentem depois. Perguntem as cenas preferidas, se teve algo que não gostou, etc.;
» Façam experiências e deixem-os se sentirem “grandes cientistas”. Coisas simples, como um vulcão de bicarbonato e refrigerante, encantam as crianças;
» Invista em brincadeiras antigas, como adedonha, jogo de pontinhos no papel, pega vareta, dama e dominó.
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