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Correio Braziliense
postado em 23/04/2020 04:06

Quem vai nos proteger 3?


Que me desculpe o leitor em busca de assuntos amenos, mas os fatos nos atropelam e impõem os temas. É inacreditável: o governador Ibaneis da Rocha pretende promover uma abertura do comércio e das escolas, começando pelo segundo grau. Em 8 de abril, o governador declarou, em entrevista, que era preciso manter o isolamento, pois o pico da Covid-19 ocorreria a partir das próximas semanas. Pois bem, dois dias depois, ele assinou o decreto de liberação do comércio de imóveis, produtos eletrônicos e do Sistema S. O último se justifica em decorrência da produção de máscaras.

Agora, propõe a abertura do comércio e a retomada das aulas nas próximas semanas. Em qual governador acreditar: no que determinou o isolamento antes dos outros estados e seguiu como parâmetro Singapura ou no que participou de reunião com o ministro da Cidadania, Ônix Lorenzoni? Singapura chegou a ser apontada pelo OMS como uma das referências no combate ao coronavírus. No entanto, a lição a ser aprendida de Singapura é a de que ela relaxou o isolamento antes da hora e, por isso, enfrenta graves problemas.

Em 15 de março, ostentava a estatística de 200 casos confirmados. Pouco mais de um mês depois, em 20 de abril, o número de infecções diárias chegou a 1.400, totalizando 8 mil casos. A maioria dos cientistas recomenda que a flexibilização só seja realizada após ser ultrapassado o pico dos casos. É o que assistimos em países da Ásia, da Europa e nos Estados Unidos. Brasília está muito longe de atingir o ápice da crise.

Nas entrevistas coletivas, tudo parece encaminhado em uma concatenação perfeita. O governador promete tomar todas as medidas de segurança necessárias. Mas as intenções do governador do DF despertam a preocupação de infectologistas, professores, pais e alunos. Como manter o distanciamento em uma sala com 50 ou 60 alunos? 

Se os profissionais da saúde, que estão na linha de frente do  combate ao coronavírus, se encontram em uma situação de vulnerabilidade e ameaça em razão da falta de equipamentos, como garantir que eles não faltarão nas escolas? Alega-se que todos os estudantes usarão máscaras. Se essa medida fosse suficiente não haveria pandemia no Japão ou na China, países imbuídos do hábito cotidiano de utilizar máscaras. Nem os Estados Unidos consegue fazer testes em massa.

O DF começou muito bem nas ações de combate ao coronavírus. Mas é lamentável que questiúnculas eleitoreiras tenham se misturado às políticas de proteção à vida em momento tão crucial. Como bem disse a mãe de um aluno: estão querendo nos fazer de cobaias. É só observar o que acontece no Amazonas e no Ceará para vislumbrarmos um trailer do que pode ocorrer em outros estados.

O fundamento científico dessas decisões precisa ser apresentado. Por enquanto, o que se sabe é que alguns governantes estão se curvando a interesses menores que colocam a vida dos cidadãos em risco. O que Brasília tem a ganhar com essa subserviência? Isso vai afetar a imagem da capital da República em relação ao Brasil. Quando Brasília se submete, o Brasil se avilta. Quando Brasília se eleva, o Brasil se engrandece. Mais Brasília, mais Brasil.

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