Cidades

Quarentena no DF: flexibilização chega aos cultos religiosos e ao Drive in

Depois de liberar parte do comércio, o governador Ibaneis Rocha (MDB) permite celebrações religiosas em estacionamentos, desde que os fiéis fiquem nos carros. Armarinhos, lojas de tecidos e o Cine Drive In também poderão abrir as portas

Correio Braziliense
postado em 25/04/2020 06:00
Prevenção ao novo coronavírus: equipes higienizam trem da Companhia do Metropolitano do Distrito Federal durante segundo ciclo de desinfecção no meio de transporteCinquenta dias depois do primeiro diagnóstico do novo coronavírus, o Distrito Federal chegou a mais de mil casos confirmados, contabilizando 26 mortes. Apesar dos números, que crescem diariamente, o Executivo local estuda retomar a atividade comercial e retornar as aulas das redes pública e privada no próximo mês. Nesta quinta-feira (24/4), o governador Ibaneis Rocha (MDB) flexibilizou mais uma vez medidas de restrição estabelecidas na capital. Agora, cerimônias religiosas poderão ser celebradas dentro de veículos. Além disso, armarinhos, lojas de tecidos e o Cine Drive In poderão voltar a funcionar.

De acordo com o decreto, publicado em edição extra do Diário Oficial do DF (DODF) de ontem, cultos, missas e rituais de qualquer credo ou religião poderão ocorrer em estacionamentos, desde que os fiéis permaneçam nos veículos e respeitem a distância mínima de dois metros entre cada automóvel. No Cine Drive In, os espectadores também deverão permanecer dentro dos carros e fica vedada a comercialização de produtos.

Em 19 de março, o governador interrompeu toda a atividade comercial no DF devido à Covid-19. Desde então, a medida passa por flexibilização e alguns setores começaram a retomar as atividades. Bancos, lotéricas, ópticas e lojas de móveis e de eletroeletrônicos voltaram a funcionar nas últimas semanas. A expectativa é de que boa parte do comércio da capital se normalize a partir de 3 de maio, data-limite do decreto do GDF. Entretanto, os segmentos de bares e restaurantes e de academias deverão permanecer fechados.

Após o início da pandemia, o Executivo local lançou um programa para limpeza e desinfecção de áreas de grande circulação de pessoas e equipamentos públicos. A ação funciona por meio da Secretaria Executiva das Cidades, que visa combater a disseminação do coronavírus e de doenças causadas por arboviroses, como dengue, zika, febre amarela e chicungunha. São usados caminhões-pipa, inseticidas, sanitizantes e equipamentos de remoção de entulho e lixo. A ação começou em 31 de março e passou por Ceilândia, Sol Nascente, Samambaia, Taguatinga, Plano Piloto, Lago Sul e Águas Claras. Na próxima semana, a desinfecção deve ocorrer no Sudoeste e no Guará.

A Companhia do Metropolitano do DF (Metrô/DF) também higieniza os trens. Na madrugada de hoje, a empresa encerra o segundo ciclo de desinfecção. De acordo com a autarquia, profissionais usam o produto quaternário de amônio, aprovado pela Anvisa, que mantém uma camada protetora contra a ação do vírus nas superfícies. Além disso, a cada 30 minutos, é feita a limpeza em bloqueios, bilheterias e corrimãos com peróxido de hidrogênio.

Estrutural

Boletim divulgado na noite de ontem pela Secretaria de Saúde mostra que a capital tem 1.140 casos confirmados de coronavírus e 26 mortes. Do total, 547 são considerados recuperados. Além disso, há 67 pessoas internadas devido à doença, sendo 33 em unidades de terapia intensiva (UTIs) e 34 em enfermarias. No total, são 624 homens e 388 mulheres diagnosticados com a doença.

Até o momento, 24.825 pessoas foram testadas no DF. Desde terça-feira, a Secretaria de Saúde começou a fazer exames em massa pelo modelo drive-thru em Águas Claras e no Plano Piloto, cidades com maior incidência da Covid-19. Em quatro dias, 14.617 passaram por essa análise. A expectativa é de que a checagem seja expandida para outras cidades. A partir de segunda-feira, os shoppings Park Shopping e Iguatemi terão os estacionamentos usados para esse serviço.

O óbito mais recente aconteceu na quarta-feira. Segundo a Secretaria de Saúde, a vítima é um idoso de 85 anos, morador da Estrutural. Ele faleceu em casa, e os familiares esperaram mais de cinco horas para que o corpo fosse recolhido. Ao Correio, o filho da vítima, que preferiu não se identificar, contou que o pai chegou à capital havia cerca de um mês em busca de tratamento médico para outras enfermidades. “Em 16 de abril, meu pai estava confuso, desorientado, não conseguia se comunicar. Para alguém sempre ativo, que brinca e come de tudo, achamos que poderia ser princípio de AVC e ligamos para o Samu”, relembra. De acordo com ele, no Hospital Regional do Guará, os médicos constataram que o paciente estava com pneumonia e recebeu alta para tomar medicação em casa. Entretanto, na manhã de quarta-feira, o idoso morreu.

Ontem, o filho fez o exame para o novo coronavírus, que deu negativo. Ele não sabe como os médicos chegaram à conclusão de que o pai estava com a doença. Em nota oficial, servidores da Secretaria de Saúde coletaram o material para o teste. “A família é monitorada pela equipe de referência da Unidade Básica de Saúde da Estrutural”, informou.

Celebração

Na semana santa, fiéis se organizaram para celebrar o feriado religioso. Às vésperas do Domingo de Ramos, em 4 de abril, no Santuário Dom Bosco, na Asa Sul, o padre Jonathan Costa celebrou a missa por meio de transmissão on-line. Os fiéis acompanharam a cerimônia de casa e tiveram as fotos coladas nos bancos da igreja. Mais de mil pessoas assistiam à missa, entre moradores da capital e outras regiões do país. Na noite de domingo, após a missa que abriu a semana santa, os sacerdotes passaram pelos blocos da Asa Sul, para abençoar os ramos dos fiéis, sem que eles saíssem das residências.

Cinco perguntas para

Alexandre Cunha, vice-presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal

Quais os riscos de flexibilizar o isolamento social enquanto os casos continuam a crescer? 
O DF tem crescimento de casos e curva de ascensão lentos. No atual ritmo, com as medidas mantidas, teríamos um distanciamento social e a restrição das atividades por tempo indefinido, o que é impraticável do ponto de vista econômico. É preciso fazer uma flexibilização do distanciamento social, mas tem de ser feita gradualmente e por setores. Além disso, tem de haver o distanciamento entre uma flexibilização e outra, se observando os resultados 15 dias depois, para que as coisas não saiam do controle.

Com a reabertura do comércio prevista para 4 de maio, o que devemos esperar? 
Isso deve trazer aumento no número de impactos. Porém, isso não é um problema, desde que seja suportado pela rede de saúde. O impacto deve ser sentido de 10 a 15 dias depois dessa flexibilização.

O cenário atual é propício para a retomada das aulas? 
A retomada de aulas deve ocorrer apenas na segunda quinzena de maio, justamente depois de se observar o impacto da reabertura do comércio. As crianças são vetores importantes na disseminação do vírus. O que está em preparação é apenas o plano, a depender de como a curva de casos se comportar depois da liberação do comércio.

O número de casos no DF está muito abaixo da realidade? A testagem em massa deve impactar os dados?
Sim, está muito abaixo da realidade, porque a gente não testa toda a população. Com essa testagem em massa do GDF, talvez a gente tenha entre 10 e 20 vezes mais casos do que os que estão confirmados por exames laboratoriais. Porém, acompanhando a curva de internações e de óbitos, que são dados mais palpáveis, e estimando o número de casos, ainda temos um crescimento pequeno.

Existe alguma previsão de quando a capital chegará ao pico de contaminações?
Depende das medidas. Talvez o DF tenha vários picos. Com a liberação do comércio, a gente deve ter um pico cerca de 15 dias depois. Se a capital vai ter um decréscimo posterior, depende das medidas que serão tomadas. Portanto, não dá para falar em pico único. A cada liberação de atividades, deveremos ter um pico, seguido por uma normalização com o passar dos dias.


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