Cidades

Contadores de histórias de Brasília promovem lives literárias na internet

Durante a pandemia, contadores de histórias recorrem a cenários, figurinos e sons para encantar o público infantil com vídeos transmitidos pela internet. Experiência também pode ser repetida em casa e serve para aproximar pais e filhos

Correio Braziliense
postado em 27/04/2020 06:00

Érica Nathair e a caçula, Nicole, envolvem a família na contação de histórias: O isolamento social alterou a rotina de todas as pessoas do Distrito Federal e, em especial, o dia a dia das crianças que precisam aprender e se divertir em um só lugar: em casa. Para promover esse momento de lazer e se divertir com a criançada, contadores de histórias levam o mundo mágico dos livros para a internet. Cenário, sonoplastia, figurino, além de uma boa história. Todos os detalhes podem ser acompanhados pela tela do celular ou pelo computador, basta apertar o “play”.

 

Érica Nathair, 40 anos, aproveitou o período para retornar às contações de histórias que fazia durante a infância da filha mais velha, Yasmin Nathair, 16. “Estávamos sem ter o que fazer em casa e decidimos ocupar o tempo com uma produção na qual todos da casa pudessem participar. O meu marido filma, e a mais velha ajuda com a música”, conta a servidora pública. Além dela, a protagonista, desta vez, é a caçula, Nicole Nathair, 9. O objetivo, a princípio, era distrair o sobrinho. “A primeira releitura que publicamos no Instagram era do livro A Casa Sonolenta, que ele adora”, relata. Mas o vídeo fez sucesso também entre outras crianças. “Teve muitos comentários e pedidos das pessoas para que publicássemos mais. Então, decidimos continuar com as contações”, disse.

 

Os vídeos são elaborados para o IGTV no Instagram e contam com cenário, figurino e sonoplastia. Apaixonada por literatura, a pequena Nicole tem facilidade para decorar as narrativas. “São histórias que eu conto para ela desde pequena”, explica a mãe. “O fato de a Nicole contá-las acaba fazendo com que outras crianças se identifiquem também”, completa Érica. A experiência pode render planos futuros. “Como eu conheço bastante histórias, tive a ideia de fazer um canal para indicar livros para crianças pequenas e grandes”, planeja Nicole.

 

A Associação Amigos das Histórias, fundada em 1995 por William Reis, 52, enxergou a web como oportunidade de continuar a trabalhar e de levar divertimento para as crianças em meio à pandemia. O grupo reúne 45 integrantes e atua há 25 anos no ramo da contação de histórias. Durante a pandemia, eles começaram a usar as redes sociais como ferramenta de trabalho. Anualmente, em 20 de março, no Dia do Contador de Histórias, a associação realiza um evento comemorativo. No entanto, o espetáculo não ocorreu presencialmente devido ao isolamento causado pelo coronavírus. “Neste ano, nós fizemos em um formato diferente, a internet foi o nosso local de encontro em uma live de 14 horas na semana passada. Foi a primeira vez que realizamos uma transmissão na web”, conta William.

 

O grupo está no Facebook, Instagram e YouTube. Segundo William, a visibilidade aumentou com o uso das plataformas on-line, o número de curtidas cresceu e houve um aumento da procura do conteúdo na internet. “Nós conseguimos entrar nas residências e levar a importância dessa atividade. Esses momentos de escuta aproximam os membros da família, além de estimular a criança a ter hábitos de leitura”, relata o fundador da Amigos das Histórias.

 

Alcance inesperado

Mariana Witczak, a Tia Mari, narra histórias no Instagram: sucesso e fãs no Canadá

 

A estudante de pedagogia e contadora de histórias Mariana Witczak, conhecida como Tia Mari, 28, teve a iniciativa de manter seu ganha-pão e fazer o que ama depois que amigas e mães da escola onde trabalha sugerirem a ela contar histórias no Instagram. Com o sucesso no canal, Mariana conquistou fãs até no Canadá. “Eu acabei atingindo crianças e corações de pessoas que eu nem imaginava. É uma alegria como contadora de histórias, porque é isso que eu gosto de fazer”, compartilha. Os conteúdos publicados on-line também trouxeram novas oportunidades. “Com os vídeos no IGTV, outras escolas contratam meu trabalho. Eu estou com uma demanda de gravação muito grande; então, eu fiz um combinado de contar histórias três vezes por semana, e as crianças aceitaram muito bem”, relatou.

 

Uma das principais influências no desenvolvimento do amor de Mariana por contar histórias foi a mãe, professora de língua portuguesa, que lia e inventava contos para ela e para os irmãos. “Eu comecei com essa atividade com meus sobrinhos há 8 anos, mas, em 2017, eu descobri a minha paixão por contar histórias para bebês”, relembra a contadora de histórias.

 

Para a psicopedagoga Marcela Von Bentzeen, as histórias têm papel fundamental na vida e, na infância, são cruciais durante o tempo de quarentena. “É um período de vulnerabilidade e contar histórias para as crianças traz leveza e alegria”, explica. “O momento da contação de história é um horário em que o adulto vira o interlocutor de delícias, um momento que só fará sentido se estiver de corpo e alma nele”, acrescenta. Segundo ela, não há idade para se encantar com o mundo da leitura. “Desde os bebês, que ainda sem entender o conteúdo já se encantam pelo formato do livro, imagens e a cadência na voz de quem conta, como para os maiores, que têm o prazer de fazerem sozinhos a leitura de um bom livro, entrando, assim, em mundo particular de sua imaginação”, ressalta a especialista.

 

Duas perguntas para Kamylla Novais, terapeuta ocupacional

 

Durante a quarentena, como a contação de histórias e leituras de livros podem trazer benefícios para as crianças? 

Esse momento de isolamento social e de maior contato entre as famílias pode ser aproveitado em conjunto. Contar histórias vai além do ato de ler. É um momento de formação de vínculo com seu filho, momento de criar memórias que ele levará para toda a vida. Quem não lembra de histórias que os pais contavam quando crianças? Contar histórias estimula a fala, criatividade, leitura, o reconhecimento de palavras, as formas, figuras. E, principalmente, desenvolve o hábito e o prazer pela leitura, que são fundamentais para a aprendizagem infantil.

 

Quais são as recompensas da leitura para quem conta as histórias?

Acredito que a maior recompensa para os pais que contam a história é o sorriso da sua criança, o vínculo construído e a interação entre pais e filhos. Essa quarentena veio para ressignificar o nosso tempo, para aprendermos a dar valor às pequenas construções do dia dia em família. E ver seu filho aprendendo, criando e feliz é a melhor recompensa que os pais poderiam ter.

 

Acompanhe

 

Associação Amigos das Histórias

Instagram: @amigosdashistorias

Telefone: (61) 98568-0643 (William Reis)

 

Tia Mari

E-mail: tiamaricontahistoria@gmail.com

Instagram: @tiamaricontahistorias

Telefone: (61) 98266-5315

 

Kamylla Novais
Instagram: @t.o_kamylla 

Telefone: (61) 992002666 

 

* Estagiária sob supervisão de Guilherme Goulart 

 

 

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