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Correio Braziliense
postado em 28/04/2020 04:07

Mundo melhor

Em meio à crise sanitária global, resolvi ler Utopia para realistas: como construir um mundo melhor, do jovem historiador holandês Rutger Bregman (Editora Sextante). O livro se tornou best-seller nos Estados Unidos. Nem direita nem esquerda: Rutger propõe um novo olhar sobre a história. E, para começar, uma pequena lição: no passado, tudo era pior.

Ele alinha argumentos: durante 99% da humanidade da história do mundo, 99% da humanidade era composta de pobres, famintos, sujos, aterrorizados, estúpidos, doentes e feios. No entanto, nos últimos 200 anos, tudo mudou, segundo Rutger. Enquanto 84% da população mundial ainda viviam na extrema pobreza em 1820, em 1981 essa porcentagem caiu para 44% e, hoje, poucas décadas depois, está abaixo de 10%.

A partir da análise desses números, Rutger pondera que, se essa tendência se mantiver, a pobreza extrema, que era uma característica perene da vida, em breve poderá ser eliminada para sempre:" Mesmo aqueles que são considerados pobres vão usufruir de uma abundância sem precedentes na história".

Com as inovações tecnológicas e as lutas sociais, as mutações da história se aceleraram. A renda anual da Itália no ano 1300 era em torno de US$ 1,6 mil. Ela permaneceu intacta durante 300 anos. Somente em 1850 se tornou 15 vezes maior do que era antes da Revolução Industrial, quando quase todos, em todo lugar, ainda eram pobres, famintos, sujos, aterrorizados, estúpidos, doentes e feios".

Em relação à saúde, o mundo também passou por mutações positivas. A temível varíola foi erradicada completamente. A poliomelite praticamente desapareceu. Em 1836,o homem mais rico do mundo, Nathan Rotschild, morreu por falta de antibióticos.

Rutger argumenta que temos todos os instrumentos para resolver os problemas do mundo globalizado. "A verdadeira crise é que não conseguimos ter ideia de como seria um mundo melhor". Ele cita Oscar Wilde para quem "o progresso é a realização das utopias". E aqui chegamos ao grande ponto da questão e da proposta de Rutger. Por que milhões de pessoas ainda vivem na pobreza, quando temos riqueza suficiente para extinguir definitivamente esse mal?

Estudos em várias partes do mundo mostram que existe uma correlação entre a distribuição de dinheiro e as reduções de criminalidade, mortalidade infantil, desnutrição, gravidez na adolescência, crescimento econômico e igualdade de gênero. É possível atribuir essas ideias a "comunistas". Mas elas já foram defendidas pelos fundadores do neoliberalismo: Friedrich Hayek e Milton Friedman.

A proposta de Rutger pode despertar o ceticismo, mas ela nos faz sonhar com um mundo melhor, menos desigual e mais feliz. Abre algumas janelas na mente: "Se não fossem os utopistas, nós ainda seríamos pobres, famintos, sujos, aterrorizados, estúpidos, doentes e feios", argumenta Rutger.

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