Cidades

Morre, aos 80 anos, o jornalista Ronan Soares, em Brasília

Pioneiro, Ronan chegou à capital em 1959. No Planalto Central, viu e retratou o nascimento de Brasília

Correio Braziliense
postado em 30/04/2020 16:59
O jornalista passou por vários veículos e foi um dos editores do Jornal NacionalRonan Soares, uma pessoa de “alma livre”, como descreve a filha Simone Souto Maior, morreu, ontem, aos 80 anos, em Brasília. O jornalista, que passou os últimos dois anos internado em decorrência de uma úlcera, jamais perdeu a alegria, sua marca registrada. “Ele foi gentil até o último segundo. Mesmo cheio de dores, ele nunca reclamou por estar internado. Era só agradecimentos à equipe médica”, conta a filha. 

A genialidade notória acompanhou toda a trajetória de Ronan. “Ele estudou só até a 7ª série, deixou os estudos para trabalhar e ajudar a sustentar os irmãos. Aos 16, foi morar sozinho em São Paulo e fez a primeira revista do banco onde trabalhava. Minha avó contava que em 15 minutos ele fechava a edição do Jornal Nacional na máquina de escrever e bebendo uísque. Ele era genial”, relembra o neto Bernardo Souto Maior.

Leitor apaixonado, Ronan inspirou-se na literatura para escolher o nome dos três filhos. “Eu, Simone, recebi o nome de Simone de Beauvoir. Meu irmão Marcel, de Marcel Proust, e o caçula João, de Guimarães Rosa”. O amor pelas palavras foi uma valiosa herança deixada à família. “Eu também escrevo e, lá no início, ele me incentivava. Lia meus textos horrorosos e dizia que estavam ótimos”, lembra o neto, agradecido. 

O filho caçula João Cunha Soares seguiu os passos do pai no jornalismo, mas o maior aprendizado foi com a bondade do pai. “Ele nos ensinou a tratar todos da mesma forma, desde o presidente ao zelador. Ele jamais foi egocêntrico, mesmo sendo dono de uma inteligência raríssima e cultura igualmente rara. Ele era conhecido pelos trocadilhos, pela diversão, mesmo nos momentos difíceis que uma redação tem diariamente”, relembra João.

Lembrança

Em 1975, Ronan entrou para a TV Globo, onde trabalhou como editor no Jornal Nacional, no telejornal Amanhã, no programa Painel e no Globo Revista. Na cobertura do Itamaraty, o jornalista conviveu com o escritor que inspirou o nome de seu filho caçula. À época, Guimarães Rosa ocupava cadeira diplomática, e em uma entrevista presenteou Ronan com uma lembrança simples, que o acompanhou durante toda a vida. 

“Quando Rosa foi questionado sobre o cargo, ele respondeu ao meu avô que tudo que ele precisa saber sobre diplomacia estão nos livros. Então, meu avô logo mudou de assunto e perguntou sobre a recém-construída Brasília. Guimarães sacou um pedaço de papel e escreveu: 'De nuvem a nuvem, o céu se faz'. E completou dizendo: ‘se não fossem as nuvens, seria o infinito. Até hoje este pequeno papel assinado está na carteira dele”, conta o neto Bernardo. 

* Estagiária sob supervisão de Adson Boaventura

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