Correio Braziliense
postado em 02/05/2020 06:00
A pouco mais de uma semana do Dia das Mães, os comerciantes estão desanimados com o cenário de vendas durante a pandemia do novo coronavírus. Isso porque a data festiva será comemorada em 10 de maio, um dia antes da previsão de reabertura dos comércios. O adiamento anunciado pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), foi justificado por fatores como a garantia de distribuição de máscaras à população antes da reabertura e a possibilidade de aglomerações de consumidores na busca pelos presentes.É a segunda vez que a data é adiada, diante da necessidade de se manter o isolamento social para frear a disseminação do vírus, e, por isso, o cenário para o setor se torna cada vez mais incerto. “A gente tinha uma expectativa de que o comércio reabriria em 4 de maio. A mudança foi um balde de água fria. Desta vez, será pior, porque acontecerá depois do Dia das Mães. Em termos econômicos do varejo, esse dia não vai existir. Não temos nem como estimar quanto vai vender”, explica o vice-presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio do DF (Sindivarejista), Sebastião Abritta.
De acordo com levantamento da entidade, quando o comércio for reaberto, pelo menos 300 lojas de shoppings e de rua, em entrequadras, não vão mais funcionar e cerca de 1,6 mil funcionários terão perdido o emprego. “É necessário ter a consciência dos cuidados sanitários devido à doença, mas acho que temos que conciliar esse momento da economia com a saúde”, acrescenta o vice-presidente.
Com o cenário econômico desfavorável para a comemoração, alguns representantes pensaram em mudar a data, entre eles o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-DF), José Carlos Magalhães Pinto. “Eu fui favorável ao adiamento do Dia da Mães, mas não foi uma ideia vencedora. A possibilidade futura era não só de entregar um presente, mas de poder dar uma abraço na mãe e ficar um pouco mais perto. A opção foi rejeitada, pois grandes varejistas já tinham feito estoques para vendas on-line na data”, explica José Carlos.
“Para o comércio de rua, será uma data fraquíssima. Não vai ter aquela compra de impulso, do momento. Mas a gente não sabe se muitos vão entregar um presente pequeno e depois entregar um melhor ou se o dinheiro economizado em saídas, comidas, entre outros, será passado para o Dias das Mães e acabar tendo um tíquete-médio maior na compra deste presente”, observa o presidente.
Apesar do impacto econômico, o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Francisco Maia, vê a preparação para a reabertura do comércio com bons olhos. “A gente sabe que é ruim, porque o Dia das Mães é um momento de maior lucro para os comerciantes, mas a busca pela segurança também é necessária”, avalia. “O que a gente está pensando em fazer é propor para a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) de juntar o Dia das mães com o Dia dos Namorados. Amor em dose dupla, esta é a nossa ideia”, explica Francisco.
O setor de shopping centers também sofrerá o impacto do isolamento social. Em todo o país, o faturamento é de R$ 190 bilhões por ano e a expectativa diante da crise causada pelo coronavírus é de que esses negócios percam até R$ 60 bilhões em receita, segundo dados levantados pela Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). A entidade, no entanto, já traça planos para a reabertura parcial, orientando as unidades associadas em todo o país.
“Estamos prontos para uma abertura gradual e segura, que preserve a saúde de todos os envolvidos no processo e também ajude na retomada da economia do Brasil”, afirma o vice-presidente da Multiplan, administradora de shopping centers, Vander Giordano (leia Cinco perguntas para). No DF, os shoppings Brasília, JK, Terraço e Taguatinga, das Organizações PaulOOctávio; o Conjunto Nacional; e o ParkShopping se preparam para a reabertura. Entre as medidas de segurança adotadas estão a testagem dos funcionários para Covid-19, aquisição de máscaras de proteção individual e consultoria de infectologistas.
Vendas on-line
Com a indefinição do momento, a florista Andiara Antunes, 36 anos, não perdeu tempo e passou a fazer um atendimento personalizado para os clientes. “Busco entender o perfil e a ocasião pra montar algo de acordo com aquela comemoração. Já estou recebendo várias encomendas para o Dias das Mães, e, como o comércio não poderá ser reaberto antes dessa data, acredito que as flores serão uma opção muito buscada”, prevê a comerciante, que tem loja na Asa Sul. Com a adaptação tomada durante a pandemia, a mudança da reabertura do comércio não impactou diretamente a comerciante. “Toda a transação é feita de forma on-line. Logo, não fui prejudicada por essa decisão de não reabrir o comércio”, explica.
O meio on-line foi a solução para a designer Isabela Viana, 26 anos, comprar o presente da mãe e não deixar a data passar em branco. “Pretendo dar uma máquina de café de cápsula. Ainda estou pesquisando os preços, mas a internet será a opção para presenteá-la”, diz. O presente é uma forma de agradecimento e valorização. “Ela me criou, fez tudo por mim e pela nossa família e continua fazendo até hoje. Nenhum presente no mundo se compara ao que ela faz. Então, é só uma forma de tentar agradecer e demonstrar que ela é importante”, declara Isabela.
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer
- Cinco perguntas para Vander Giordano
Vice-presidente institucional da Multiplan
O que acha da reabertura dos shoppings agora? Não é arriscada?
Shoppings são, por natureza, ambientes controlados e seguros. E qualquer passo dado na atual situação do país deverá ser em sintonia com as determinações dos órgãos de saúde pública e ações de prevenção à transmissão do coronavírus. Além disso, o que temos no país, hoje, é uma situação bastante heterogênea entre regiões e os diferentes municípios. Adotamos rígidos critérios, orientados inclusive por um infectologista. Por isso, acreditamos que a reabertura dos shoppings pode acontecer de forma segura: com horário de funcionamento reduzido, controle de fluxo de pessoas, controle de temperatura corporal, uso obrigatório de equipamentos de proteção individual para colaboradores, higienização ampliada de ambientes, aumento da ventilação interna, ampliação da quantidade de pontos de álcool em gel, remoção dos bebedouros, distanciamento de mesas nas praças de alimentação, limitação do número de veículos nos estacionamentos, dentre outras medidas.
Por qual motivo começar a abertura agora?
Estamos prontos para uma abertura gradual e segura, que preserve a saúde de todos os envolvidos no processo e também ajude na retomada da economia no Brasil. Os shoppings da Multiplan geram mais de 90 mil empregos diretos, fora os indiretos. Essa semana, completamos mais de 40 dias de operações comerciais suspensas em todo o país. Combater o coronavírus é essencial e estamos com diferentes ações no sentido de dar suporte à saúde pública e às comunidades relacionadas aos nossos empreendimentos. É preciso, porém, olhar também para um cenário de desemprego e retração na capacidade de consumo, que terá impactos seríssimos em diferentes cadeias de produção. Por isso, é necessário que discutamos formas de começar a reabertura do comércio no Brasil de maneira que a saúde e a segurança estejam garantidas. Os shoppings geram inúmeros empregos e recolhem impostos importantes para a manutenção do sistema público de saúde.
Quais são os cuidados que os shoppings deverão ter ao abrir?
Os empreendimentos estão preparados para adotar as melhores práticas com objetivo de preservar a saúde e a segurança dos clientes, colaboradores e fornecedores. São ambientes controlados e higienizados, podem fornecer exames de Covid-19 para testar seus trabalhadores, tornar obrigatório o uso de máscaras, permitir o distanciamento e limitar o fluxo de pessoas, utilizar dispositivos para medição de temperatura das pessoas, desativar bebedouros, e controlar sistemas de ventilação com técnicas de filtragem e renovação do ar, muito comuns nos sistemas utilizados nos supermercados.
Quais são os pontos negativos de abrir os shoppings neste momento? E os positivos?
Conforme já mencionado, os shoppings geram inúmeros empregos e recolhem impostos importantes para a manutenção do sistema público de saúde. As áreas de estacionamento podem ser disponibilizadas para a realização de drive-thru de testes em massa, organizados por secretarias de Saúde. Essa contribuição é muito importante neste momento que as estruturas públicas carecem de suporte. É preciso somar esforços. Por fim, como são ambientes controlados, oferecem mais conforto e segurança a consumidores.
Acha possível essa reabertura agora?
Diante de todo o processo e política de combate desenvolvida por renomados profissionais da saúde e por critérios científicos que embasam essa reabertura anunciada em Brasília, estamos prontos para realizar este processo de forma segura e colaborativa, tão logo o poder público autorize.
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