Correio Braziliense
postado em 03/05/2020 04:16
Sem aliança, poucos preparativos, nada de salão de beleza, nem a presença física de amigos e familiares ou do almoço ou o jantar para celebrar a união. O bancário Leonardo Barbosa, 29 anos, e a jornalista Paloma Conde, 27, estiveram juntos no cartório. Por alguns minutos, nada de Covid-19 e nada de pandemia. Só o amor. Era 24 de abril e, diante de um Juiz de Paz, o casal oficializou a união de oito anos. “Em meio à quarentena, uma coisa boa aconteceu: casamos. Não teve a festa que planejamos, nem família e amigos presentes e nem vai ter a sonhada viagem de lua de mel, mas teve nós dois”, escreveu o noivo nas redes sociais.
De acordo com portaria de 13 de abril de 2020, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), a cerimônia de casamento civil pode ser realizada desde que, previamente informados, os interessados aceitem que, no ato da celebração, estejam fisicamente presentes apenas os noivos e as testemunhas, sem prejuízo da transmissão, em tempo real, por meio virtual, para outras pessoas. Caso haja mais de um casamento na mesma data, os oficiais devem zelar para que haja um intervalo mínimo de uma hora entre as cerimônias.
Paloma brinca que é a rainha do casamento e que, durante mais de um ano de noivado, planejou todos os momentos e todas as etapas de acordo com o gosto e o estilo dos dois. “Esperei tanto por isso, mas, quando chegou a minha vez, vem o apocalipse”, conta, aos risos. Os dois organizaram chá-bar, realizaram ensaio fotográfico e prepararam uma despedida de solteiro — que, inclusive, entrou no pacote de adiamentos. “Eu ia para o Rio de Janeiro com as madrinhas, e o Leo, para Florianópolis com os padrinhos, agora em abril, Mas deixamos para setembro”, acrescenta a jornalista.
A cerimônia religiosa estava marcada para ontem. No dia seguinte, os recém-casados embarcariam rumo à sonhada viagem pela Itália. “O civil, a gente marcou para umas semanas antes, 24 de abril. Mas, quando estourou a pandemia, tudo mudou de uma hora para a outra. Em março, ainda achávamos que aconteceria como o planejado. No último fim de semana antes do isolamento total, chegamos a ir para Goiânia entregar uns convites. Mas, na segunda, o governador prolongou a quarentena e percebemos que não seria possível. Além de tudo, minha irmã mora nos Estados Unidos e o voo dela passaria por Nova York”, conta Paloma.
Preocupados, ela e o noivo entraram em contato com cada um dos fornecedores da cerimônia e optaram por adiar a celebração para outubro. “O civil, achamos que não ia acontecer, porque o cartório, em um primeiro momento, falou que estava tudo cancelado”, relembra. Uma semana antes do dia 24, contudo, os dois receberam um e-mail questionando se gostariam de manter a data para oficializar a união, desde que só os noivos, com as duas testemunhas. “Topamos na hora. Não sabíamos quando seria possível voltar ao normal. Adoramos a ideia”, comenta.
Para ninguém ficar de fora, o casal montou duas reuniões em um aplicativo de transmissão on-line — uma para os amigos e outra para a família — e, ao lado das testemunhas escolhidas por eles, assinaram os papéis. Até a maquiagem desejada virou realidade depois de uma aula virtual de duas horas e meia com a maquiadora que ajudou Paloma. “Na hora, é uma frustração. Mas vimos que foi a melhor decisão a ser tomada. Não tem como descrever o momento. Para a gente, foi emocionante, e acho que, ainda assim, o religioso vai ser mais, porque é diferente. O civil foi muito legal, todo mundo acompanhando virtualmente, nos sentimos amados. Muita gente comentou que o amor supera tudo”, finaliza a noiva.
Laço reforçado
A troca de alianças também ficou para depois no caso da pedagoga Alice Rabello, 31, e do dentista Fernando Bueno Baptista, 43. A brasiliense e o paulista enfrentaram cinco anos de namoro a distância e, há dois, moram juntos na capital federal. “Em meio a esse tanto de notícia ruim, vendo vários casais falando em separação neste período de quarentena e a gente, pelo contrário, melhor ainda, dando certo, pensamos em ter uma boa notícia. Então, sentamos e marcamos para oficializar a união estável com duas semanas de antecedência”, conta Alice.
De máscara de proteção e sem avisar amigos e familiares, os dois foram até o Cartório Asa Norte — 4º Ofício de Notas do Distrito Federal — e assinaram os papéis em 28 de abril. “Só avisei para todo mundo depois de acontecido. Aí comentaram que a gente era maluco, mas que era algo incrível, uma boa notícia no meio disso tudo, que nós dois combinamos muito”, descreve a pedagoga. A foto tirada na saída da cerimônia será emoldurada. “Tipo aquela história: se sobrevivemos a este período, poucas coisas podem nos derrubar. Meio maluco, né? Mas se pensar demais, nada sai na vida. Nos somos assim, se concordamos, vamos!”, brinca Alice.
É justamente a graça, o humor e o jeito leve que a pedagoga imprime na voz que também guarda o segredo do relacionamento. “Ambos somos bem-humorados. Se não tiver humor, não tem jeito. A gente briga, mas na mesma hora, ri. Respeitamos muito os nossos espaços”, afirma Alice. Diante do Juiz de Paz e do noivo, a pedagoga lembra que sentiu alegria e segurança. “Era realmente esse relacionamento. Estava firmando algo que lá atrás a gente ficava meio inseguro, mas agora, não”, pontua. Depois do cartório, o casal comprou uma refeição para celebrar em casa a união, enquanto não podem reunir a família para comemorar.
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