Cidades

Projetos do DF doam produtos para migrantes em situação de vulnerabilidade

A pandemia deixou as pessoas mais distantes fisicamente, mas impulsionou a solidariedade

Correio Braziliense
postado em 04/05/2020 06:03
Oscar Dun, 57, July Bandes, 54, e Idethy de Bandes, 80, vieram da Venezuela e ficam gratos pelas doações
Mudar de país e adequar-se a uma nova cultura estão entre os desafios enfrentados por migrantes e refugiados. Durante a quarentena, a busca pela sobrevivência se torna uma luta diária. Enfrentar as mudanças causadas pela pandemia de coronavírus, muitas vezes, longe de familiares e amigos torna o processo ainda mais difícil e doloroso. Por isso, gestos de caridade e empatia fazem a diferença neste momento. A solidariedade está entre os compromissos que podem se fortalecer durante esta crise mundial.

Em Brasília, voluntários de diferentes projetos demonstram isso oferecendo ajuda a quem precisa, independentemente da nacionalidade. Integrantes do Português de Acolhimento, da escola Vila Brasil, mobilizaram-se para arrecadar dinheiro e produtos essenciais aos necessitados. “A gente entrou em contato com migrantes e refugiados do projeto para saber como estavam. Nisso, acabamos descobrindo que vários passavam por dificuldades financeiras”, conta a coordenadora do projeto, Ana Luíza Gabatteli.

No primeiro mutirão, o grupo conseguiu arrecadar R$ 4.694 e ajudar 36 pessoas. “Com o valor, compramos 44 cestas básicas, quatro botijões de gás de cozinha, além de pagar a gasolina para o transporte até as casas dos alunos”, relata Ana Luíza. A entrega dos produtos foi feita com todos os cuidados necessários e recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os voluntários usaram luvas, máscaras e álcool em gel, além de adotarem o distanciamento.

“A união de todos foi fundamental para que o movimento de arrecadação fosse rápido e eficaz na distribuição dos alimentos neste momento de crise”, comenta a organizadora. A iniciativa também incentivou outras doações. “A Embaixada dos Emirados Árabes Unidos vai doar 20 cestas e ainda vamos organizar a entrega”, diz. “Temos novos alunos, entrando no programa. Então, vamos ajuda-los também, assim como alunos mais antigos. E uma parte vamos doar para o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH)”, conta a coordenadora.

Venezuelanos agradecem


A solidariedade foi essencial na casa de Marizabel Atopo, 46 anos. Com a crise, ela perdeu o emprego e não consegue arcar com os gastos de casa e alimentação. “Eu trabalhava em um restaurante que fechou com a pandemia. Quando o pessoal do projeto me perguntou como estava sendo minha vida, fui sincera: muito difícil”, relata a venezuelana. As doações fizeram a diferença. “Aqui moramos eu e meu filho. As cestas básicas ajudaram demais. Fiquei bem emocionada com a ação. Só achei ruim não poder abraçar para agradecer”, explica, rindo.

“O pessoal aqui no Brasil é muito bom. É um país acolhedor”, completa. O técnico em informática Oscar Henrique Dun, 57 também ficou grato pela iniciativa. “A gente não pode pedir para ninguém pagar nossos gastos pessoais. Nós que tínhamos que arcar com eles, mas não estávamos conseguindo”, desabafa. “Quando me ligaram perguntando como estava minha situação e oferecendo ajuda, foi um alívio”, relembra Oscar.

Ana Luíza Gabatteli e Eliani de Moraes, coordenadoras do Português de Acolhimento
Ele, a mulher e a sogra vieram da Venezuela para o Brasil em dezembro de 2019. Na capital federal, porém, ele não conseguiu oportunidade de trabalho até o momento. “Procurei emprego por todo o canto e, apesar de meu currículo ser bom, ainda não surgiu nada”, lamenta. Com a pandemia, tudo ficou ainda mais difícil. “Como minha sogra é cardíaca e usa marca-passo, ela precisa tomar remédios bem caros.” Por isso, mais de 30% do dinheiro recebido no auxílio-benefício foi usado para pagar medicamentos.

 “A gente tem muita ajuda. As pessoas são muito boas aqui no Brasil. Na chácara que eu moro, por exemplo, a dona deixou eu e minha família pagarmos o aluguel em forma de serviço. Isso nos ajudou demais”, relata Oscar. “Também estamos fazendo uma horta de legumes”, acrescenta. Neste tempo frio, a família também procura doações de agasalhos. “Como trabalho na área de informática, posso auxiliar quem precisar de apoio com isso. Gostaria de retribuir todas as boas ações que fizeram para a gente”, comenta.

Colabore
Quer ajudar ou obter mais informações? 
Entre em contato pelo e-mail: acolhimento@cursovilabrasil.com.br, pelo Facebook facebook.com/cursovilabrasil ou pelo site www.cursovilabrasil.com.br.

Agricultura solidária


A empresa socioambiental Matres decidiu apoiar migrantes e refugiados doando produtos orgânicos. Por meio de campanha organizada pela instituição, 100% do valor arrecadado são destinados ao financiamento e à produção de alimentos orgânicos, garantindo a entrega segura para famílias refugiadas no Distrito Federal durante a pandemia do novo coronavírus. “A Ana Luíza nos procurou pedindo apoio para articular uma solução que tornasse possível oferecer alimentos orgânicos de qualidade para famílias refugiadas em extrema situação de vulnerabilidade e decidimos acolher esse desafio”, afirma Renata Navega, diretora da Matres.

“Entrando em contato com agricultores de Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSA)  parceiras, mapeamos a possibilidade de organizarmos o excedente da produção no período da quarentena e criarmos cotas solidárias”, descreve. “Isso para que as pessoas pudessem ter uma forma segura de apoiar financeiramente uma ação social que levará alimentos orgânicos cultivados pela agricultura familiar local até famílias que já abriram mão de tudo um dia para tentar uma nova vida em outro país”, explica a diretora.

Atualmente, participam do projeto a chácara Pé na Terra, de CSA homônima, com cinco cotas para o projeto; e o Sítio Renascer, da CSA da Florestta, com 10. Ambas as comunidades produzem frutas e hortaliças orgânicas. “É uma nova forma de unir pessoas no campo e na cidade, fortalecendo as comunidades que sustentam a agricultura e fazendo os alimentos invisíveis do afeto, esperança e solidariedade chegarem a quem mais precisa neste momento de crise e nutrir um futuro mais humano para todos nós”, acrescenta Renata.

Saiba mais
Para saber mais sobre a rede de Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSA) em Brasília, acesse o Instagram @rede.csabrasilia e identifique os diversos pontos de convivência no DF pelo site www.csabrasilia.worpress.com

Quer ajudar?


Siga os passos: Faça seu cadastro on-line como co-agricultor solidário em renata828510.typeform.com/to/SwbMnQ

Confira os dados das famílias refugiadas ou migrantes e indique com qual valor deseja ajudar:

R$340*: valor da cota mensal. Período: maio, junho e julho de 2020 — é possível informar o mês ou os meses que deseja apoiar.

R$85*: Valor da cesta avulsa — é possível informar com quantas cestas deseja apoiar a iniciativa.

Você receberá uma mensagem de agradecimento semanalmente quando os alimentos chegarem.

* Entrega em domicílio incluída.

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