Cidades

Quadrilhas juninas se preparam para apresentações quando passar a pandemia

Durante isolamento social, integrantes dos grupos de quadrilha do Distrito Federal ensaiam em casa, virtualmente. Expectativa é de que as apresentações ocorram fora de época dos festejos

Correio Braziliense
postado em 05/05/2020 06:00
Nathália Silva treina as coreografias pelo celular e entende o isolamento social: Canjica, bandeirolas, pamonha, chita e muita diversão. Tradicionalmente, em maio começa a contagem regressiva para as famosas festas juninas. Em tempos comuns, o brasiliense incluiria na agenda os festejos de São João que se espalham pela cidade até setembro. Porém, este ano, o pé de moleque, o quentão e o forró terão que esperar. Com a quarentena, as festas não poderão ocorrer em junho ou tão cedo. E se o público lamenta, para os quadrilheiros o coração aperta ainda mais. Na esperança de comemorações fora de época, os grupos usam a tecnologia para ensaios virtuais, no qual cada integrante dança em casa.

A expectativa da Liga Independente de Quadrilhas Juninas do Distrito Federal é de que os grupos possam se apresentar em um festival fora de época, previsto para o fim de agosto. O pedido foi protocolado e está em fase de conversa com o Governo do Distrito Federal, segundo o diretor de eventos da liga, Robson Vilela, conhecido como Fusca. “A ideia é de que o nosso festejo seja um renascimento para a população do DF”, ressalta. Por meio de nota oficial, a Secretaria de Cultura afirmou que até o momento não há programação confirmada referente às festividades. Porém, os quadrilheiros seguem esperançosos e permanecem com os ensaios virtualmente. “O movimento junino não vai parar, nós vamos continuar ensaiando”, destaca Robson.

Esse é o caso do Formiga da Roça, de São Sebastião. Usando a internet, os integrantes da quadrilha treinam os passos em casa, respeitando o isolamento social. “O coreógrafo envia os vídeos para os dançarinos, eles ensaiam, filmam e depois mandam o vídeo de volta para o coreógrafo”, explica o presidente do grupo, Patrese Ricardo da Silva. As apresentações da quadrilha começariam este mês, mas a programação foi cancelada devido à pandemia. Porém a possibilidade de uma apresentação pós-quarentena anima os quadrilheiros. Além de preparar o grupo, Patrese acredita que os ensaios são uma forma de distrair os jovens em casa.

A enfermeira Roseane Ferreira, 32 anos, aprovou a iniciativa. Ela dança quadrilha há 11 anos, e apesar de sentir falta dos ensaios presenciais, vê a tecnologia como uma boa alternativa. Duas vezes na semana, ela tira a saia rodada do guarda-roupa e não poupa esforços para pular São João. “Para quem é quadrilheiro, esse ano está sendo bem atípico. Mas a gente está se acostumando”, diz. “O mundo não esperava essa crise. A saudade aperta e é bem doloroso saber da possibilidade de não ter São João”, completa.

O ensaio on-line também foi a alternativa adotada pela quadrilha Si bobiá a gente pimba, campeã regional e nacional do concurso de quadrilhas juninas do ano passado. Para a assistente administrativa Nathália Santos, 24, mudar a forma de treinar os passos foi uma questão de adaptação à nova realidade. “O ensaio presencial faz muita falta. Nesse período, geralmente, é tudo muito decisivo, porque é a época em que começa as apresentações. Então tudo fica mais intenso”, explica. A jovem dança quadrilha desde 2013 e, apesar da paixão, compreende se não for possível a realização da festa. De acordo com ela, cuidar da própria saúde e do próximo são prioridades. “Se acontecer, vai ser maravilhoso, mas se não, a gente vai entender. Tem uma outra situação por trás de tudo e não podemos ser egoístas, pensar na nossa felicidade e deixar outras pessoas correrem risco de vida”, destaca.

Social

A permanência dos ensaios vai além das expectativas de uma festa fora de época. “Quadrilha não é só uma dança, é um trabalho que ocupa o tempo das pessoas, é um trabalho social de jovens que muitas vezes sem ocupação acabam indo para a criminalidade”, explica Lethicia Martins, noiva e integrante da coordenação da quadrilha Si bobiá a gente pimba. Atualmente, a quadrilha de Samambaia envolve 160 integrantes, produção e dançarinos. Pessoas que, além de acreditar em um São João ainda em 2020, se mobilizam para ajudar a população da cidade durante a pandemia.

“Em 2020 a nossa quadrilha está completando 28 anos. Para comemorar, fizemos lives com conversas sobre o tema. Para ajudar os necessitados, pedimos doações de cestas de verduras e caixas de leite”, destaca Lethícia. O grupo conseguiu arrecadar cerca de 145 cestas, totalizando mais de uma tonelada de alimentos, além de caixas de leite que também foram entregues com os itens. As doações atenderam pessoas carentes de cidades, como Samambaia e Santa Maria.

Igrejas

Muitas das festas juninas acontecem nas igrejas, que com o isolamento social também têm adiado ou cancelado as comemorações em homenagem a Santo Antônio, São João e São Pedro. A tradicional festa junina da Paróquia Nossa Senhora do Rosário, no Lago Sul, acontecia sempre na primeira semana de junho, mas esse ano foi cancelada. Porém, para não deixar os fiéis sem sentir o gosto das festividades, o pároco da igreja, o padre Delson Zacarias dos Santos, decidiu comemorar duas datas importantes para a igreja juntas. “Vamos fazer uma única comemoração englobando a festa junina e a festa da padroeira, prevista para outubro”, afirma.

O evento reunia, em média, 4 mil pessoas em três dias de comemoração.  Segundo o padre, será uma perda social e financeira. “As paróquias vivem de doação e as festas juninas também são uma forma de entrar um dinheiro extra para reformas. Esse ano, íamos concertar o telhado da igreja com a arrecadação da festa. E também não vamos ter a confraternização dos fiéis. O povo gosta, reunimos a família, a comunidade, as pastorais”,  comenta. Apesar das perdas sem as quadrilhas, o sacerdote entende a importância da quarentena para o bem de toda a população. “É necessário haver esse isolamento social. Todo mundo compreende e a igreja vai fazer o que for melhor para a comunidade”, destaca.

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