Correio Braziliense
postado em 07/05/2020 04:07
As aulas presenciais no Distrito Federal estão suspensas desde o dia 12 de março, quando o governo decretou medidas de combate ao coronavírus. A rápida disseminação da covid-19 obrigou ações imediatas, e os professores tiveram que se adaptar em um curto espaço de tempo à nova rotina. Mas, nesse cenário de instabilidades, surgem inovações. Driblando problemas que surgem, educadores da capital usam a criatividade para manter os alunos em contato com a escola, mesmo a distância. Para isso, vale dar aulas em lives, criar páginas no YouTube, utilizar ferramentas de edição para vídeos dinâmicos e até promover atividades em família.
Professores lembram que, antes de iniciar o processo, é preciso entender a realidade dos estudantes. Cristine Hélida dos Santos dá aulas no Centro de Ensino Médio 404, de Santa Maria, e conta que identificou quais as plataformas mais utilizadas pelos alunos para levar o conteúdo até elas. “Como eles são bem antenados no Instagram e no Facebook, procurei utilizar esses meios, porque são alunos de ensino médio, e temos dificuldade de prender a atenção deles. Então, pensei em usar redes que são comuns no cotidiano dos garotos”, explica a professora de informática. Uma das estratégias que mais fazem sucesso é quando Cristine colhe dúvidas que os estudantes mandam pelo WhatsApp, e prepara aulas que são ministradas ao vivo no Instagram.
“Planejo a atividade com uma semana de antecedência, anoto a demanda que chega e elaboro um roteiro. As primeiras interações que fiz foram para ensinar como se faz o pedido de isenção de taxa de inscrição do Enem, e o CEM 404 foi uma das escolas do DF que mais teve isenções”, comemora a professora. Ela acredita que essas experiências vão fazer com que os jovens tenham mais facilidade para utilizar a internet para os estudos, após o período da pandemia. “O uso de ferramentas digitais agora vai dar uma alavancada na nossa educação lá na frente”, acredita.
Acolhimento
Além da preocupação em fornecer conteúdos do programa pedagógico para que os alunos mantenham os estudos, os educadores ainda observam com sensibilidade outras carências dos jovens nesse período. Adriano Francisco da Silva é supervisor pedagógico do Centro de Ensino Fundamental 206, no Recanto das Emas. Ele lembra que a escola não pensa somente nas disciplinas, e essa reflexão deve ser feita também a distância. “Discutimos o que iríamos fazer pensando não só em dar conteúdo, mas em permitir o contato com o aluno. Às vezes, eles querem desabafar devido à situação psicológica que se encontram, às vezes nos procuram porque estão em uma família com vulnerabilidade e precisam de alimentos”, detalha.
Pensando nisso, o CEF 206 abriu canais de comunicação com os estudantes que permitem a interação com os diferentes profissionais da instituição. “Temos uma psicopedagoga, psicóloga, gestores da sala de recursos e orientadores. Todos eles fizeram pastas na plataforma digital da escola e trabalham com elas para acolher nesse momento difícil. Isso tem que ser feito, nós temos que tentar entender a realidade de cada um dos alunos”, avalia.
Interação
Criatividade e conteúdo. Esses são os dois elementos que não faltam no 'Caderninho das Grandes Descobertas', dos alunos da Escola Classe 413 Sul. A iniciativa faz parte do projeto Interagindo com as Famílias. “Assim que as escolas foram liberadas para voltarem às aulas a distância, fizemos uma reunião por teleconferência para definir as atividades que iríamos oferecer aos alunos”, conta a diretora Vera Lúcia Ribeiro. “A gente posta vídeos com várias atividades, toda as terças e quintas, e eles podem acessá-las pelo Youtube, Facebook ou pelo WhatsApp da escola”, conta.
Os exercícios são voltados para os alunos do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental e abordam assuntos do dia a dia. “Esses dias fizemos uma atividade pedindo para que as crianças se vestissem de acordo com a profissão que gostariam de atuar no futuro, e que fizessem uma encenação. O retorno foi bem positivo”, relembra a diretora. “Montamos vídeos e postagens. Cada área é desenvolvida com dicas de jogos, brincadeiras e leituras que podem ser feitas em família. A cada atividade completa, o aluno relata no caderno”, completa Vera.
As postagens são semanais e sempre acompanhadas por mensagens e vídeos de acolhimento e incentivo. “A nossa ideia é, assim que acabar a pandemia, fazer uma exposição dos caderninhos, das descobertas que eles fizeram durante o isolamento social”, declara. A aluna Alice do Nascimento Fernandes Barbosa, 6 anos, já se acostumou com a rotina dos vídeos, mas não vê a hora de voltar para a escola. “Quando eu acordo, tomo café da manhã e depois pego meu caderno das descobertas para fazer as atividades. Eu gosto de fazer os exercícios, porque isso diminui muito a saudade”, relata.
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