Correio Braziliense
postado em 08/05/2020 04:06
O feriado do Dia das Mães, celebrado no próximo domingo, tem levado diversos setores do comércio do Distrito Federal a buscarem estratégias para minimizar os impactos da crise causada pelo novo coronavírus. Com o fechamento das lojas físicas, comerciantes depositam a maioria das fichas em vendas on-line e delivery para aproveitarem a data, que é, historicamente, a segunda maior em termos de arrecadação para o setor, perdendo apenas para o Natal. Fecham-se as portas, abrem-se os canais de comunicação. Sites, redes sociais e atendimentos personalizados são alguns dos recursos que surgem como alternativa.
O Correio ouviu comerciantes e entidades representativas de diversos segmentos, como vestuário, confeitaria, panificação, restaurantes e floriculturas, para entender como tem sido a adaptação e quais são as projeções relacionadas à festividade do segundo domingo de maio. A queda no faturamento é certa para a maioria. No entanto, o Dia das Mães deve amenizar o prejuízo em alguns casos.
Dono de uma tradicional padaria na 113 Sul, Luiz Guilherme Carvalho, 38, implementou o sistema de entrega em seu negócio durante a pandemia. Segundo ele, com a proximidade do Dia das Mães, a demanda cresceu consideravelmente. “A loja está aberta por se enquadrar nos serviços essenciais, mas os pedidos por delivery têm sido crescentes. A gente não tinha esse serviço. Havia apenas um setor de encomendas”, conta.
O empresário já projeta queda no faturamento, se comparado ao mesmo período do ano passado. No entanto, a perspectiva é de que o Dia das Mães traga, ao menos, um alento em relação às últimas semanas. “É tudo muito novo. Também estamos aprendendo sobre o comportamento do cliente. Em todo feriado, aumentávamos nosso tíquete médio em 30%. Mas, nos últimos feriados, foi como se fossem um dia normal. Não teve acréscimo nenhum de venda. Não teve um fluxo maior. É como se não houvesse data comemorativa. Mas esperamos um acréscimo de venda de 10% a 20%, em relação aos últimos dias. A Belini é conhecida pelo chá da tarde, pelo café da manhã... Isso não estamos podendo fazer. Então, o faturamento vai ser muito abaixo do que foi o ano passado”, explica.
Projeções
O negócio de Luiz Guilherme reflete as projeções do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista). A entidade espera por números muito distantes dos cerca de R$ 90 milhões arrecadados em diversos setores da cadeia produtiva com o Dia das Mães de 2019. “Os segmentos que mais vão perder são os de moda feminina, calçados, perfumes e acessórios”, projeta o vice-presidente do Sindivarejista, Sebastião Abritta.
No entanto, segundo Abritta, consumidores e comerciantes estão adequando-se aos meios de vender e de adquirir os produtos. “O que vai prevalecer é a venda on-line.” É o caso de uma marca brasiliense de moda feminina que está no mercado há mais de 30 anos. Com seis pontos físicos no DF, a empresa intensificou o serviço prestado por meio da loja na internet para continuar atendendo aos clientes. “Logo que começou a quarentena, a gente focou no serviço on-line, que já estava implementado, mas de modo ainda lento”, explica Daniella Naegele, fundadora e diretora de estilo da Avanzzo.
Entretanto, segundo Daniella, algumas pessoas demonstraram dificuldades em se adaptar ao mercado virtual. Com isso, a empresa implementou uma espécie de drive-thru na loja da 206 Sul. As portas da loja permanecem fechadas ao público, mas os clientes podem ir até o local buscar produtos ou tirar dúvidas sobre as peças.
“A gente sempre teve um trabalho muito forte de fidelização com o cliente. On-line é muito eficiente, mas, às vezes, as pessoas se sentem um pouco inseguras de fazer a compra ou escolher”, pontua Daniella. “Estamos testando o drive-thru para aproveitar esta semana, que é superimportante, e também dar esse suporte de a vendedora ajudar as pessoas a escolherem o melhor presente.”
Segundo a empresária, todos os profissionais envolvidos tomam medidas de prevenção para evitar possíveis contaminações pelo coronavírus. “A equipe toda está preparada. As vendedoras usam luvas e máscaras. Temos três pessoas só para organizar isso”, diz. Mesmo com todas as estratégias pontuais, Daniella projeta uma queda de 80% a 90% nas vendas, em relação ao Dias das Mães do ano passado.
Acostumada com as vendas por meio do site, a gerente de uma floricultura na 302 Sul, Luciana Cardoso, 24, ainda não sabe o que a data comemorativa do próximo domingo trará de retorno para a loja. “O nosso serviço de entrega já é muito utilizado. Pela praticidade do site, onde você pode fazer o pedido, e também pelo telefone. Mas é uma incógnita. A expectativa é de que os clientes que viriam à loja peçam para entregar. Nós nos preparamos antecipadamente. Temos muitas opções de flores, vasos plantados e arranjos. Então, a entrega pode ser boa. Mas o presencial também conta muito.”
Contraponto
Se há quem tenha certeza das perdas com a crise, existem empreendedores otimistas. Beatriz Fernandes, 24, tem visto as encomendas por seus doces caseiros aumentarem em relação ao Dia das Mães passado. “Eu me programei para fazer bem menos do que nos outros anos. Mas estou tendo uma procura muito grande. Maior do que imaginava. Vou ter que comprar mais embalagem”, afirma. Segundo ela, o faturamento será, no mínimo, o dobro, se comparado a 2019.
A crise, no entanto, também fez a estudante de farmácia remodelar o negócio da All Sweet. “Antes, eu usava as redes sociais mais como ferramentas alternativas. Hoje, elas são meus principais instrumentos. Tento explicar tudo por lá. Faço catálogo sobre o produto, com informações sobre conservação e data de validade. Antes, não fazia entrega, vendia na faculdade. Agora, passei a fazer entrega, e meu pai, que está desempregado, virou meu entregador. Levamos álcool em gel e vamos de máscara. Tem cliente que tem medo. Mas, quando vê que tomamos os cuidados, confia”, pontua Beatriz.
A farmacêutica Mariete Cardoso do Nascimento, 36, é uma das pessoas que não deixou de preservar a tradição de presentear a matriarca da família, apesar do isolamento social. Ela encomendou alguns doces com Beatriz para fazer um carinho à mãe, mesmo que a distância. “A forma como eu vou entregar vai ser diferente. Não vai ter contato, aquele abraço. Mas nem por isso a gente vai deixar de fazer o que sempre faz”, conta a moradora do Gama.
Orientações
Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o faturamento com delivery triplicou na maioria dos estabelecimentos. Em alguns casos, a arrecadação com a entrega chega a ser quatro vezes maior, desde o início das medidas restritivas.
De acordo com a associação, os pedidos devem dobrar neste domingo. Por isso, a orientação é para que restaurantes reforcem o número de funcionários, além de aumentarem a quantidade de motoboys, para que não haja “congestionamento”. A associação também aconselha os clientes a fazerem a encomenda com antecedência. “A expectativa é de que o Dia das Mães aumente muito as vendas nos restaurantes. É uma data muito forte”, pontua Beto Pinheiro, presidente da Abrasel/DF.
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