Cidades

Coronavírus: DF despenca para 13º lugar no ranking de isolamento social

Em uma semana, o Distrito Federal sai da 1ª para a 13ª colocação em levantamento que avalia os índices de distanciamento social entre todas as unidades da Federação. Situação reforça os riscos da flexibilização na capital durante a pandemia

Correio Braziliense
postado em 09/05/2020 07:00
Cenas de ontem na capital federal: trânsito intenso na Estrada Parque Taguatinga (EPTG) e grande movimentação de pessoas na Rodoviária do Plano Piloto confirmam o desrespeito ao isolamento no DFO Distrito Federal caiu para a 13ª posição no ranking de adesão ao isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus. A unidade da Federação aparece agora com índice de 42,88% — em 30 de abril, estava em 51,9%. Rio de Janeiro (49,19%), Maranhão (49,15%) e Pará (49,03%) são os estados que mais aderiram ao distanciamento (veja Em queda). O levantamento, levado em conta pelo GDF, é da empresa de softwares In Loco. Especialistas alertam para o perigo da flexibilização e consideram a desinformação como o fator principal para as pessoas estarem mais nas ruas.

Desde o fechamento do comércio para evitar a disseminação do vírus na capital, em 19 de março, essa é a pior taxa de descumprimento do isolamento social registrada na cidade. “Não questiono, até porque não tenho esses dados precisos, mas como indicativos. Eles são bons para nós. Quando você passa muito tempo em isolamento, é natural que as pessoas adquiram determinado nível de segurança e saiam às ruas”, disse o governador Ibaneis Rocha (MDB), em coletiva na quinta-feira.

Para saber a média de pessoas que circulam por dia em Brasília, o GDF firmou um acordo de cooperação para o uso de três ferramentas. A primeira é um mapa de calor de acompanhamento do isolamento social das operadoras de telecomunicações, em parceria com Tim, Vivo, Claro e Oi. A segunda é o fornecimento de dados diários pelo Google, por setor econômico. Por último, o mapa da In Loco é coordenado pela Casa Civil e pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). Os números, no entanto, são de acesso exclusivo do governo.

De acordo com Marcos Pontes, médico clínico geral do Grupo Santa, as pessoas se acostumaram com a pandemia, o que pode ter ocasionado o relaxamento. “O medo ainda é presente, mas o fato de o DF ainda absorver os casos de infectados gera uma tranquilidade no ser humano. O tempo de quarentena também é algo a se levar em consideração. Muitos acabam tendo a necessidade de sair de casa, seja para resolver uma pendência de muito tempo, seja para comprar no supermercado”, explicou. Contudo, o médico alerta: com o afrouxamento no isolamento social, pode haver um crescimento desordenado dos casos da covid-19. “Aumentam as chances de contaminação e de propagação do vírus. Isso pode sobrecarregar o sistema de saúde”, afirmou Marcos.

Para a infectologista do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) Ana Helena Germoglio, “burlar a quarentena” vai além de uma questão de saúde pública. “O homem, durante vários anos, do nascimento até a morte, não consegue obter sozinho sua subsistência. Dessa forma, é possível entendermos a necessidade do ser humano em tentar socializar, nem que seja em mercados, filas de banco ou fazendo festas às escondidas. Entretanto, viver coletivamente é a única chance de sermos humanos. E, para continuarmos nessa vida durante a pandemia, precisamos pensar coletivamente”, defendeu.

Medo cotidiano 

Valdilene Costa, 41 anos, sentiu-se paralisada assim que a pandemia começou. “Eu trabalhava na casa de uma pessoa na Asa Norte, quando começou a divulgação de muitos casos naquela região, e eu não conseguia mais ir até lá para trabalhar. Achava que podia me contaminar a qualquer momento e em qualquer lugar”, explicou a diarista. Valdilene é moradora de São Sebastião e tem hipertensão e predisposição a diabetes, fatores que impulsionaram a reação dela. “Crio as minhas duas filhas sozinha. Sei que a maioria das pessoas que morrem por causa dessa doença têm um problema de saúde parecido com o meu. Então, eu estava paranoica e pedi demissão. Agora, estou com o cadastro em análise para receber o benefício e conto com a ajuda das minhas duas irmãs que vivem aqui”, conta.

Lidando sempre com muitas pessoas, o cuidado é indispensável para Lílian Rocha, 40. Ela é policial penal lotada na Penitenciária Feminina do Distrito Federal (PFDF) e não pode fugir da aglomeração do presídio onde trabalha. “Como tenho pessoas do grupo de risco na família, no início, foi bem duro. Tive muito medo. Pedi férias logo quando decretada a pandemia. Quando eu voltei, a equipe estava completamente engajada na prevenção ao vírus”, disse. “Todos os dias, nós desinfetamos tudo: mesas, cadeiras e grades. Além disso, temos a temperatura conferida diariamente e passamos pela testagem rápida de detecção do vírus.”

Temendo pelo emprego, a vendedora Renata Caroline Almeida, 24, minimizou o medo pelo contágio e continua indo ao trabalho, no Brasília Shopping. “Vejo que, a cada semana, a quantidade de gente na rua aumenta. O medo de eu ser infectada também é grande, pois não tenho a opção de ficar em casa”, lamenta. Renata havia tirado férias no início da quarentena, mas, como ela trabalha em uma loja especializada em chocolates, o retorno veio com a chegada da Páscoa. “Quando eu voltei, havia menos pessoas circulando na cidade. Agora, não. Mas tomo os devidos cuidados, como usar máscara e passar álcool em gel”, afirma.

* Estagiária sob supervisão de Guilherme Goulart


Palavra de especialista

“O coronavírus não tem ideologia”
“Estamos lidando com uma pandemia global. Como o ser humano não havia passado por isso antes, as informações nos permitiram ter mais cuidado. Hoje, a única forma de combatermos o vírus é por meio do distanciamento social. O problema é que estamos lidando com uma onda de fake news. Vemos as próprias autoridades políticas dando mau exemplo, saindo à rua. Consequentemente, as pessoas se espelham nisso. Ocorre muita desinformação, e as pessoas não levam a sério a gravidade da doença. O isolamento funcionou no começo e até serviu de exemplo para outras unidades da Federação, mas não em todas as regiões. Muitas cidades demoraram para respeitar as medidas impostas. Temos de ter cuidado para não politizar a pandemia. O coronavírus não tem ideologia, e está atingindo a sociedade como um todo. Essa é uma questão de respeito e educação.” Christiane Machado Coelho, professora do departamento de sociologia da Universidade de Brasília (UnB).

Sob risco

Veja a situação do DF desde o início do levantamento do In Loco

30 de abril - 1ª lugar (51,9%)
4 de maio  -  9ª lugar (43,7%)
7 de maio  -  13ª lugar (42,88%)
 
ilustração de dados 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags