Cidades

O primeiro atendimento

Correio Braziliense
postado em 11/05/2020 04:42
Vera Trajano:


A orientação da Secretaria de Saúde para pessoas com sintomas da doença e dificuldade respiratória é procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima de casa. Por isso, quem trabalha nesses locais acaba tendo os primeiros contatos com suspeitas de infecção, o que requer o máximo de cuidado possível para evitar contaminações. É essa pressão que Vera Trajano Ribeiro, 41, enfrenta diariamente. A enfermeira e técnica de laboratório está lotada na UBS da Asa Norte. Ela sai de casa, em Planaltina de Goiás, por volta das 6h30, e só retorna às 19h30.

“Chega muita gente com suspeita (da doença) na UBS, é um trabalho intenso e muito cuidadoso. Também faço visita domiciliar dos pacientes idosos que têm sintomas, mas não conseguem ir ao posto de saúde”, conta. Vera destaca que são os enfermeiros que sempre têm mais contato com os pacientes. “Vejo que as pessoas estão reconhecendo nosso trabalho. Tinha gente que nem falava com a gente no hospital, só queria falar com o médico”, relata.

O cotidiano de Vera também não é mais o mesmo. Fora do serviço, ela tenta manter a saúde mental enquanto convive com o distanciamento. Vera ama a profissão e confessa que anda cansada, mas consciente do papel importante que faz. “Estou em paz. Peço que todos façam a sua parte, usem máscara, fiquem em casa, respeitem as recomendações e se preservem, porque essa doença não afeta só idoso”, adverte.

Distanciamento

O drama dos pacientes é diário. As incertezas após o diagnóstico afetam o emocional das pessoas. Pedro Henrique Nascimento, 21, recebeu o teste positivo em abril e ficou angustiado. “Estava com tosse e dor na garganta. Depois, comecei a sentir dor no peito e liguei para o hospital. Quando fiz o exame, que constatou a covid-19, fiquei desesperado”,  lembra o estudante. O jovem ficou uma semana tratando os sintomas em um hospital particular e, depois, recebeu alta para continuar a quarentena em casa.

“O período de isolamento é necessário, mas é muito ruim estar doente. Eu moro sozinho, tenho familiares em outros estados. Isso também pesou”, conta Pedro. Para amenizar o período difícil, ele ocupou a cabeça com outros assuntos. “Antes da infecção, eu ficava toda hora acompanhando o número de contaminados. Tentei me desligar dessas coisas depois. Deletei minhas redes sociais, foquei em cuidar da casa, tirei momentos do dia só para mim”, explica.

Agora curado, ele ressalta a importância da colaboração de todos para o combate da doença. “Quanto mais as pessoas se isolarem agora, respeitarem as recomendações, mais cedo tudo isso vai passar”, avalia o jovem.

Febre, enjoo, tosse seca e dor de barriga foram alguns dos sintomas sentidos por Gisllayne Mauriv, 50. “A consultora técnica descobriu que estava contaminada pelo coronavírus depois de 12 dias com a doença. “Certo dia, acordei com uma indisposição muito grande. Não estava sentindo cheiro de nada. Comecei a ter febre,  a temperatura chegou a 39°C. Liguei para o Samu e me falaram que era dengue”, relembra. 

À época, os exames ainda estavam escassos no DF, e o único que Gisllayne conseguiu fazer foi para dengue. “Deu negativo, então comecei a suspeitar da covid-19. Cheguei a ir ao Hran, mas os testes estavam sendo feitos apenas pelos médicos. A sorte foi que na mesma semana eles implantaram o telesus, e relatei meu caso por telefone. A médica confirmou que os sintomas batiam com o coronavírus”, conta.

“Os dias foram difíceis. Eu suava muito e ficava fria como se fosse desmaiar. Um dia fui ao banheiro de madrugada e comecei a ver tudo rodando. No caminho para o quarto, caí. Achei que ia morrer, mas tive forças para chamar minha filha”, relata.

Apesar do contato próximo, a filha dela não foi infectada pela doença. “Nós duas fizemos o teste e o dela deu negativo”, disse, aliviada. A doença mexeu com o psicológico de Gisllayne. “Eu fiquei muito nervosa. Não sabia o que podia acontecer, porque os sintomas vão ficando piores com o passar dos dias”. Hoje, ela alerta: “Queria pedir para que as pessoas levassem a doença a sério. A gente não sabe quando tudo vai passar e precisamos nos proteger ao máximo”.
 
 

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