Cidades

Crônica da Cidade

Correio Braziliense
postado em 15/05/2020 04:16

Patrimônio espiritual 2

       Em razão do desprezo de alguns governantes pela vida dos que ultrapassaram a curva dos 60, resolvi homenagear alguns brasilienses. Mas, esqueci de muitos, e decidi fazer uma outra rodada para celebrar os que estão de sessentena e setentena. O mestre Darcy Ribeiro já dizia: só se fazem sábios com sábios. Todos eles foram, em alguma medida, forjados por Brasília e contribuíram para a formação de várias gerações.

          Salve, Eliana Carneiro, que fez dança experimental nas décadas de 1980 e 1990, mas deu uma guinada na carreira por causa da filha Naiara. Agora, roda as cidades do interior do país com a caravana da trupe Os Buriti, levando ações de arte-educação.

          Alô, André Luiz Oliveira, compositor e cineasta, diretor de documentário essencial sobre Renato Matos. André teve a audácia de fazer uma parceria mediúnica com Fernando Pessoa, que resultou em coletânea de CDs e de filme memoráveis.
         Salve, Ana Miranda, Sherazade brasiliana a tecer mil e uma narrativas delicadas e líricas sobre Brasília.
           Alô, Luiz Gallina, artista plástico que revelou a beleza torta e retorcida do cerrado em uma série de gravuras.

       Salve, Guilherme Reis, diretor, ator, produtor de teatro, que concebeu e mantém no ar, há 20 edições, o Cena Contemporânea - Festival Internacional de Teatro de Brasília, que coloca as línguas multiculturais mais distantes para conversarem no planalto central.

          Alô, Carmem Moretzshon, atriz de todos os teatros de Brasília, que já viveu a vida de inumeráveis mulheres no palco. Apesar de ser ainda garota, resolvi incluí-la na lista.

       Salve, Nicolas Behr, poeta que se engalfinhou com a maquete de Lucio Costa e Niemeyer e nos brindou com uma representação crítica e lírica de Brasília. Faz poesia Pau Brasília.

         Alô, Gog, leitor de Cecília Meireles, poeta do rap que desenhou em versos um outro plano piloto de Brasília, em que a periferia ocupa lugar de destaque.

       Salve, Frederico Holanda, professor emérito da UnB, pensador dos vazios e dos fechamentos na arquitetura de Oscar Niemeyer. Ele realizou um documentário essencial sobre Brasília, Deserto, em que trava uma polêmica acirrada com o antropólogo James Holston sobre a cidade.

Alô, professor Frederico Flósculo, que luta pela preservação do Plano Piloto e, ao mesmo tempo, criou um projeto para revitalização da W3 Sul, aprovado em concurso do IAB, mas nunca realizado por sucessivos governos.

Salve, Maria Lucia Verdi, poeta que extrai a transcendência dos fatos mais triviais. Ela promove há seis anos o evento-celebração Poesia do Mundo.

Alô, Neio Lucio, idealizador do Projeto Cabeças, que ensinou os brasilienses a fazer a ocupação cultural da cidade.
    Salve, Ana Maria Lopes e Claudine Duarte, do Coletivo Maria Cobogó, que publica livro de mulheres escritoras em edições esmeradas e elegantes.

Vocês fazem parte do patrimônio espiritual da cidade. Cuidem-se no recolhimento, ignorem os ignorantes. Toda vida é preciosa. E, como diria o nosso poeta TT Catalão, fica o erudito pelo não dito.

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