Cidades

Adoração via drive-in

Com a permissão para realizar cultos religiosos, desde que os frequentadores fiquem em seus carros, igrejas evangélicas vêm a alternativa como uma forma de ficarem mais próximas dos fiéis, sem quebrar a quarentena

Correio Braziliense
postado em 16/05/2020 04:15
O pastor Marcelo Panjota gasta R$ 1 mil para realizar o culto drive-in

Desde o começo da quarentena no Distrito Federal, as igrejas estão proibidas de funcionarem. Contudo, o decreto do governador Ibaneis Rocha (MDB) que permitiu a realização das atividades de todas as religiões no DF — desde que sejam promovidas em estacionamentos, com as pessoas dentro do carro —, alegrou os fiéis, dessa forma, muitos templos religiosos adotaram o culto drive-in.

As cerimônias religiosas estavam suspensas desde 19 de março devido à pandemia do novo coronavírus. A determinação, assinada em 24 de abril, flexibilizou as medidas de restrição estabelecidas na capital, e os cultos puderam ser realizados seguindo três regras: os veículos devem ficar nos estacionamentos das igrejas, precisam manter distância mínima de dois metros entre um e outro e os frequentadores não podem sair dos carros.

O pastor e advogado Paulo Marcelo Pantoja, 40 anos, preside a Assembleia de Deus de Águas Claras Ministério Internacional do Guará (Adac). A direção do templo decidiu fechá-lo uma semana antes do decreto entrar em vigor, como medida de segurança para evitar o contágio da covid-19. “Nós fizemos um papel social fechando antes. Entendo que a igreja tem uma participação importante na sociedade, mas também devemos preservar a vida dos fiéis. Entretanto, isso não mudou nossa forma de adoração”, disse.

A igreja optou pelas celebrações on-line, por meio de um canal no YouTube. Após a permissão dos cultos drive-in, o pastor conta que resolveu adotar a ideia. As reuniões ocorrem aos domingos, a cada 15 dias, no estacionamento do templo e reúnem cerca de 50 carros. “Nesse período difícil, os principais desafios que temos são continuar levando uma palavra de esperança e buscar ferramentas atuais, que estão disponíveis, para continuar trazendo as boas-novas. Mais do que nunca, as pessoas precisam de incentivo, esperança e conforto”, afirmou.

Para fazer o culto drive-in, o pastor Paulo Marcelo desembolsa cerca de R$ 1 mil. O investimento envolve o aluguel de um trio elétrico e de equipamentos, como som e iluminação. “A celebração dura em torno de uma hora, e nossa preocupação é com o som. Nós usamos apenas 20% da capacidade do volume, justamente para não incomodar os vizinhos. Vemos isso como um investimento em almas”, destacou.

A autônoma Miriam Batista, 52 anos, frequenta a Adac há seis anos. Ela gostou da ideia dos cultos drive-in, e tem ido a todas as reuniões. “A experiência foi incrível. Achei muito lindo. Dava pra ver a alegria e a satisfação estampadas no rosto de cada um, além dos prédios, que ficam cheios de pessoas louvando a Deus.” Ela se diz contrária à reabertura das igrejas neste momento. “Não quero que mais pessoas sejam afetadas pela covid-19. Agora, quando tudo se normalizar, com certeza sou, sim, a favor de tudo abrir, pois sinto muita falta. É um lugar que me sinto bem, com centenas de pessoas amáveis”, contou.

Andréa Silva, 32, é secretária na Igreja Assembleia de Deus de Águas Claras (Adeac), localizada em Taguatinga. O templo é de porte pequeno, e abriga cerca de 130 membros. Mesmo sem ter um espaço exclusivo para acomodar os veículos, a igreja conseguiu promover os cultos drive-in. “Nosso estacionamento é um local onde ficam outros comércios, mas como é à noite, podemos usá-lo. Colocamos até um telão do lado de fora, e temos recebido muitas visitas. Mais de 40 carros ficam estacionados”, disse.

Os cultos nesse esquema só funcionam aos domingos. No meio da semana, a Adeac faz a adoração on-line, por transmissão ao vivo nas redes sociais. “Está muito difícil não poder abraçar, chegar perto nem pegar na mão dos fiéis. Mas não há outra possibilidade e essa modalidade é a que melhor se encaixa na minha expectativa”, ressaltou, Andréa.

Dificuldade
Por outro lado, há aqueles templos que não conseguiram aderir ao drive-in pela falta do local para receber os veículos. É o caso da Igreja Assembleia de Deus da Colônia Agrícola de Samambaia. O pastor Marcos Maciel, 42, é o responsável, e tem feito apenas reuniões on-line.

O religioso conta que o estacionamento está localizado em uma área residencial e não comporta muitos carros. “Caberiam apenas uns 10 veículos, e ficaria inviável. Mas, como ponto positivo, as pessoas têm participado das lives. Tem um grupo mínimo de fiéis que vêm à igreja, no máximo 10 pessoas, e eles fazem a transmissão. Claro que com todos os cuidados possíveis, usando máscara, passando álcool em gel e mantendo distância um do outro”, afirmou.

 

Duas perguntas para

Josimar Francisco da Silva,  o presidente do Conselho de Pastores do Distrito Federal (Copav)

 

Como o senhor avalia os cultos drive-in?
Infelizmente, essa modalidade só atende àquelas igrejas que têm estacionamento. Outro ponto é que muitos fiéis que não têm carro não frequentam, principalmente nas regiões mais carentes.

O senhor é favorável à reabertura das igrejas no DF?
Sim. Estamos pedindo isso ao governo. Solicitamos ao GDF que, ao menos, abrissem 30% das igrejas, adotando todos os cuidados, colocando as cadeiras separadas, disponibilizando álcool em gel e pensamos até em adotar um aparelho para medir a temperatura dos fiéis antes de entrar na igreja. Quem estiver gripado também não entra. Somos um serviço essencial e estamos cumprindo protocolos. Mas não vamos parar, seguimos de prontidão, fazendo lives e orando.

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