Cidades

Homenagem escrita no papel

Projeto da Universidade de Brasília em parceria com o Correio resgata a tradição das cartas para reduzir distâncias e preencher de afeto e gratidão o coração de quem está na linha de frente no combate à covid-19

Correio Braziliense
postado em 17/05/2020 04:22
Projeto da Universidade de Brasília em parceria com o Correio resgata a tradição das cartas para reduzir distâncias e preencher de afeto e gratidão o coração de quem está na linha de frente no combate à covid-19

Antes das redes sociais, das conversas virtuais e do telefone, palavras estampadas em folhas de papel viajavam o mundo unindo famílias, casais e amigos. Quando se pensou que elas estivessem superadas, eis que uma pandemia as traz de volta, recheadas de solidariedade e de afeto, mensagens de esperança e de fé.

O projeto Cartas Solidárias, encabeçado pela Universidade de Brasília (UnB) em parceria com o Correio Braziliense, nasce para resgatar a tradição das cartas. Um grupo do Comitê de Saúde Mental e Apoio Psicossocial da universidade recebe, seleciona e entrega impressas mensagens dedicadas a profissionais da linha de frente do combate ao novo coronavírus. A ação integra a campanha Você não está sozinha, você não está sozinho, que tem início amanhã.

A partir deste domingo, as mensagens, que se transformarão em cartas, também serão publicadas no site do jornal, fortalecendo mais um elo dessa rede de proteção, auxílio e positividade.

Por meio da escrita, que, neste caso, desdobra-se em tantos adjetivos — afetiva, solidária, acolhedora —, convidamos todos os leitores a dedicarem alguns minutos para se colocar no lugar do outro e manifestar apoio e reconhecimento. Principalmente, para desconhecidos que saem de casa carregados de preocupação, mas munidos de humanismo. São médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, vigilantes, funcionários da limpeza, cozinheiros, nutricionistas, bombeiros, policiais e socorristas que enfrentam a árdua batalha contra o novo coronavírus.

A covid-19 mobiliza um exército dia e noite nas cidades do país. Uns encarregam-se dos respiradores, dos remédios e dos exames. Outros, garantem a limpeza de enfermarias e unidades de terapia intensiva (UTIs). Outros, ocupam-se dos resgates e, todos juntos, atuam incansavelmente numa guerra para salvar vidas. A pandemia que mudou o planeta, fechou portas e janelas, encheu o peito de saudade, de medo e de incertezas. É para reduzir essa distância que surgiu a iniciativa.

“Pensamos em algo que materializasse e simbolizasse esse sujeito físico, para aproximar. Não é só para estar presente, é quase que uma literatura. Há quanto tempo não ficamos ansiosos por receber uma carta? É aquele receber a presença da pessoa, a fala, um acalento. Remontando um pouco do que vivemos em épocas passadas. É se colocar no lugar do outro”, detalha a professora Josenaide dos Santos, coordenadora do grupo de trabalho de prevenção e promoção da saúde ligado ao comitê da UnB.

Enviar uma carta a esses profissionais é reconhecer o empenho, a dedicação e o trabalho de cada um. “E dizer que estamos juntos para passar por isso”, pontua a psicóloga e coordenadora do comitê, Larissa Polejack. Singelo, o ato de se colocar diante do papel é um convite a sair de si mesmo. “Vivíamos em uma sociedade bastante individualista. Mesmo a nossa relação com a tecnologia era uma relação que afastava e, agora, a gente está tendo que ressignificar tanto a relação com a tecnologia, quanto com as pessoas. É um exercício de empatia essa capacidade de se dedicar ao outro e pensar que uma ação nossa pode trazer alegria para outra pessoa. É resgatar a essência do humano”, completa.

Duas entregas foram realizadas: uma no Hospital Universitário de Brasília (HUB) e outra no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), referência no tratamento contra o novo coronavírus.

Responsável pelo gerenciamento das mensagens que chegam, a estudante de nutrição da UnB Michelle Rodrigues da Silva, 20 anos, escreveu uma carta dedicada a todos os profissionais que trabalham na equipe do Hran e que fazem a unidade funcionar. “Quis demonstrar a gratidão que estava sentindo, são peças fundamentais para passarmos por essa pandemia. Ao mesmo tempo, coloquei ali um orgulho por ser uma futura nutricionista. Eles estão demonstrando a importância de cada profissão”, detalha.

Do outro lado, em 23 anos de enfermagem, foi a primeira vez que Daisy Maria Coelho de Mendonça, 45, sentiu afeto e acolhimento desta forma. “Foi até surpreendente. A gente se sente valorizado por pessoas que não conhecemos. Foi revigorante. Com certeza, é um alento para esse momento de tanto estresse, em que vemos colegas perdendo a vida”, afirma. “No momento em que a gente se encontra, de insegurança, de incerteza, as palavras tiveram um acolhimento significativo. Um gesto nobre que nos deu conforto, ânimo e coragem”, completa a técnica de enfermagem Valéria Canuto de Farias, 40.


"É um exercício de empatia, essa capacidade de se dedicar ao outro e pensar que uma ação nossa pode trazer alegria para outra pessoa. É resgatar a essência do humano”
Larissa Polejack, coordenadora do Comitê de Saúde Mental e Apoio Psicossocial da UnB


Participe!


Escreva sua mensagem e encaminhe ao e-mail: promo.prev2020@gmail.com. No assunto, coloque “CARTAS SOLIDÁRIAS CB”. Nas redes sociais, compartilhe sua mensagem de afeto usando a hashtag #vocênãoestásozinhavocênãoestásozinho. As categorias que receberão as mensagens impressas como cartas são:
  • Profissionais de saúde
  • Bombeiros
  • Policiais militares
  • Socorristas do Samu
  • Equipes de nutrição
  • Seguranças
  • Profissionais de limpeza
  • Trabalhadores de Serviços Gerais
  • Servidores de Vigilância Sanitária
  • Jornalistas

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