Com o fim do período de chuvas, as obras de drenagem e pavimentação em Vicente Pires foram intensificadas nos últimos dias. Entretanto, os antigos problemas de infraestrutura da região somam-se, agora, às consequências econômicas da pandemia de coronavírus. Comerciantes locais, que já calculavam prejuízos crescentes em função da dificuldade de acesso a seus estabelecimentos, preocupam-se com o agravamento da crise instaurada com o fechamento do comércio, além de aguardarem ansiosos pela finalização das obras.
Jurandir Pereira Marinho, 58, é dono de um restaurante na rua 3. O estabelecimento tem 10 anos, e há dois, o empresário convive com a perda de clientes e a queda no faturamento em virtude das obras inacabadas. Segundo Jurandir, a volta das máquinas às ruas de Vicente Pires pode ter sido tardia. “As escavadeiras estão aí. Mas, há quanto tempo estamos nesse sofrimento? A obra é necessária. Me parece que está indo bem, do ponto de vista da execução. Porém, acontece em um momento em que o comércio está morto”, lamenta.
De acordo com o comerciante, cerca de 30 lojas da rua fecharam as portas nos últimos 18 meses. “Todo dia fecha uma loja aqui. Hoje mesmo fechou uma. Alguns amigos insistem porque o dono do imóvel os dispensou do aluguel. Mas estou praticamente só eu, aqui”, conta Jurandir. “A questão do faturamento agravou muito. Estamos funcionando com uma portinha só, aberta. Eu agradeço às pessoas que são quase heroínas de virem aqui ainda para buscar comida. É o que mantém a gente vivo, são esses clientes. Enquanto isso, continuamos pagando aluguel, imposto e funcionário. Estamos nessa luta”, desabafa.
Segundo Jurandir, o faturamento, que era prejudicado em função da falta de infraestrutura na região, atingiu níveis alarmantes com a pandemia de coronavírus e o fechamento do comércio. De acordo com o empresário, entre fevereiro de 2019 e o mesmo mês deste ano, o restaurante deixou de faturar 40%. “Só colocava o carro aqui quem era louco. Com a chuva, vinha enxurrada e a lama invadia a loja. Eu cheguei a perder quatro freezers”, conta.
Com a pandemia, o comerciante contabiliza um retorno financeiro 25% menor. “Três funcionários estão afastados, recebendo sem trabalhar porque não têm necessidade. Estamos funcionando à meia porta e com um motoboy. Também não há garçom, pois não tem atendimento presencial. Atendo a algumas empresas, mensalmente, além das pessoas que vêm aqui. Eu virei ajudante de cozinha e faxineiro. Liberei os funcionários. Assim estamos”, explica.
Perdas
Dono de uma clínica veterinária e um pet shop, na rua 8, João Paulo Rodrigues Costa, 35, decidiu implementar o delivery em seu negócio, justamente pela dificuldade que os clientes tinham de chegar ao estabelecimento. Em tempo de pandemia, a estratégia continua a todo vapor. “Nós estamos como atividade essencial e estamos abertos. Mas já fazíamos entregas antes por causa das obras, não era nem pela pandemia. Quando houve o fechamento do comércio, já estávamos com a modalidade fortalecida por conta da falta de acesso aqui na região. Mas o que pesa mais é a questão das obras”, pontua.
Segundo João Paulo, os buracos e a poeira da rua contribuíram diretamente para prejuízos da loja. “Nosso fluxo de gente diminui pela metade. Vários carros atolam na frente do estabelecimento. A questão da limpeza também tem que ser reforçada, porque a poeira entra mesmo. Tem que ficar tudo fechado. Tivemos que colocar blindex em todas as portas para vedar tudo e não estragar as mercadorias. A gente também tem um prejuízo de estoque, que fica todo empoeirado. Isso danifica as coisas”, explica o empresário.
De acordo com ele, o faturamento caiu cerca de 30% em um ano. Além da queda, João lamenta pelos recursos que poderiam ser investidos no negócio, mas que tiveram outros destinos. “Tínhamos dois carros usados e tivemos que comprar um novo porque os antigos não aguentavam. Estávamos perdendo todo o lucro com a manutenção de veículo. Isso trava demais os nosso investimento. Como nós crescemos? Temos que parar de investir. Ficamos estagnados no tempo só para manter o negócio. Poderíamos estar lucrando bem mais”, pontua. Com a falta de acesso, somada ao isolamento social, os problemas se agravaram. “Hoje somos uma linha reta que só oscila para baixo. É bem difícil”, pontua.
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