Correio Braziliense
postado em 19/05/2020 04:06
Na manhã de ontem, centenas de policiais penais realizaram uma manifestação por melhorias nas condições de trabalho, principalmente, em relação ao combate à proliferação da covid-19 nas unidades prisionais. O encontro ocorreu às 10h, em frente ao Estádio Mané Garrincha. No local, representantes do Sindicato dos Policiais Penais do DF (Sindpen-DF) pautaram as principais reivindicações. Em seguida, fizeram uma carreata pelo Eixo Monumental, todos vestidos de preto, balançando tecidos pretos e com flores nas mãos, manifestando o luto pela morte de Francisco Pires de Souza, 45 anos, primeira vítima do coronavírus no Complexo Penitenciário da Papuda (veja Memória). Por fim, a categoria parou em frente ao Palácio do Buriti para entregar o documento ao Governo do Distrito Federal (GDF).
Presidente do Sindpen-DF, Paulo Rogério explica que o ato, além de uma homenagem ao amigo e colega de profissão, é um pedido de respeito a todos os policiais penais do DF. “Quantos Franciscos teremos que perder para que tenhamos mais dignidade em nosso trabalho? A gente quer que o governo assuma essa responsabilidade. Nós somos a categoria mais infectada de todo o DF e pedimos socorro, uma chance para que possamos trabalhar em segurança”, protesta.
A falta do conterrâneo e dos momentos alegres também foram sentidas por Matheus Dantas, 20. “A gente se conheceu na Paraíba. Nossa amizade cresceu quando também me mudei para o DF. Ele era um amigo muito legal, brincalhão, extrovertido, parceiro de todas as horas, simpático e humilde”, relembra. A notícia foi recebida com surpresa “Fiquei sem acreditar, mas depois vi as fotos publicadas nas redes sociais e, então, a ficha caiu. É um choque muito grande perder um grande amigo”, lamenta.
O sistema penitenciário do DF, hoje, conta com 15.205 internos, nas seis unidades. Do total, 548 estão infectados (13%), além de 315 policiais penais. De acordo com o especialista em segurança pública Leonardo Sant’Anna, o aumento do número de casos tem relação com um espaço carcerário propício para a propagação da doença “Tanto os internos como os profissionais que trabalham nesses ambientes estão mais propensos a contrair e a morrer da doença. Presos e agentes penais dormem, comem e têm conexões sociais em um ambiente que não pode ser alterado. Deve-se considerar o aspecto da precariedade de ferramentas, uniforme e legislação diferenciada para os profissionais que trabalham nesses locais”, esclarece o especialista.
Em relação à tentativa de fuga em massa de presidiários do Centro de Detenção Provisória (CDP), do Complexo Penitenciário da Papuda na madrugada de domingo, Leonardo adverte para o tensionamento no sistema ser um elemento colaborador. “A fuga por si só já acontece, mas a partir do instante que o ambiente é estressor, pode ser maior”, adverte Leonardo. No caso, os internos quebraram cadeados das celas e pedaços de parede e conseguiram chegar até as galerias do CDP, onde foram capturados pelos policiais penais. Entre os internos que promoveram a ação, estão membros de facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e do Comando Vermelho, do Rio de Janeiro.
Em nota oficial, a Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe) informou que os internos foram reconduzidos para outra cela e que os detalhes da tentativa de fuga serão devidamente apurados. "Mesmo diante de todos os esforços e precauções para evitar o contágio do novo coronavírus no sistema, todas as medidas de segurança continuam a ser aplicadas em todas as unidades prisionais", esclareceu a pasta.
Cuidados
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP/DF), até o momento, foram aplicados cerca de 3 mil testes em internos e policiais penais no DF. “Cabe destacar que o expediente dos policiais penais é exercido de maneira segura, com o uso equipamentos de proteção individual (EPIs) e seguindo regras sanitárias adotadas neste período de pandemia”, explicou a pasta, em nota oficial. Além disso, as obras para a conclusão do hospital de campanha para tratar os internos do Complexo Penitenciário da Papuda estão em fase de finalização. No total, foram investidos R$ 79 milhões em uma área de 6 mil metros quadrados. A unidade contará com 10 leitos com suporte de ventilação mecânica e 30 leitos de retaguarda para internação. A Secretaria de Saúde (SES) informou que a previsão é de que a obra seja concluída até sábado. (TU)
Memória
Última homenagem
Morador de Santa Maria, Francisco Pires de Souza, 45 anos, foi a primeira vítima do novo coronavírus no Complexo Penitenciário da Papuda. Ele estava internado desde 28 de abril no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e não tinha comorbidades. Era lotado na Penitenciária do Distrito Federal 1 (PDF I) desde 2010. Na tarde de domingo, a Diretoria Penitenciária de Operações Especiais (Dpoe) escoltou o corpo do policial da unidade de saúde até o cemitério. O sepultamento ocorreu às 17h.
Em nota nas redes sociais, o Sindpen-DF homenageou o profissional. Em tom de indignação, o texto diz que o policial não se acovardou durante a luta contra o coronavírus dentro do Sistema Penitenciário. “Partiu sem que tenham lhe garantido dignidade. Faleceu num leito de hospital, despojado, ao lado de um preso que padecia do mesmo mal. Em meio a tanta dor, o Sindpen quer saber: Quantos de nós precisarão morrer para que se importem?”, questiona o sindicato. Em resposta, a Secretaria de Saúde (SES) esclareceu que, ao contrário do que afirma a nota de pesar do sindicato da categoria, o compromisso assumido na reunião realizada na Secretaria de Segurança Pública, quando foram solicitados espaços de internação hospitalar diferenciados para que internos e policiais ficassem em enfermaria distintas, foi honrado e cumprido.
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