Cidades

Médicos que se conheceram em Brasília se casam pela internet, separados por mais de 2.000 km

Casal, que passou mais de 15 anos separado, decidiu manter o casamento mesmo com as limitações impostas pela pandemia do novo coronavírus

Correio Braziliense
postado em 19/05/2020 17:58
Casamento foi realizado em cartório de Maceió (AL), mas o noivo estava em Bom Jesus da Penha (MG)Não são raras as histórias de amores que vencem distâncias. Há também os que precisam lidar com o tempo. Mais recentemente, temos aqueles que resistem em meio à pandemia do novo coronavírus. Mas um casal de médicos, que se conheceu em Brasília, precisou enfrentar as três adversidades — e superou todas. Depois de passarem 15 anos separados, os dois se reencontraram e decidiram se casar em 25 de abril. Impossibilitados de realizar a cerimônia presencial, resolveram selar o matrimônio pela internet. Com um detalhe: ela estava em Maceió (AL) e ele, em Bom Jesus da Penha (MG), cidades separadas por 2.225,5 km.

Apesar da distância, Eliana Medeiros, 53 anos, e Célio Ribeiro, 56, costumavam se encontrar, pelo menos, duas vezes por mês. No começo de março, ela estava em Minas, visitando o noivo, quando percebeu que talvez o casamento não acontecesse como esperado. "Meu voo de volta foi cancelado. Levou duas semanas para eu conseguir voltar para Maceió. Fiquei presa, não conseguia voo", lembra. Como precisava regressar ao trabalho, a médica montou uma operação complexa: "Fui de carro para Brasília e peguei um voo para Recife. Depois, peguei um táxi para Maceió de madrugada. Foi uma luta, uma tormenta".

A dificuldade deixou clara que a cerimônia não poderia ocorrer da forma planejada. "Quando os voos foram cancelados, percebi que a família não poderia mais vir e já avisei o bufê", conta. Faltava resolver a situação com o cartório. Os noivos estavam com a documentação, que tem validade de 90 dias, pronta. Se não se casassem até 13 de junho, precisariam dar entrada na papelada novamente. "O cartório me deu a opção: cancelar o casamento ou fazer por videoconferência.” Eliana e Célio optaram, então, pela segunda. "Não fiquei preocupada. Numa pandemia você não vai ficar estressada com um casamento. Tem gente morrendo, perdendo o pai, a mãe, o amor... Na vida, a gente tem que ter o plano A, o plano B, o alfabeto inteiro", diz ela.

Assim foi feito. Célio passou uma procuração para a irmã de Eliana. Na última quinta-feira (14/5), as duas — acompanhadas de duas testemunhas — foram ao cartório, onde uma juíza de paz, em videoconferência, celebrou a união. O noivo acompanhou tudo pela internet. Aqueles que seriam convidados para a cerimônia receberam as lembrancinhas em casa: uma caixa com máscaras, salgados, doces e um mapa que mostrava a distância entre o casal — com ilustrações do novo coronavírus separando os dois.
 
 

Nenhuma das dificuldades impostas pela pandemia foi capaz de tirar a alegria da noiva que, como médica, tem acompanhado de perto a crítica evolução da covid-19 no Brasil. "Eu tirei de boa. Para quem estava querendo fazer um monte de festa, três vestidos, não comprei nenhum. Fui com a roupa que eu tinha, porque está tudo fechado. O mais importante disso tudo é com quem você está. O mais importante é o amor mesmo", resume.
 
Lembrancinhas do casamento foram enviadas àqueles que seriam convidados 

Idas, vindas e Milagres

Recém-casados, Eliana e Célio se conhecem há 31 anos. Mineiro, ele morava no Distrito Federal e cursava medicina na Universidade de Brasília (UnB). Ela, alagoana, veio cumprir o internato hospitalar — período dos últimos anos do curso — no antigo Hospital Regional da Asa Sul (Hras), hoje Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib). "Ele era do meu grupinho (de amigos) e todo mundo sabia que a gente tinha uma afinidade, não descolava", recorda ela.

Após o fim do internato, a distância virou um empecilho. Apesar de boa aluna, Eliana não foi aprovada no concurso de residência no DF. Conseguiu passar em São Paulo. O então namorado foi aprovado nos dois, mas preferiu ficar na capital federal. Os dois mantiveram o relacionamento a distância por um tempo, mas acabaram optando por terminar. Mesmo com o término, seguiram amigos e mantiveram contato. Com o fim da residência, a médica voltou para Maceió, onde Célio, aliás, havia comprado uma casa de praia.

Casal que costumava se ver a cada 15 dias está há mais de dois meses sem se encontrar por conta do distanciamento socialAqui, o tempo virou inimigo do casal: os dois passaram 15 anos sem se falar. Eliana, porém, conversava com a família do ex-namorado, principalmente com uma irmã de Célio. Em 2017, a cunhada, Sandra, estava em viagem para a capital alagoana e a convidou para um almoço. A médica foi, sem saber, contudo, que reencontraria Célio — então com uma namorada, com a qual estava junto havia 13 anos.

Eliana crê que esse encontro casual foi crucial para o relacionamento dos dois. No ano seguinte, Célio lhe enviou uma mensagem dizendo que passaria três dias em Maceió e os dois combinaram um almoço. Na ocasião, ele contou que havia terminado o namoro. "Dali em diante, a gente não se soltou nunca mais."

Célio voltou para Minas — para onde havia se mudado — já com uma passagem para regressar a Alagoas. "Ele me disse que queria ir para algum lugar que ainda não conhecia. Falou em Foz de São Francisco, mas eu sugeri São Miguel dos Milagres. Quando chegamos na pousada, tinha um par de aliança usadas, não sei se alguém esqueceu ou se os donos deixavam lá. Ali, ele me disse que queria casar comigo, que queria ficar comigo para sempre", relata Eliana.

Saiba Mais

Por isso, além da cerimônia civil em Maceió e da religiosa em Bom Jesus da Penha, o casal celebraria o casamento com uma festa em Milagres, remarcada, agora, para 27 de fevereiro de 2021. Mas Eliana, que pretende mudar-se para Minas quando for possível, garante que estaria feliz mesmo se o evento não vier a acontecer.

"Se me disserem que não vai ter a festa de Milagres, tudo bem, não tem problema. Tô tirando de letra (a remarcação ou possível cancelamento), a gente está com saúde. É um tempo, uma fase. É uma festa que a gente deixou de fazer? A gente pode fazer. A gente não pode reclamar de tanta coisa. Hoje, soube de uma pessoa conhecida que faleceu em Fortaleza. É uma coisa tão menor que a gente não tem que reclamar, não. Tá com saúde, tá tudo bem", reflete a médica, que arremata: "Me casei com a pessoa que eu esperei, que era a pessoa que eu queria. Com ou sem festa, foi o casamento dos sonhos de qualquer forma".

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  • À direita, caixa com máscaras, salgados e doces. À esquerda, mapa em formato de coração apontando as cidades de Maceió e Bom Jesus da Penha
    À direita, caixa com máscaras, salgados e doces. À esquerda, mapa em formato de coração apontando as cidades de Maceió e Bom Jesus da Penha Foto: Arquivo Pessoal
  • Chamada de vídeo entre Célio e Eliana
    Chamada de vídeo entre Célio e Eliana Foto: Arquivo Pessoal

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