Cidades

Covid-19: Ceilândia e Sol Nascente lideram o trágico ranking das mortes

As duas regiões administrativas lideram o total de mortes pela covid-19 no Distrito Federal, com 15 óbitos somados. Em um mês e meio, o número de infectados saiu de três para 379 nessas cidades, que terão hospital de campanha e unidade reformada

Correio Braziliense
postado em 20/05/2020 05:58
Aglomeração em Ceilândia, uma das cidades mais vulneráveis do DF: taxa de 85,39 casos por 100 mil habitantesSomadas, as regiões administrativas de Ceilândia e Sol Nascente são as que mais registraram mortes em decorrência do novo coronavírus no Distrito Federal. Até o último boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde — que unifica os números das duas RAs — divulgado ontem, 15 pessoas não resistiram à covid-19 nesses locais. No total, 379 moradores dessas localidades foram contaminados, ou seja, são 85,39 casos para cada 100 mil habitantes. Águas Claras e Samambaia registraram, até agora, sete óbitos cada. Apesar de o Plano Piloto liderar o total de contaminações (515), houve uma morte na região.
 

 

Para enfrentar o avanço da doença em Ceilândia e no Sol Nascente — o número de infectados pulou de três, em 30 de março, para 379, ontem —, o Governo do Distrito Federal mobiliza-se para construção e reforma de dois hospitais para a população dessas áreas. Na última semana, o Executivo local divulgou que um hospital de campanha será construído na QNN 27 de Ceilândia, com 60 leitos. Haverá, ainda, uma segunda unidade de saúde, no Sol Nascente, fruto de um investimento da iniciativa privada.

Ontem, o Correio circulou pelas ruas dessas cidades e identificou aglomerações e pessoas que ainda não usam máscaras, item obrigatório na capital. O vendedor de calçados Ailton Oliveira, 42 anos, voltou ao trabalho na segunda-feira, após liberação desse setor do comércio, mas observou o descuido da população. “Vi muita gente sem cumprir o isolamento, sem máscara. É ruim, porque a gente tenta se cuidar, mas não podemos fazer por todos”, lamenta. Outra preocupação dele é com a forma com que os hospitais receberão os pacientes. “Não adianta ter hospital se não tiver médico para atender, como acontece muito em Ceilândia. Moro com a minha mãe, idosa, e me preocupo muito”, desabafa.

Morador do Sol Nascente, Manoel Sampaio, 37, diz que a prevenção deve ser cada vez mais ressaltada. “É necessário que as pessoas se conscientizem. Há muita festa na região onde moro, com pessoas se aglomerando, sem tomarem cuidados. Sem contar que bares e comércios, que deveriam estar fechados, funcionam normalmente. Falta fiscalização nesse sentido”, reclama.
 
Manoel Sampaio reclama de falta de fiscalização no Sol Nascente:  

A informação precisa é defendida por especialistas no combate ao coronavírus. Marli Sartori, infectologista do Hospital Santa Lúcia, lembra que vivemos um contexto novo, no qual é necessário construir conhecimento e hábito. “O uso da máscara, por exemplo, deve ser bem esclarecido. Manuseada de forma errada, ela pode ser um meio de contaminação, quando alguém leva a mão ao rosto para ajustar e pega fora do elástico, quando ela é jogada de qualquer forma no carro ou em casa e, depois, recolocada”, alerta. A médica reforça que a proteção deve ser trocada após 2h a 4h.

Pensando nas carências de quem mora em regiões afastadas do centro de Brasília, Max Maciel, integrante da Rede Urbana de Ações Socioculturais (Ruas), organiza projetos dentro do programa Fundo de Apoio às Periferias. “Temos uma frente que auxilia no processo de acesso ao fundo emergencial dos governos federal e local, com ações de entrega de cestas básicas e propostas para reduzir as desigualdades. Com o recurso que temos calculado, atendemos a 1,4 mil famílias, o que é pouco”, diz.
 
Para Max, é preciso entender os fatores que fazem Ceilândia ter um número elevado de casos da covid-19. “Primeiro, a dificuldade de ficar em casa, pois parte dos trabalhadores da região precisa da renda do dia do trabalho informal. A falta de acesso aos auxílios (do governo) e as características estruturais das periferias também são entraves. Temos 20% de Ceilândia sem acesso básico, casas com muita gente, que tornam a necessidade de se isolar mais difícil”, pontua.
 
Ailton Oliveira se diz preocupado com o avanço da doença:  

Vistoria
 
O frigorífico JBS doará R$ 11 milhões para o hospital do Sol Nascente. A empresa planeja reformar e mobiliar uma unidade existente, e iniciou os trabalhos de estudo com representantes do GDF, como adiantou o vice-governador Paco Britto. “Nesta semana, vamos até o local para realizar uma vistoria com uma equipe da JBS e da Secretaria de Saúde. Hoje (ontem) foi realizada uma reunião de videoconferência com pessoas envolvidas no projeto para fazer o planejamento. A ideia é ter um hospital que seja eficaz para o combate do coronavírus e fique para a população no futuro”, disse.

Paco Britto detalhou que a unidade deve contar com boa infraestrutura em curto tempo. “São 80 leitos de três níveis, comportando unidade de terapia intensiva (UTI), semi-intensiva e acomodação de apartamentos. A construção é rápida, pois os recursos da iniciativa privada estão aí. Então, ela deve ser entregue entre 45 e 60 dias, após o início das obras”, revelou.

O investimento da JBS faz parte de ações em todo o país para controlar o avanço da nova doença, como informou Joanita Karoleski, coordenadora do projeto Fazer o Bem Faz Bem, da empresa. “Serão destinados R$ 50 milhões para apoio à ciência, incentivando projetos pelo Brasil, porque os órgãos de pesquisa têm problema para conseguir esses recursos. No DF, pretendemos alcançar mais de 2,5 milhões de pessoas”, calculou. 
 
» Colaborou Caroline Cintra

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  • homem com máscara
    homem com máscara Foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press
  • Homem de máscara
    Homem de máscara Foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press

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