Cidades

Morre primeiro detento pela covid-19

Correio Braziliense
postado em 20/05/2020 04:07
Complexo Pentenciário da Papuda registra 551 internos e 98 policiais penais infectados pelo coronavírus

O Complexo Penitenciário da Papuda registrou a primeira morte de um detento por coronavírus. O homem, de 32 anos, estava na Penitenciária do Distrito Federal I (PDF I) e morreu ontem na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Regional da Asa Norte (Hran).

O interno deu entrada na unidade de saúde em 3 de maio, após apresentar agravamento no quadro clínico. Ele estava em um leito próximo de onde se encontrava o policial penal Francisco Pires de Souza, 45, que também faleceu por causa da covid-19 no último domingo. O servidor, morador de Santa Maria, trabalhava na PDF I e estava internado desde 28 de abril. Ele não tinha comorbidades.

A Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe) informou que o custodiado era soropositivo para HIV. “A Secretaria de Segurança Pública e a Sesipe lamentam o ocorrido. Desde que os primeiros casos de infecção pelo coronavírus foram detectados no Distrito Federal, as secretarias têm adotado uma série de medidas para resguardar reeducandos e policiais penais”, destacou a pasta.

Os médicos do Hran afirmaram ao Correio que há um detento na UTI do hospital. No entanto, as secretaria de Segurança Pública e de Saúde, não confirmaram a informação até o fechamento desta edição.
Impasses

Boletim divulgado ontem pela Secretaria de Saúde contabiliza 551 presos infectados pelo novo coronavírus. O Distrito Federal ocupa a primeira colocação com o maior número de detentos com a covid-19, em comparação aos estados brasileiros, segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen). Na capital federal, 98 policiais penais contraíram o vírus — quatro estão internados.

Na avaliação de Welliton Caixeta, professor de antropologia do direito e pesquisador do Grupo de Criminologia da Universidade de Brasília (UnB), a situação no sistema carcerário está caminhando para uma crise sanitária. “As medidas tomadas pelas autoridades locais têm sido tão cautelosas quanto tímidas, como se aguardassem uma intensificação da disseminação do vírus no sistema penitenciário para, só então, tomarem uma postura mais estratégica e assertiva diante do problema que está colocado e para o qual ainda não temos uma solução definitiva, no caso a cura para a doença”, argumenta.

A presidente da Associação Humanizando Presídios (Ahup), Mariana Rosa, questionou a falta de atenção do Estado com o cenário. “Os policiais penais estão me procurando e denunciando a falta de equipamentos, como máscaras, álcool, lixeira e pias para lavarem as mãos. Tememos uma possível rebelião dos presos, porque estão todos revoltados com a negligência do governo e a falta de atenção. Queremos pedir a assistência das autoridades para que todos os profissionais tenham os equipamentos necessários de proteção”, disse Mariana.

As medidas de prevenção adotadas pela Secretaria de Segurança Pública envolvem a desinfecção nas unidades prisionais, a suspensão das visitas familiares aos presos, a transferência de detentos infectados para os novos blocos dos Centros de Detenção Provisória (CDP), entre outras ações.


Duas perguntas para João Pitaluga, presidente da Associação Brasiliense de Medicina Legal (ABrML)

Como o senhor avalia o aumento dos casos no sistema carcerário?
A situação é muito preocupante, visto que a população carcerária é vulnerável por várias razões. A aglomeração nas penitenciárias é grande, propiciando um contato próximo e frequente entre os custodiados. Além disso, o ambiente dispõe de pouca ventilação, e o tamanho do complexo dificulta a sua higienização na frequência ideal. Infelizmente, todos esses fatores oportunizam o cenário perfeito para a disseminação do vírus.

Por que a disseminação do vírus na Papuda é um perigo? Quais as consequências?
Dentro da Papuda, existem custodiados com as mais diversas comorbidades. Além disso, o ambiente propicia a disseminação de outras doenças infectocontagiosas, como a tuberculose, por exemplo. Isso impõe a essas pessoas uma situação de risco maior do que a população geral. Hoje, ocorreu a primeira morte de um interno e, caso a situação não seja controlada, a possibilidade de novos óbitos é muito grande.

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