Cidades

DF pode chegar perto do limite de ocupação em leitos de UTI em uma semana

Previsão da Sala de Situação da UnB só vale caso as tendências atuais se mantenham

Projeção feita pela Sala de Situação da Universidade de Brasília (UnB) prevê que Distrito Federal estará em estado crítico daqui uma semana no que diz repeito à disponibilidade de leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs). De acordo com o Painel Covid-19 no Distrito Federal, mantido pelas secretarias de Saúde e de Segurança Pública do DF, até esta quinta-feira (21/5) havia 138 leitos de UTI ocupados, o que equivale a 43% das hospitalizações registradas por coronavírus.

A Sala foi criada em 2017, a partir de projeto de extensão da Faculdade de Saúde. Tem o objetivo de apoiar no monitoramento, análise e definição de ações em saúde junto aos estudantes e gestores em saúde na tomada de decisão.


Segundo Mauro Niskier Sanchez, professor do Departamento de Saúde Coletiva da UnB e integrante da Sala de Situação, é difícil projetar exatamente uma data para atingir a capacidade limite de leitos em UTI, porque não é possível saber quando será a próxima internação por covid-19 no DF nem se ela será feita em rede pública ou privada. Mas o marco considerado no gráfico em questão, de 150 leitos ocupados, já serviria como alerta às autoridades públicas. De acordo com as projeções da Sala de Situação da UnB, em 24 de maio o número já poderá ser superior a 150.

O cientista afirma que aproximadamente daqui a uma semana vamos chegar próximo à capacidade limite, se continuar com uma taxa de ocupação mínima por outras causas de 25%; a tendência atual se mantiver; e o número de leitos habilitados não aumentar. O dado analisado é o do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde.

Abertura do comércio

Outro ponto é o aumento da propagação de casos. Segundo Sanchez, uma boa forma de ver isso é analisar o tempo de duplicação de casos no DF. Em março, 10 dias após o decreto do governador que estabeleceu o isolamento social, o número de casos de Covid-19 dobrava a cada um dia e meio. Este número já chegou a 16,58 entre 11 e 20 de abril, segundo os dados levantados pelos pesquisadores da UnB.

Isso significa que levava 16 dias e meio para o total de casos registrados no DF duplicar. Porém, no último dia 18 de maio, quando o Distrito Federal liberou as atividades de comércio para lojas de roupas, calçados, extintores e serviços de corte e costura, os cálculos da equipe mostravam que a estimativa já havia caído para 10 dias. Em 19 de maio, registrou nova queda no gráfico: 9,83.


Neste gráfico, quanto mais alta a curva, melhor, pois isso significa que demora mais tempo para dobrar o número de casos de coronavírus.

Idade

A Sala de Situação observou também que, no Brasil, o novo coronavírus tem alta incidência entre jovens. Um dos principais motivos é que, diferentemente dos países da Europa, onde a sociedade tem grande número de pessoas mais velhas, aqui os jovens são maioria. Outro ponto é que esse público de até 59 anos não está cumprindo adequadamente o isolamento social recomendado pelo governo.

Embora a quantidade de infectados pelo novo coronavírus no DF seja alta entre indivíduos nas faixas entre 30 e 39 anos e 40 a 49 anos – 1.303 e 1.006, respectivamente, conforme consulta realizada em 19 de maio à Sala de Situação da UnB –, a taxa mais alta de letalidade devido à covid-19 incide sobre o grupo dos idosos. O número de óbitos chega a ser mais de seis vezes superior entre pessoas com 80 anos ou mais na comparação com jovens de 30 a 49 anos.


Sanchez destaca que, apesar de terem mais jovens infectados, os idosos continuam morrendo mais.

Subnotificação

Para outro grupo de cientistas do qual Sanchez faz parte, o número de casos no DF, na verdade, é quase cinco vezes maior. Este grupo independente, chamado Covid-19 Brasil, é formado por pesquisadores da UnB e de diversas universidades, inclusive do exterior. Para as medições, o grupo utiliza dados da Coreia do Sul como referência, pois este país realiza testes em massa, o que significa que tem uma taxa de fatalidade mais fidedigna. O grupo faz ajustes necessários para a realidade brasileira.

As estimativas são calculadas a cada 10 dias, visto que os testes aqui têm sido realizados já em processo de agravamento da doença e não nos sintomas iniciais. Sendo assim, os dados na página sempre estimam o que deve ter ocorrido 10 dias antes para que o número chegasse ao patamar que chegou.
 

Segundo o gráfico, no Distrito Federal, o número de casos confirmados pela Secretaria de Saúde em 9 de maio foi de aproximadamente 2,5 mil. No entanto, pelos cálculos do grupo Covid-19 Brasil, nessa mesma data o número real seria de 8.380 casos positivos, quase quatro vezes mais. A tendência, seguindo essa mesma linha de raciocínio, seria a de que, em 19 de maio, os números reais chegassem a mais de 12 mil casos.

Em nível nacional, os números de subnotificações também se mostram altos. Nas mesmas datas mencionadas acima: em 9 de maio, havia cerca de 150 mil casos confirmados de Covid-19, mas as estimativas calculam que havia mais de 1,6 milhão de brasileiros com a doença. A projeção do grupo de pesquisadores, portanto, é a de que o país tenha, na realidade, mais de 3 milhões e 300 mil casos de infectados pelo vírus em 19 de maio, número mais de 12 vezes superior aos 271.628 casos registrados pelo Ministério da Saúde.


Para o professor da Universidade de Brasília Mauro Sanchez, há duas possíveis soluções para minimizar o quadro de pessoas com o novo coronavírus: ampliar a oferta de leitos e seguir com políticas de proteção social para o grupo mais vulnerável.

Fonte: Sala de Situação/UnB -
Fonte: Sala de Situação/UnB -
Fonte: Sala de Situação/UnB -
Fonte: Covid-19 Brasil -
Fonte: Covid-19 Brasil -
Arquivo pessoal -