Cidades

Covid-19: Desemprego cresce no Distrito Federal e atinge 333 mil moradores

Mulheres, pessoas de 16 a 24 anos e negros estão entre os mais afetados

Correio Braziliense
postado em 22/05/2020 06:00
Ruth Ferreira perdeu o emprego em março, 40 dias após ser contratadaA taxa de desemprego total do Distrito Federal aumentou no último mês, chegando a 20,7% e alcançando cerca de 333 mil moradores da capital. O número é 0,9% maior do que o do mesmo período do ano passado, quando havia 320 mil pessoas desempregadas na capital. Moradores de regiões de baixa renda foram os mais afetados. Em cidades como Fercal, Itapoã, Paranoá, Recanto das Emas, SCIA/Estrutural e Varjão, a desocupação passou de 25,8% para 30,1%, entre abril de 2019 e abril de 2020. Para efeito de comparação, cidades de média e alta renda viram o índice de desemprego nesse mesmo período cair de 17,5% para 15,8%. Mulheres, pessoas de 16 a 24 anos e negros estão entre os mais afetados.

Os dados são da Pesquisa de Emprego e Desemprego, divulgada ontem pela Companhia de Planejamento (Codeplan), em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Foram feitas entrevistas por telefone, que alcançaram cerca de 3 mil domicílios do DF. As coletas anteriores eram presenciais, mas os órgãos mudaram a metodologia por conta das recomendações de distanciamento social. Durante apresentação do estudo, Jean Lima, presidente da Codeplan, explicou que a pesquisa ainda não reflete de forma completa os impactos do fechamento do comércio. “Em junho, vamos ter um retrato mais fiel dos danos da covid-19 no mercado, porque aí teremos análises de abril, maio e junho”, detalhou. 

A crise econômica provocada pelo novo coronavírus começou a gerar cortes significativos para muitas pessoas. Ruth Ferreira, 38 anos, ficou desempregada no fim de março. “Eu tinha sido contratada havia 40 dias para trabalhar com vendas. Mas a empresa passou por muita dificuldade financeira e precisou cortar todos os contratos recentes”, lamentou. Outra preocupação é ficar sem renda em um momento sensível como esse, em que as novas contratações são raras. “Enviei muitos currículos, mas a maioria das empresas retorna dizendo que suspendeu a seleção de pessoas recentemente. Preciso dessa fonte de renda, tenho filhos que dependem de mim, e está difícil. Fiz o cadastro no auxílio do governo, mas foi negado dizendo que eu tinha emprego formal”, relata.

Segmentos


O desemprego das mulheres teve registros superiores aos dos homens. Houve um aumento de desocupação de 21,9% para 23,6% entre elas, e de 17,8% para 17,9% entre eles, de abril de 2019 a abril de 2020. Quem não tem vasta experiência no mercado também sofreu mais com as demissões. O desemprego subiu de 44,4% para 47,2% entre as pessoas de 16 a 24 anos. No levantamento de raça/cor, houve um aumento de desemprego de 21,4% para 23,6% entre negros, e uma redução de 16,4% para 15% entre não negros. O número de trabalhadores autônomos cresceu 11,1%, enquanto houve redução de 7,8% do assalariamento com carteira de trabalho assinada no setor privado. 

Jecimar Gomes, 38, foi um dos que perderam emprego recentemente. Garçom do setor hoteleiro, ele viu o segmento entrar em crise e demitir várias pessoas. O Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (Sindhobar) estima 4 mil dispensas durante os primeiros meses da pandemia. “Muitos funcionários passaram por isso. Garçons, recepcionistas, auxiliares de serviços gerais e camareiros. É um setor que sofreu muito. Mas percebi que teve muita gente com salário alto que não foi afetada”, observa. Durante o período em que trabalhava, Jecimar chegou a se formar em recursos humanos, mas ainda procura a primeira oportunidade. “Fiz o curso no desejo de crescer profissionalmente. Consegui essa conquista, mas agora vejo a dificuldade de entrar na área sem experiência. Como garçom, também não é fácil, porque os restaurantes estão fazendo só entregas, e acredito que os hotéis só vão voltar a ter o movimento de antes no ano que vem”, estima. 

Thales Mendes, secretário do Trabalho, afirmou que o governo vem trabalhando para lidar com o cenário da melhor forma possível, e que pesquisas como essa são norteadoras de projetos. “Recebemos os números com preocupação, mas com entusiasmo para realizar ações que vão minimizar esses problemas. É importante analisar para saber que rumo vamos tomar. Observamos o público mais afetado e vamos reforçar as políticas públicas para que essas pessoas tenham oportunidades de entrar no mercado de forma qualificada”, disse. A Secretaria de Trabalho estuda a criação de uma série de programas de qualificação profissional, principalmente com o incentivo ao empreendedorismo, contando com abertura de créditos facilitados e flexibilização de taxas de juros.

Três perguntas para Tatiane Macedo, analista da Véli RH


Há uma situação atípica hoje no mercado, provocada pela pandemia do novo coronavírus. Mesmo com essa crise, é possível conseguir uma vaga de emprego hoje? Quais estratégias uma pessoa desempregada pode usar para conseguir?
Sim, é possível conseguir uma recolocação neste momento, embora algumas empresas tenham optado por demissões. Em contrapartida, algumas organizações estão aproveitando o momento para arrumar a casa, fazer processos seletivos mais minuciosos e preparar-se para quando as coisas voltarem ao normal. É um bom momento para disponibilizar o currículo em plataformas de emprego, como LinkedIn, sendo de suma importância que o currículo esteja atualizado e munido de palavras-chave, pois a prospecção ocorre por meio destas palavras. Além disso, é importante que o candidato coloque o máximo de informações ao relatar suas atribuições passadas, fazendo assim com que o recrutador tenha vontade de ler e saber mais sobre as habilidades.

A maior parte dos desempregados do DF tem até 24 anos e sente dificuldades por não ter experiências. Como usar esse período de quarentena para adquirir conhecimentos bons para o mercado?
Realizar cursos on-line tem sido a melhor maneira de qualificação nesse momento. Participar de cursos rápidos pertinentes à área do candidato, além de agregar conhecimento, acaba gerando networking e, consequentemente, mais chances de inserção no mercado de trabalho.

Neste período de muitos contatos virtuais, quais as dicas para que os desempregados utilizem bem as redes sociais e saibam se portar em entrevistas por vídeo?
Nas redes, primeiramente, procure certificar-se de postar informações verídicas. Cuidado ao fazer postagens disponibilizando seu currículo profissional. O modo como você se expressa pode ter influência negativa para quem vê o currículo. Procure estabelecer conexão com recrutadores, hunters e empresas onde deseja trabalhar. Quando for selecionado para uma entrevista via chamada de vídeo, é importante que o candidato faça o mesmo ritual de uma entrevista presencial, a começar pela vestimenta adequada, atentar-se à apresentação pessoal, estar em um local adequado, sem barulhos, não levantar e ficar caminhando durante a entrevista, escolher um local onde possa apoiar o telefone ou computador e ter pontualidade no horário marcado.

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